O empresário douradense Valdir Machado, 58 anos, morreu por volta do meio dia desta sexta-feira (12), em sua fazenda no município de Bela Vista. Ele teria passado mal na propriedade rural, socorrido a uma unidade de saúde, mas não resistiu a um Acidente Vascular Cerebral – AVC.

Valdir Machado era natural de Caarapó, mas morava em Dourados desde os 2 anos. Era casado com Glaciara, com quem tinha a filha de Julia. Ele teve outros filhos de casamento anterior.

Em Dezembro de 2018, o empresário (proprietário da Dourador Publicidade) foi um dos enfocados no especial de 50 anos da Folha de Dourados “Escrevendo nossa história”, cuja matéria foi escrita pelo jornalista Waldemar Gonçalves Russo.

Morre aos 58 anos o empresário Valdir Machado

Já no final do ano passado, ele concedeu a seguinte entrevista à jornalista Mariana Rocha, cuja matéria seria tornada pública no próximo dia 25 de abril, no lançamento do livro “Minha História em Dourados”, produzido pela Folha de Dourados e agência 2Mil Publicidade:

Valdir da Silva Machado

Por Mariana Rocha

Minha mãe, Generosa da Silva Machado, me trouxe ao mundo no dia 15 de maio de 1965. Na época, meu registro civil foi consumado no “Vale da Esperança”, como carinhosamente chamamos o município de Caarapó, no entanto, vim para Dourados com menos de dois anos e por isso, me considero um douradense, praticamente, nato. Outra curiosidade que cabe dizer logo de imediato é que sou torcedor orgulhoso da Sociedade Esportiva Palmeiras.

Acredito que eu nasci numa porção muito próxima da cidade de Dourados, isso porque meu pai, Francisco da Costa Machado, trabalhava em uma fazenda entre Caarapó e Dourados, naquela época, talvez tenha sido mais fácil me registrar lá.  Cresci em Dourados, quando a Avenida Marcelino Pires não era toda asfaltada, estudei na Escola Municipal Joaquim Murtinho e na Escola Estadual Antônia da Silveira Capilé.

Minha família era muito humilde e ver tudo o que construí, me orgulha, porque a caminhada para chegar até aqui não foi fácil, já fui engraxate, limpei chão, fui vendedor de loja de material de construção, investi muito no esporte, passei por importantes veículos de comunicação locais, ganhei prestígio e respeito na cidade de Dourados.

Apesar dos políticos da cidade não serem, necessariamente, o que Dourados precisava ao longo de sua linda história, ela se desenvolveu com a força do empresariado, seja no comércio, seja na agricultura e pecuária.

Diário MS, Rádio Clube, Copa Kaiser e Equipe Boa de Bola 

A minha história em Dourados se confunde com a paixão pelo esporte amador, uma paixão que vai além dos campos e das competições, posso afirmar com convicção que o futebol amador, alimentou histórias fascinantes dentro da nossa cidade, além disso, rivalidades, como a eterna disputa entre Dourados e Campo Grande, viradas emocionantes e as façanhas mais improváveis.

Para organizar o pensamento e também relembrar pedaços da história de Dourados nestes seus 88 anos, me lembro de quando comecei a trabalhar no Diário MS. Poucos sabem, mas o Diário MS já foi Diário do Povo, e este último, por sua vez, nasceu a partir da fusão de três semanários: Panfleto, O Zangão e Jornal do Vale.

Eu era diretor comercial no Diário MS e também me aventurava em uma coluna esportiva semanal, fui aprendendo na prática a lidar com pessoas, a mostrar a importância do investimento em publicidade e ao mesmo tempo, apoiava o futebol amador de Dourados.

Uma memória importante para mim e para história de Dourados foram as edições da Copa Kaiser, campeonato que reunia as principais equipes de Mato Grosso do Sul, onde, sem dúvida, o nível técnico e disciplinar era maior do que no campeonato estadual de futebol.

Fui coordenador da Copa Kaiser por 5 anos e essa experiência foi muito importante, na medida em que conheci muita gente, aprendi a liderar competições esportivas e deixei, junto com muitas pessoas, um legado para a história da nossa cidade.

A Copa Kaiser possuía etapas locais e nos finais de ano, a grande disputa ficava na edição da Copa Kaiser estadual. A maior rivalidade ficava sempre a cargo de Dourados x Campo Grande e pode parecer clubismo, mas Dourados sempre mostrou superioridade em relação aos times da capital.

