Segundo encontro com MPF para resolver conflitos de terras terminou sem acordo na última segunda-feira (29)
A segunda reunião entre parlamentares, MPF (Ministério Público Federal) e entidades representativas para tratar sobre os conflitos de terras em Mato Grosso do Sul terminou sem acordo na última segunda-feira (29). A proposta de permuta de terra – em que os produtores receberiam lotes em outros locais – seria iniciado em Douradina.
O município a 192 km de Campo Grande tem sido palco de conflitos entre indígenas e produtores rurais nas últimas semanas. Em 14 de julho, os indígenas foram alvo de tiros e intimidação em cercos e ataques à mão armada.
A primeira reunião com o MPF para tratar sobre o tema foi realizada em 22 de julho em Dourados, a 229 km da Capital.
Sem acordo
Segundo a deputada estadual Gleice Jane (PT) ao Jornal Midiamax, que participou das duras reuniões, o acordo não foi aceito. Há resistência dos dois lados: os produtores rurais não querem abrir mão das terras, enquanto os indígenas não querem recuar da luta pelo tekohá (que em Guarani significa terra).
“A situação é muito complexa. Exige muitos diálogos. São muitos anos de impasse e de sofrimento e não é possível resolver em pouco tempo. Na reunião, a Famasul [Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul] também se colocou contra. Indígenas não querem recuar nas suas lutas. Alegam que já sofreram demais e que não acreditam no poder público. O cenário é tenso ainda”, explica. Deve haver outra tentativa de remarcar a reunião e ter mais tempo de diálogo com a comunidade.
Já o deputado federal Rodolfo Nogueira (PL) afirmou que foi contra o acordo proposto no encontro porque não resolveria o problema.
“O MPF quer um acordo inédito com os produtores, acordo esse que terá início aqui em Douradina, mas que sou contra, pois vai beneficiar apenas dois ou três proprietários rurais e vai abrir precedentes para demais áreas de outros produtores serem invadidas”, afirma.
Conforme o parlamentar, mais de 300 proprietários rurais poderiam ser afetados futuramente com novas ocupações. Ele exemplificou com o caso de um assentamento rural de Douradina criado da década de 1950, resultante de uma reforma agrária na gestão de Getúlio Vargas.
“O governo federal além de dar a posse, titulou esses proprietários rurais. Nós sabemos que não é fácil de resolver, nós temos a grande maioria dos produtores sitiantes, pessoas simples, pessoas que tem dois hectares, quatro hectares e que não tem para onde ir, como vamos tirar essas pessoas de suas propriedades que vivem da terra, que vivem dessa renda diária, vivem com seus filhos e netos? E para onde vamos levar elas?”, questionou o deputado.