Isa
Jane Marcondes não esconde de ninguém como ganha a vida. Ela é dona do mais badalado
bordel de Dourados. No ano passado, Isa foi candidata à vereadora e durante a
campanha deixou bem claro seu ramo de negócio. Fez campanha atirando contra
políticos tradicionais, pediu voto dos assíduos clientes de sua “casa noturna”,
mas passou longe de ser eleita. Ela recebeu 467 votos.
Quase
todo mundo em Dourados já sabe que Isa não tem “papas na língua” e demonstra
extrema coragem para defender suas convicções.
O
que ninguém esperava é que quatro meses depois da eleição ela fosse se tornar “heroína”
do comércio, o setor mais tradicional da maior cidade do interior de Mato Grosso
do Sul.
Nesta
semana, diante do silêncio e até mesmo da omissão de velhas entidades que se intitulam
representantes dos comerciantes, Isa Jane Marcondes tomou a frente dos
protestos em defesa da reabertura das lojas, dos bares, e também dos bordéis da
cidade.
Por
mais que muitos empresários torçam o nariz, não há como negar: Isa Marcondes liderou
as manifestações, principalmente na noite de segunda-feira, em frente à casa do
prefeito Alan Guedes (PP).
Diante
do grupo de comerciantes (vestidos de verde e amarelo e enrolados na bandeira
do Brasil), Isa tomou a palavra, ligou para o celular do prefeito e agendou a
reunião para a manhã do dia seguinte.
Minutos
depois, a empresária da noite postou vídeo em rede social, convocando todos os
comerciantes da cidade para irem para a frente da prefeitura na terça-feira
cedo. Isa também fez parte da comissão de quatro pessoas que conversou com Alan
Guedes e ouviu do chefe do Executivo que o comércio seria reaberto na segunda,
dia 5, se o decreto estadual não fosse renovado.
Em silêncio
O
“minuto de fama” de Isa Marcondes, a lacradora das redes sociais nesta semana, foi
ajudado pelo silêncio da Aced (Associação Comercial e Empresarial de Dourados),
da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) e do Sindicom (sindicato dos patrões do
comércio).
Até
esta tarde não havia nenhuma manifestação pública dessas entidades sobre a campanha
dos comerciantes pela reabertura do comércio, fechado por decretos estadual e
municipal como forma de conter a contaminação pela covid-19.
Nesta
quarta-feira, o Dourados Informa questionou a Aced e a CDL se iriam se
manifestar sobre os protestos.
Por
meio da assessoria, a Aced informou que sempre foi a favor do comércio
douradense, desde o início da pandemia. “Temos trabalhado constantemente com
representantes dos governos municipal e estadual, além da Faems, para que isso
ocorra”.
Segue
a nota envida ao Dourados Informa: “infelizmente,
pela não conscientização da população, o comércio precisou pagar um preço alto
nesta semana. A manifestação ocorreu de forma equivocada e em locais errados. O
gestor municipal apenas acatou o decreto estadual, como foi recomendado pelo
Ministério Público Estadual. Somos a favor da flexibilização de horário!”. Caso
a CDL se manifeste, a posição será incluída neste texto.
Na Câmara
Na
segunda-feira, a diretoria executiva da Aced se reuniu com o presidente da
Câmara de Vereadores, Laudir Munaretto (MDB), para, segundo a assessoria, “alinhar
encaminhamentos legais em benefício do comércio douradense”. Medidas como a
flexibilização e o enquadramento de diversas atividades a serem consideradas
como serviços essenciais, foram abordadas na reunião, diz nota da assessoria.
“Na
oportunidade, também foram discutidas formalidades que possibilitariam dar
maior tranquilidade e segurança em futuros decretos governamentais, uma vez que
o consenso ainda é que o comércio não pode ser considerado o único vilão que
assola a pandemia da covid-19, pois desde o início, todos os cuidados foram
tidos com as normas de biossegurança e orientações dadas pela equipe técnica do
Sebrae em visitas as empresas de nossa cidade”, afirma a assessoria da Aced.
A
entidade continua: “Também foram ratificadas as solicitações das entidades
co-irmãs após diversas reuniões, para que o município também acompanhe os
Governos Estadual e Federal em prorrogação e parcelamento dos vencimentos de
impostos e taxas conforme solicitações da Confederação das Associações
Comerciais do Brasil e Associações Empresariais do Estado de Mato Grosso do Sul”.
Para
o presidente da Aced Nilson Santos, esta é a melhor oportunidade para legalizar
o funcionamento de empresas e não serem surpreendidas por eventuais decretos
que surjam em qualquer adversidade. Entretanto, não houve qualquer menção aos
protestos.
*Matéria alterada às 17h02 para acréscimo da nota da Aced.