Na atualidade, me causa uma certa tristeza, ver um cenário de futebol amador diminuído em Dourados. Me lembro que os jogos da Copa Kaiser mobilizaram centenas de pessoas, de todas as idades e ascendia o pertencimento naqueles e naquelas que torciam pelos times de suas cidades.

O tempo passou e toda essa experiência me levou para a Rádio Clube de Dourados, onde passei a comandar um time com os melhores comunicadores a qual chamávamos de “Equipe Boa de Bola”, com Lourival Pereira, Fábio Dorta, Daniel Santos, Oswaldinho Duarte, Ipojucan Ferreira, Eusébio Martins, Roberto Sanabria, Roberto Miranda, Santiago Franco, Tata Cavalcanti, Soares Filho e Adão de Mattos.

Na Rádio Clube, a Equipe Bons de Bola transmitiu uma infinidade de jogos, locais, estaduais, municipais e até mesmo nacionais. Uma grande memória que levo comigo, é a do amistoso entre Brasil e Paraguai, em 27 de fevereiro de 1991 no Estádio Pedro Pedrossian.


Transmitimos o amistoso pela Rádio Clube e pudemos conhecer grandes nomes como Galvão Bueno e Vanderlei Luxemburgo. Com um gol de pênalti de Charles do Brasil e outro gol de Jorge Guasch, o amistoso rendeu um público de 50.000 pagantes e apesar do empate, certamente, foi um dia memorável.

Douradoor, Bacuri do Apa, Fazenda Boa Sorte

Trabalhando anos em jornal, passando por rádios, percebi que os clientes procuravam muito por mídia Outdoor e Dourados não tinha quem absorvesse essa demanda, então, iniciei meu negócio como uma parceria, um tempo depois, passei a tocar o negócio ao lado da minha esposa, companheira e amiga, Glaciara Chucarro Machado.

Então, lá se vão 26 anos de empresa, nos quais expandimos significativamente pelo Mato Grosso do Sul, alcançando cerca de 300 placas de Outdoor espalhadas pela região. 

Nesta toada de desenvolvimento não só de Dourados, mas de todo o estado, uni meus investimentos ao campo, na verdade, sempre gostei de ficar perto do mato e dos rios, mas por volta do início dos anos 2000 comprei uma propriedade rural no município de Caracol, onde construí e toquei por 12 anos o Hotel Pesqueiro Bacuri do Apa – eram cerca de 480 hectares.

Uma década depois de me dedicar ao pesqueiro, colhi inúmeros frutos, prosperei e conheci minha atual esposa por lá. Foi então que decidi expandir um pouco mais, para de fato, entrar para o ramo da pecuária. Então, em agosto de 2010, coloquei o pesqueiro no negócio, alguns imóveis que eu possuía em Dourados e comprei a Fazenda Boa Sorte, no distrito do Alto Caracol, a 90 km da cidade de Bonito, saí de 480 hectares para 1442 hectares.

Na Fazenda Boa Sorte eu trabalho com vacas de cria e recria, uma modalidade muito atraente dentro do mercado da pecuária, mas chegar ao alto padrão que conquistamos não foi fácil então é com muito orgulho que atualmente, possuímos 800 vacas.

Família, Fé e Futuro

Ao lado de Glaciara, fiz ótimas escolhas, tivemos nossa filha Júlia, que atualmente trilha seus passos no curso de Odontologia, nos mantivemos fortes para crescer. Foi ao lado da minha companheira que conheci a fé evangélica neopentecostal, me converti em uma congregação da Igreja Sara Nossa Terra e depois, há cerca de 15 anos, passei a congregar junto da minha família na Igreja Presbiteriana Independente de Dourados – IPID

Para o futuro, espero que nossa Dourados seja tratada com a grandiosidade que merece, seja no esporte, seja na política e que enfim, tenha um aeroporto digno, pois até hoje, o que assistimos são mandatários brigando pela paternidade da obra. Desde os tempos de Braz Melo, não assistimos um gestor municipal à altura e é preciso.

Por fim, espero que o esporte conquiste o mesmo prestígio de outrora, pois o futebol amador é uma expressão autêntica do espírito esportivo e da comunidade.