PRF intercepta remessa de mais de 3 mil comprimidos vindos do Paraguai e a caminho do Maranhão
As divergências de ideias entre as autoridades de saúde sobre a utilização ou não de cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento do novo coronavírus estão criando uma terceira via, ilegal, no Brasil: o contrabando do medicamento. Diante de uma apreensão ocorrida na quarta-feira, em Goiás, a polícia acredita que Mato Grosso do Sul, além de porta de entrada do tráfico de drogas e de armas, pode estar sendo usado como corredor de contrabando do remédio a partir do Paraguai, alimentando a venda do produto no mercado negro.
Segundo as informações, no fim da tarde de quarta-feira, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) apreendeu 3.600 comprimidos de hidroxicloroquina contrabandeados do Paraguai na BR-153, em Uruaçu, na região norte de Goiás.
A princípio, o polêmico medicamento contrabandeado (que também é indicado para lúpus e malária) seria levado para Imperatriz (MA), mas o grupo que fazia o transporte disse que o produto vinha do Paraguai, via Mato Grosso do Sul, e que teria recebido a remessa em Campo Grande.
A cidade maranhense de Impetratriz registrava ontem 1.724 casos confirmados da Covid-19, com pelo menos 80 mortes. Todo o estado contabilizava, também ontem, 27.979 testes positivos e 887 óbitos pela doença. Pelo Painel de Leitos e Insumos do Ministério da Saúde, o Maranhão já recebeu da pasta 98 mil comprimidos de cloroquina.
INTERCEPTAÇÃO
Conforme a PRF, em abordagem de rotina na BR-153 os agentes pararam uma caminhonete com quatro homens, com idades entre 29 anos e 58 anos. Eles alegaram que saíram de São Paulo após trabalharem na produção de um show sertanejo transmitido pela internet e que retornavam para casa, na capital maranhense. Mas durante a revista nas bagagens os policiais encontraram dentro de uma caixa de equipamento sonoro 120 caixas de hidroxicloroquina, com 30 comprimidos cada. O medicamento produzido no Paraguai é de comércio proibido no Brasil.
Com o flagrante, o grupo informou que trabalha com tecnologia e, inicialmente, alegou ter pegado o medicamento em São Paulo, mas depois confessou ter sido em Campo Grande. Para a PRF, o remédio entrou pela fronteira do Paraguai com Mato Grosso do Sul.
Ainda de acordo com o grupo, a medicação seria levada para ser distribuída em um hospital de campanha de São Luís (MA), mas suspeita-se que fosse em Imperatriz. A Vigilância Sanitária de Uruaçu foi acionada, e os contrabandistas podem responder por crime contra a saúde pública.
DIVERGÊNCIAS
Há no mundo inteiro grande divergência no uso de cloroquina e hidroxicloroquina contra a Covid-19. De um modo geral, o emprego de cloroquina em pacientes infectados com o novo coronavírus segue sob estudo em vários países, mas pesquisadores ainda não conseguiram encontrar resultados conclusivos sobre sua eficácia contra a Covid-19. Isso também se aplica à hidroxicloroquina, que é um derivado da cloroquina e guarda as mesmas propriedades, mas tem a toxicidade atenuada.
Na segunda-feira, a Organização Mundial de Saúde (OMS) suspendeu o uso da hidroxicloroquina em pesquisas que coordenava com cientistas de 100 países. A suspensão temporária continua até que a segurança da droga seja reavaliada. Estudos mostraram que ela não é eficaz contra o vírus e que pode aumentar a taxa de mortalidade.
No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro é um dos defensores da utilização do medicamento. Depois da queda de dois ministros contrários à medida na semana passada, o Ministério da Saúde divulgou orientações para ampliar o acesso de pacientes com Covid-19 ao tratamento medicamentoso precoce (nos primeiros dias de sintomas) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
O documento traz a classificação dos sinais e sintomas da doença, que pode variar de leve a grave, e a orientação para prescrição para pacientes adultos de dois medicamentos associados à azitromicina: a cloroquina e o sulfato de hidroxicloroquina. A escolha do melhor tratamento para a doença pode variar de acordo com os sinais e os sintomas e a fase em que o paciente se encontra. Esses dois medicamentos já eram indicados para casos graves, hospitalizados, apesar da polêmica.
MS já recebeu 16 mil unidades
Mato Grosso do Sul recebeu do Ministério da Saúde 16 mil comprimidos de cloroquina. O Ministério informou que está intensificando a produção nos laboratórios brasileiros e fazendo contatos internacionais para trazer o princípio ativo da hidroxicloroquina, hoje em falta no mundo. A Pasta adquiriu 3 milhões de comprimidos de cloroquina 150 mg, produzidos pela Fundação Oswaldo Cruz. Disse negociar com laboratórios novas aquisições do medicamento. O Centro de Comunicação Socialdo Exército declarou que o Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército já produziu 1,25 milhão de comprimidos. Até agora, foram distribuídos no País 2,9 milhões de comprimidos.
Fonte: Correio do Estado