O presidente Jair Bolsonaro (PL) se encontrou com Pedro Cesar Sousa, Subchefe para Assuntos Jurídicos da Secretaria-Geral da Presidência da República na Base Aérea de Brasília horas antes de embarcar em viagem para os Estados Unidos, no dia 8 de junho. O encontro aconteceu às vésperas da suposta ligação de Bolsonaro para o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, na qual o presidente o teria alertado sobre a operação da Polícia Federal que resultou na prisão do ex-ministro (ouça o áudio abaixo).
De acordo com a agenda do presidente, a reunião com Pedro Cesar aconteceu na Base Aérea de Brasília, minutos após Bolsonaro chegar de um voo vindo do Rio de Janeiro, onde havia se encontrado com empresários. O encontro com o servidor foi o último compromisso da agenda oficial de Bolsonaro naquele dia.
Em ligação realizada no dia 9 de junho, interceptada pela Polícia Federal, no âmbito da operação Acesso Pago, que investiga suspeita de corrupção no Ministério da Educação e Cultura (MEC), o ex-ministro da Educação disse à sua filha que havia conversado com o presidente – que estava em viagem nos Estados Unidos – e que Bolsonaro o teria alertado sobre uma possível operação de busca e apreensão.
![Pedro Cesar Sousa](https://www.cnnbrasil.com.br/wp-content/uploads/sites/12/2022/06/pedrocesar.jpg?w=429)
“Ele acha que vão fazer uma busca e apreensão…em casa… sabe… é… é muito triste. Bom! Isso pode acontecer, né? se houver indícios né…”, disse Milton na conversa interceptada com autorização judicial.
Pedro Cesar é advogado, especializado em direito cível e administrativo. Ele trabalhou por quase 20 anos na Polícia Militar do Distrito Federal, antes de se tornar assessor parlamentar do então Deputado, Jair Bolsonaro, em 2017, cargo que ocupou até 2019, quando foi para a Secretaria Geral da Presidência.
Levantamento feito pela CNN aponta que ao longo de 2022 Bolsonaro se encontrou 59 vezes com Pedro Cesar e que a maior parte das reuniões aconteceu no Palácio do Planalto, sendo que em apenas mais uma ocasião houve a reunião na Base Aérea de Brasília. Em 28 de março, dia em que Ribeiro deixou o Ministério, o presidente e Pedro se reuniram três vezes. Em nenhum outro dia houve tantas reuniões entre o chefe do executivo e o servidor.
A CNN também apurou que o presidente esteve com o ministro da Justiça, Anderson Torres, no dia em que Ribeiro teria conversado com o presidente. A Polícia Federal é subordinada à pasta de Torres.
Procurado para saber se houve interferência na PF ou se alertou o ministro sobre eventual mandado de busca e apreensão, o Planalto não se manifestou. Nesta sexta-feira (24), o advogado Frederick Wassef, que defende a família do presidente, disse que Bolsonaro “não tem nenhum contato e nunca mais falou com o ex-ministro [Milton Ribeiro]”.
“O presidente Bolsonaro não tem nenhum contato com o ex-ministro da educação, portanto, se for verdade, se apurarem que o que ele está falando realmente ele disse, porque eu não sei, eu não tenho acesso”, disse.
O defensor ainda negou qualquer interferência do presidente na PF. “Eu quero deixar claro o seguinte, o presidente Bolsonaro não interferiu, não age, nada tem que ver e está absolutamente distante do ex-ministro e de todos os demais investigados”, afirmou.
Wassef ainda disse que “se o ex-ministro usou o nome do presidente Bolsonaro, usou sem o seu conhecimento, sem sua autorização, ele que responda. Compete ao ex-ministro se explicar sobre o que ele fala”.
Cronologia do caso
6 a 8 de junho: Polícia Federal formula à Justiça o pedido de prisão e busca e apreensão contra o Milton Ribeiro e outros acusados
8 de junho: Bolsonaro se encontra com Pedro Cesar Sousa, Subchefe para Assuntos Jurídicos da Secretaria Geral da Presidência da República, antes de embarcar para os Estados Unidos
8 a 12 de junho: Bolsonaro e comitiva presidencial (inclusive o ministro da Justiça, Anderson Torres) participam de viagem aos EUA, onde participaram da Cúpula das Américas. Eles saem do Brasil no dia 8 às 22h30 e voltam no dia 12 à 0h10
9 de junho: ligação do Milton Ribeiro à filha quando ele diz que “hoje” conversou com o presidente Bolsonaro e foi avisado sobre o “pressentimento” a respeito de uma busca e apreensão
14 de junho: MPF se manifesta sendo contra a prisão e a favor de outras medidas
20 de junho: decisão do juiz pela prisão e busca e apreensão
22 de junho: ex-ministro Milton Ribeiro, os pastores Gilmar e Arilton e outras duas pessoas são presas pela PF
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