Casos de infecções cruzadas de Covid-19 no Hospital da Vida têm prejudicado a contenção da doença e arriscado a vida de profissionais da saúde e pacientes, principalmente que estão em grupo de risco. A Secretaria de Estado de Saúde investiga a morte de pelo menos quatro pacientes que contraíram a doença dentro de hospitais de Dourados após se internarem para tratamento de outras causas.

O PROGRESSO apurou que na semana passada profissionais de saúde do Hospital da Vida teriam relatado a Secretaria de Estado de Saúde sobre a necessidade de se fazer a divisão entre pacientes que chegam com Síndrome Respiratória Aguda (Srag) dos demais, já que os primeiros podem estar transmitindo. Teriam alertado ainda para a necessidade de uma reorganização do fluxo de pacientes, levando para outras unidades, por exemplo, pessoas do grupo de risco como renais crônicos, diabéticos, entre outros.

Recentemente o Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso do Sul alertou para o problema. Em relatório, o órgão constatou que não há separação no fluxo de pacientes com queixas respiratórias dos que apresentam outros problemas de saúde. São os mesmos profissionais que atendem a todos os pacientes, independente da patologia. Os recursos são limitados, haja vista ter somente um termômetro digital infravermelho.

Segundo ainda o Coren “esse modelo de classificação de risco, em que todos os pacientes ocupam o mesmo espaço físico e são atendidos por um único profissional, de fato pode expor a infecção de todos os indivíduos (profissionais e pacientes) que não estejam protegidos por equipamentos de proteção individual. O recomendado é separar a classificação de risco de pessoas com sintomas respiratórios dos demais problemas de saúde. Essa é uma estratégia para reduzir o potencial de infecção e, ainda, o uso racional de roupas especiais para o manejo de pessoas portadoras do Coronavírus”, relata.

Procurado pelo O PROGRESSO o médico infectologista Daniel Galina analisa que o quadro de transmissão comunitária é um fator de risco para as contaminações intra-hospitalares. Segundo ele, para melhorar essa situação se faz necessário uma melhor triagem e acompanhamento de funcionários da unidade de saúde, acompanhantes e dos próprios pacientes. “Hoje o grande problema é o fato da infecção estar comunitária. Tem muitas pessoas assintomáticas que estão transmitindo o vírus. Isso ajuda na contaminação hospitalar. Os hospitais onde isso ocorreu precisam averiguar onde houve a falha para que ela não ocorra novamente. Se foi no protocolo, seria interessante mudá-lo”, explica, avaliando que de maneira geral os hospitais estão fazendo um bom trabalho.

Recentemente a médica infectologista Mariana Croda alertou que os serviços de saúde não estão estruturados para atender a alta demanda e que ela expõe expõe os profissionais de saúde. A médica destacou que o Estado vem investindo em capacitação para os profissionais, mas que a restrição de equipamentos de proteção individual encontrada na cidade de Dourados, além de outras deficiências, reforçam ainda mais a transmissão comunitária da doença.

Ministério Público

O Ministério Público Estadual abriu procedimento para apurar as denúncias. Em nota a 10ª Promotoria de Justiça informou que “tomou conhecimento sobre as possíveis contaminações ocorridas dentro do Hospital da Vida em Dourados. Assim, de ofício, foi instaurada uma Notícia de Fato específica para aclarar as informações, sendo solicitados documentos pertinentes e, parte deles, ainda não foram remetidos pelos responsáveis daquele nosocômio, estando no aguardo”.

A promotoria segue: “Paralelamente, tramita um Inquérito Civil que apura inúmeras irregularidades atinentes aos atos do Executivo Municipal para enfrentamento da Pandemia, dentro do qual também foram realizadas vistorias no local.Com o recebimento de todos os elementos, serão verificadas as próximas providências”, ressaltou.

Prefeitura

O médico porta-voz do Comitê de Gerenciamento de Crise da Prefeitura de Dourados, Frederico Oliveira Weissinger, disse que os funcionários do Hospital da Vida foram testados e estão sendo acompanhados e monitorados pela Vigilância para evitar novas contaminações.

Sobre as infecções ele disse que “cada hospital tem sua Comissão de Controle de Infecções Hospitalares (CCIH), que deve cuidar dessa parte, porém a Vigilância Epidemiológica está em constante acompanhamento tendo em vista o momento de pandemia”, ressaltou.

Fonte: Dourados News