Crédito: Henrique Kawaminami/Campo Grande News/Arquivo

O presidente da FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul), Francisco Cezário de Oliveira, pediu afastamento por tempo indeterminado do cargo. O documento, assinado por ele no final da manhã desta segunda-feira (27/5) foi entregue na sede da entidade, em Campo Grande, através do advogado André Borges.

Cezário está preso desde a terça-feira passada (21/5), quando o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) deflagrou junto ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), a Operação Cartão Vermelho, visando desvios de dinheiro – entre eles verbas públicas – destinados à Instituição. 

Conforme nota de esclarecimento que o Dourados News teve acesso, o presidente se diz obediente às determinações judicias e justifica o intuito de ‘preservar’ a entidade que comanda há mais de duas décadas. 

“Francisco Cezário de Oliveira permanece obediente ao ordenamento legal e determinações judiciais, enquanto aguarda providências estatutárias para seu formal licenciamento das funções de presidente da FFMS, que honradamente foram confiadas pela família de seus companheiros do seu futebol estadual. Neste momento, o investigado deseja preservar a FFMS, seus filiados e campeonatos de eventuais transtornos, anunciando sua licença nos termos do estatuto da FFMS, tudo com o objetivo de garantir a continuidade das atividades da Federação e respectivos campeonatos, sem prejuízo para conveniência das investigações e instrução processual”, cita o documento.

Intervenção

No final de semana, o TJD-MS (Tribunal de Justiça Desportiva de Mato Grosso do Sul) enviou uma solicitação urgente à CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para a nomeação de um interventor na Federação. 

O despacho foi emitido pelo presidente do Tribunal, Patrick Hernands Santana Ribeiro. 

De acordo com o magistrado, a prisão de Francisco Cezário resultou em uma situação de vacância no comando da Federação. 
Tal circunstância deixou a entidade sem liderança legal, o que compromete a continuidade das atividades da Federação de Futebol no Estado. 

“Não podemos permitir que a Federação continue sem comando, o que torna esta medida extremamente oportuna e urgente”, afirmou Ribeiro, no despacho. 

Cartão Vermelho

A Operação Cartão Vermelho foi deflagrada no dia 21 de maio. Foram cumpridos sete mandados de prisão preventiva e 14 de busca e apreensão nas cidades de Campo Grande, Dourados e Três Lagoas. 

O objetivo, é desarticular organização criminosa voltada à prática de peculato e demais delitos. 

De acordo com a investigação, o rombo deixado pelo grupo alvo na FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul) é de aproximadamente R$ 6 milhões entre setembro de 2018 e fevereiro do ano passado. 

Segundo o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), o período de investigação durou em torno de 20 meses e, apenas neste período, os números apontam para montante de R$ 3 milhões.

Conforme o MPMS, o dinheiro chegava à FFMS através de convênios assinados com o Governo do Estado e através da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). A partir daí, os valores eram desviados. 

“Durante 20 meses de investigação, foi constatado que se instalou, na Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul, uma organização criminosa, cujo principal objetivo era desviar valores, sejam provenientes do Estado de Mato Grosso do Sul (via convênio, subvenção ou termo de fomento) ou mesmo da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em benefício próprio e de terceiros”, diz nota encaminhada pelo Ministério Público.

Ainda segundo as investigações, uma das formas de desvio acontecia através de frequentes saques em espécie de contas bancárias da Federação, em valores não superiores a R$ 5 mil. Tal medida acontecia para os envolvidos “não alertarem os órgãos de controle”. Depois, o dinheiro era “dividido entre os integrantes do esquema”, afirma o MPMS.

Durante os meses de investigação, foi constatado que os integrantes do grupo realizaram mais de 1.200 saques, que ultrapassaram o montante de R$ 3 milhões. 

Diárias

Além dos saques realizados com valores baixos, a organização criminosa também possuía um esquema de desvio de diárias dos hotéis pagos pelo Estado em jogos do Campeonato Estadual de Futebol.

“Esse esquema de peculato estendia-se a outros estabelecimentos, todos recebedores de altas quantias da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul. A prática consistia em devolver para os integrantes do esquema parte dos valores cobrados naquelas contratações (seja de serviços ou de produtos) efetuadas pela Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul”.