Por dia, a “gripezinha” mata mais que o atentado de 11 de setembro de 2001 nos EUA. Já no Brasil, Fiocruz revela descontrole em 22 estados
São Paulo – A pandemia de covid-19 está em fase de crescimento descontrolado no Brasil. O diagnóstico é da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em boletim Infogripe divulgado hoje (3). De todos os testes realizados em pacientes com doenças respiratórias entre os dias 22 e 28 de novembro, 97,7% deram positivo para o novo coronavírus. Nas últimas 24 horas foram registradas 755 mortes e 50.434 casos de covid-19. Desde março, o país contabiliza 175.270 vítimas da covid-19 e 6.487.084 contaminados. Isso, sem contar com uma imensa subnotificação, já que o Brasil é um dos países que menos testa para a doença no mundo. A cada mês o país testa menos, contrariando as melhores práticas para controle do vírus.
De setembro a outubro, o país testou 3,8 milhões de pessoas, de acordo com os resultados da PNAD Covid, do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Entre agosto a setembro, foram testados 4 milhões. Já entre julho a agosto, mais de 5,5 milhões de testes. Sem testagem em massa é impossível coordenar ações de controle de transmissão da doença que, se bem feito, pode salvar milhares de vidas, além de evitar a necessidade de medidas mais duras, como o lockdown.
De acordo com levantamento do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) a média móvel calculada em intervalo de sete dias é a pior desde 31 de agosto. O crescimento do número de vítimas fatais da covid-19 é evidente no gráfico epidemiológico. Nível de infectados está próximo dos piores dias da pandemia no Brasil, registrados em julho.
Descontrole
O Infogripe da Fiocruz ainda revela que em 22 das 27 unidades da Federação a covid-19 está em crescimento. A tendência, de acordo com o boletim, é de crescimento de moderado a forte dos casos e mortes, tanto em curto como em longo prazo.
Os estados com focos pandêmicos fora de controle são Amazonas, Pará, Rondônia, Tocantins, Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
“O registro de crescimento que vem se observando em todo o território nacional durante o mês de novembro sugere a necessidade de cuidado redobrado ao longo do mês de dezembro. Ações de conscientização e prevenção devem ser tomadas para evitar que as tradicionais aglomerações no comércio e nas celebrações de fim de ano agravem o quadro atual”, alerta o coordenador do Infogripe, pesquisador Marcelo Gomes.
Entre as capitais, os piores cenários são os de Maceió, Rio de Janeiro, São Luís e São Paulo, que somam seis semanas de tendência crescente para a covid-19. Já Belo Horizonte, Campo Grande, Curitiba e Região de Saúde Central do Distrito Federal quatro semanas.
No mundo
O cenário da covid-19 em todo o mundo segue preocupante. Embora países como o Reino Unido, França, Portugal e Alemanha devam iniciar um processo de vacinação em breve, a realidade na maior parte do mundo é outra. Muitos países não firmaram contratos bilionários a tempo com as indústrias farmacêuticas. O Brasil, por exemplo, negligenciou o vírus e perdeu chances de conseguir uma vacinação rápida. Agora, o Ministério da Saúde reconhece que em todo 2021 não haverá vacinas para todos os brasileiros.
Enquanto não chegam vacinas para imunização em massa, a covid-19 segue seu rastro letal. A pandemia é a pior crise sanitária mundial desde a gripe espanhola, em 1918. Já são cerca de 1,5 milhão de mortos e quase 65 milhões de contaminados, de acordo com levantamento da universidade norte-americana Johns Hopkins.
Em paralelo ao início da vacinação na Europa, grande parte do continente vive em regime intenso de isolamento social. Toques de recolher e regimes de lockdown foram adotados no último mês para frear uma forte segunda onda. E o resultado já aparece. As curvas de casos e mortos deste segundo impacto da covid-19 já começam a cair de forma drástica.
Um 11 de setembro por dia
A situação nos Estados Unidos é diferente. Assim como o Brasil, o país tem um governo federal negacionista e anti ciência, com o presidente Donald Trump. Ontem (2) foi o dia mais letal da pandemia desde o início do surto. Foram 3.100 mortos e 163 mil novos casos em um período de 24 horas.
A “gripezinha”, como disse o presidente Jair Bolsonaro, que quem se preocupa e se previne “é marica”, novamente nas palavras do presidente, mata, nos EUA, mais de um atentado de 11 de setembro por dia. No ataque de 2001 morreram 2.900 pessoas.