São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta quarta-feira (21) a realização de uma minirreforma ministerial. As mudanças, que devem ser oficializadas por Bolsonaro até a próxima segunda-feira (26), visam ampliar os espaços ocupados pelo Centrão nos ministérios. O objetivo principal é blindar o governo contra as crescentes pressões pelo impeachment. Diante dos casos de suspeita de corrupção na compra de vacinas, revelados pela CPI da Covid, Bolsonaro enfrenta o seu pior momento, com redução paulatina de seus índices de popularidade.
Expoente do Centrão, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) será o novo comandante da Casa Civil. O ministério, atualmente comandado pelo general Luiz Eduardo Ramos, é responsável pela coordenação de todos os projetos do governo, bem como pela relação do governo com o Congresso.
Ramos, que se disse surpreendido pela mudança, será remanejado para a secretária-geral da Presidência. A pasta, responsável pelo dia a dia do presidente, é atualmente comandada por Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Para abrigá-lo, Bolsonaro pretende recriar o Ministério do Trabalho, que havia sido incorporado pelo Ministério da Economia, de Paulo Guedes.
De acordo com o cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP) Paulo Niccoli Ramirez, tais mudanças aumentam a dependência de Bolsonaro em relação ao Centrão. Esse “toma-lá-dá-cá” enterra de vez a retórica da “nova política” adotada por Bolsonaro durante as eleições de 2018. “Bolsonaro procura reforçar sua base aliada dentro do Congresso para evitar qualquer possibilidade de impeachment”, afirmou Niccoli, em entrevista a Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta quinta-feira (22).
Militares e Guedes
Ao desalojar Ramos da Casa Civil, essa reforma ministerial também impõe um recuo à presença dos militares. Mas estes ainda continuam ocupando postos-chaves no ministério, além de cerca de outros 6 mil cargos na administração federal. “Não significa dizer que os militares deixam de participar do governo”, ressalta Nicolli.
Ele também aponta o enfraquecimento de Paulo Guedes. Tido como “superministro”, foi incapaz de produzir crescimento econômico e criar empregos, segundo o analista. Contudo, Onyx – uma espécie de “coringa” de Bolsonaro – também não tem qualquer experiência em políticas relativas ao mundo do trabalho. Essa é a “tônica” do governo Bolsonaro, que adota critérios de “fidelidade e amizade” para compor o seu ministério, em detrimento do conhecimento técnico.
Semeando escândalos
O aumento da dependência do Centrão “não deve produzir bons resultados”, segundo Niccolli. Conhecidos pelo fisiologismo – a troca de apoio político por cargos e emendas –, os políticos desse grupo devem cobrar cada vez mais caro, na medida em que a popularidade do governo decai. Um primeiro estágio dessa aliança já havia sido estabelecido com o apoio de Bolsonaro à eleição de Arthur Lira (PP-AL) como presidente da Câmara dos Deputados.
Nesse sentido, as íntimas relações de Bolsonaro com o Centrão devem agravar ainda mais a sua imagem perante a opinião pública. O PP, em especial, é conhecido pelo envolvimento de suas lideranças em casos de corrupção. A suspeita mais recente recai sobre o deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara. Ele seria o suposto beneficiário do esquema de superfaturamento na tentativa de compra da vacina indiana Covaxin.
Por outro lado, o Centrão também se desgasta ao se associar com Bolsonaro. Apesar de receberem os cargos e recursos demandados, ainda assim podem abandonar o governo, caso a aproximação com Bolsonaro coloque em risco os projetos eleitorais dessas figuras.
“Tudo isso tem um preço. Em menos de um ano, vamos entrar em processo eleitoral. E a tendência é que políticos que ainda mantenham o apoio ao presidente tenham imagem desgastada diante dos eleitores. Bolsonaro vai ter que pagar muito caro por isso. E se o Centrão, em algum momento, não se sentir satisfeito, pode ser que se volte contra o próprio presidente”, disse o analista.
Fonte: BRA