Nícolas, Sub-9, e João Gabriel, Sub-11, simbolizam o empenho de crianças e adolescentes em busca do sonho no futebol
O sonho não acabou, só está começando. É assim, mesmo em uma terra onde a cultura do futebol vem se perdendo ao longo das últimas três décadas, levando clubes tradicionais como o Operário e o Comercial à beira da extinção, diariamente crianças e adolescentes de Campo Grande e região buscam descobrir ou desenvolver suas habilidades com a bola nos pés em um projeto, deles ou dos pais, para fazer carreira futebolística e brilhar nos estádios e arenas mundo a fora.
Sem nenhuma referência dos clubes profissionais locais, o caminho de pais e filhos são as escolinhas de futebol, como a Chute Inicial Corinthians Funlec, unidade licenciada do clube paulista em parceria com a Fundação Lowtons de Educação e Cultura, que funciona de segunda-feira à sexta-feira no Cedesc (Centro de Desenvolvimento Social e Cultural), no bairro Jardim Veraneio, região norte de Campo Grande.
“No passado havia a várzea, as peladas de rua, mas agora a escolinha é onde a molecada vem aprender os fundamentos do futebol, desenvolver a coordenação motora, o trabalho em equipe e o espírito de competição”, afirma Paulo Brito, de 29 anos, professor da unidade de Campo Grande.
O professor Paulo Brito fez o mesmo caminho dos seus comandados até encerrar a carreira por problemas de contusão (Foto: Laís Suzano)
Paulo Brito é filho do ex-jogador Altimar, craque do Palmeiras, Bahia e Operário de Campo Grande nas décadas de 1970 e 1980, também passou por escolinhas de futebol e chegou a virar jogador profissional, mas teve de parar de jogar por conta de seguidas contusões de joelho.
“Também sonhei ser jogador e fiz exatamente esse caminho até decidir interromper minha carreira. Agora, além de fundamentos também passo minha experiência para a gurizada”, disse Paulo Brito, que trabalha ao lado do pai.
Como os sonhadores em questão são crianças e adolescentes, Paulo Brito conta que não é possível afirmar que todos os seus alunos realmente querem virar jogador, menos ainda se vão se tornar craques do principal esporte do país, mas alguns dão sinais de certeza do caminho escolhido.
É o caso do Nícolas, Sub-9, e João Gabriel, Sub-11, dois meninos que toda segunda-feira e quinta-feira encaram os 145,3 km de ida e de volta entre Camapuã, a cidade onde moram, e Campo Grande, para treinar na escola de futebol. Na soma, são 581 km de estrada que ambos percorrem semanalmente em busca do sonho de jogar futebol profissionalmente. Um deles, o Nícolas, já está sendo monitorado pelo Internacional de Porto Alegre.
Darley e Whilker moram em Indubrasil e duas vezes por semana viajam 53,6 km para treinar na Capital (Foto: @chuteinicial.corinthiansfunlec)
No quesito determinação e perseverança, além dos meninos de Camapuã, a unidade campo-grandense ainda tem o Darley Lopes, Sub-15, e o Whilker Costa, Sub-17, que moram no distrito de Indubrasil, e duas vezes por semana fazem o percurso de 53,6 km ida e volta para treinar no complexo esportivo da Funlec. “O mais difícil é atravessar a cidade de Campo Grande. Quando entra na rodovia é mais tranquilo”, comentou Whilker.
Lançada pela Funlec no dia 14 de setembro em evento com a presença de dois ídolos eternos dos corintianos, o ex-lateral-esquerdo Wladimir e o ex-volante Biro-Biro, a escola de futebol Chute Inicial Corinthians Funlec iniciou suas atividades no dia 7 de outubro. Pouco mais de um mês depois já trabalha com 70 alunos nas categorias Sub-5, Sub-7, Sub-9, Sub-11, Sub-13, Sub-15 e Sub-17 em aulas à noite, sempre a partir das 18h30.
Meninos do Chute Inicial Corinthians em jogo diante do Projeto Social Bola No Pé Sem Celular na Mão (Foto: Laís Suzano)
Ana Paula Lemes Lechner, 11 anos, é atacante e joga com desenvoltura entre os meninos (Foto: Laís Suzano)
Não é só meninos – O projeto é aberto também para o público feminino, mas parece que o sucesso de audiência televisiva da última Copa do Mundo de Futebol Feminino, disputada entre junho e julho deste ano na França, não mexeu com as campo-grandenses.
Por enquanto, Ana Paula Lemes Lechner, de 11 anos, segue como a estrela solitária e treina e joga entre os meninos. “A Ana manda muito bem”, atesta o treinador Paulo Brito. Não por acaso ela foi a capitã do time Sub-11 no primeiro Festival Chute Inicial, realizado no dia 23 de novembro, em Campo Grande.
A sonhada avaliação – Por força de contrato o Corinthians tem prioridade sobre os meninos que se destacarem nas unidades. O lube faz acompanhamento das atividades, incluindo a aplicação da sua metodologia por meio de um software exclusivo que conecta o trabalho dos professores e alunos com a matriz em São Paulo.
O acordo firmado com as unidades licenciadas inclui várias ações de aproximação, e uma delas é a avaliação exclusiva dos alunos por treinadores da Base no Parque São Jorge, em São Paulo, e isso é um grande diferencial, considerando que na era da Lei Pelé é quase impossível um jovem talento conseguir entrar em um grande clube para ser avaliado, a menos que já tenha assessoramento de um empresário influente.
Garotos do Sub-7, a fase em que o futebol é mais diversão do que sonhos de carreira profissional (Foto: Laís Suzano)
Outras ações também chamam a atenção da garotada, como a “visita a Arena Corinthians em dia de jogo”, a “visita técnica a arena”, que inclui treinar na sala de aquecimento do estádio, e a “visita ao CT Joaquim Grava em dia de treino do time profissional”, mas seguramente a “avaliação” é a que mais exige da preparação de todos.
Uma postagem da unidade Chute Inicial Litoral (Santos-SP) em rede social, após levar seus alunos para ação de avaliação dos treinadores da base do Corinthians, resume bem o que isso significa para a garotada e também para os pais em termos de oportunidade na comparação com escolas de futebol sem vinculação direta com nenhum clube. A intenção é levar a primeira delegação de alunos a São Paulo na segunda quinzena de abril.
Fonte: Campo Grande News