Em cerimônia no início da tarde, Pedro Castillo tomou posse nesta quarta-feira como presidente do Peru Congreso del Peru/Twitter

‘É a primeira vez que o país será governado por um camponês, que pertence aos setores oprimidos por tantos séculos’, disse o novo presidente. Ele anunciou que não usará o palácio presidencial durante seu mandato

O novo presidente do Peru, Pedro Castillo (Peru Libre), tomou posse no começo da tarde desta quarta-feira (28) no Congresso do país, em Lima. Em seu discurso, disse que, com sua chegada ao cargo, haverá, “um governo do povo, com o povo e para o povo”. “Desta vez, um governo do povo chegou para governar com o povo e para o povo, para construir desde baixo. É a primeira vez em que o país será governado por um camponês, que pertence aos setores oprimidos por tantos séculos”, disse.

Castillo desmentiu tais afirmações, que a oposição utilizou durante a campanha eleitoral, declarando que, na verdade, seu governo quer que a economia “mantenha uma ordem e previsibilidade”. “O que nós estamos propondo é que se acabem os abusos dos monopólios e dos consórcios que cobram muito pelos serviços básicos, como acontece com o gás doméstico e medicamentos”, apontou o novo presidente dizendo que quer a economia das famílias peruanas “mais estável e próspera”.

Amarras da colonização

Pedro Castillo foi confirmado oficialmente como o novo presidente do Peru apenas no dia 19 de julho, mais de um mês após as eleições. Naquele dia, o Juizado Nacional Eleitoral (JNE) peruano o declarou vencedor, após todos os recursos apresentados por sua adversária, a ultradireitista Keiko Fujimori, terem sido rejeitados. Castillo venceu o segundo turno das eleições, realizadas em 6 de abril, com 50,13% dos votos, contra 49,87% da filha do ex-ditador Alberto Fujimori. Keiko, contudo, se recusou a aceitar o resultado, acusando o adversário de fraude.

Durante o discurso de posse, Castillo afirmou que o povo peruano “pede mudanças” no país, e que a sociedade “não está disposta a renunciar” a tais demandas. Ele ponderou, no entanto, que é necessário “responsabilidade” para realizar mudanças econômicas, “respeitando a propriedade privada”.

Citando a história da nação peruana durante seu discurso, o presidente informou que não irá governar o país direto da Casa de Pizarro, que é o Palácio do Governo do Peru, localizado na capital.

Para ele, a sede do governo representa as “amarras da colonização” e que é preciso “romper com os símbolos coloniais” dentro do país. “Cederemos o Palácio ao Ministério da Cultura, para que seja usado como um museu que mostre nossa história e nossas origens”, afirmou.


Rondas e segurança

Castillo aproveitou o discurso da posse para declarar medidas que o novo governo tomará para fortalecer as rondas campesinas, que patrulham de forma autônoma a zona rural peruana.

O presidente eleito disse que essa área é uma das “mais sentidas” pelo povo, já que, segundo ele, a polícia não é o suficiente para conseguir controlar a segurança local. “Nós acreditamos que devemos expandir os sistemas de rondas no Peru, que não é outra coisa senão pessoas organizadas para garantir a segurança do país”, disse.

De acordo com Pedro Castillo, o governo irá convocar os peruanos para que se organizem em rondas em locais que ainda não existem tais grupos, fortalecendo as leis das rondas e respeitando sua autonomia. “Junto com a polícia, podemos ascender a uma das mais eficientes seguranças públicas”, declarou.

O sindicalista também pontuou que as Forças Armadas do Peru têm a “finalidade” de “garantir a soberania e independência” do país, afirmando que os jovens que não estudam ou que estão fora do mercado de trabalho “deverão se alistar no serviço militar”. Ele ainda disse que, agora, o governo “voltará a encarregar” as Forças Armadas na participação de projetos de desenvolvimento, “reforçando a institucionalidade” da entidade. “Promoveremos o ingresso ao serviço militar voluntário, fortaleceremos as equipes das Forças Armadas”, declarou.

Economia

O novo presidente do Peru afirmou que seu governo pretende criar um milhão de empregos em um ano com investimento público. “Daremos mais atenção aos setores afetados pela pandemia da covid-19, como na agricultura, no turismo e no transporte”.

Segundo ele, durante a pandemia, os programas de créditos entre o governo e o Banco Central do país permitiram “sustentar” setores empresariais, mas que esses programas “esqueceram das famílias”.

O novo mandatário disse que é preciso “colocar ordem” na mineração do Peru, “expulsando” a corrupção e colocando “procedimentos que facilitem a exploração e o fechamento adequado de cada projeto”. Castillo declarou que seu governo fará o “possível” para produzir “mais e mais” de forma adequada.

Para isso, ele definiu que nos 100 primeiros dias do novo governo serão realizadas obras rurais para “valer a organização civil organizada e combater a corrupção” que impede que cerca de três milhões de peruanos não tenham acesso à água potável, de acordo com Castillo.

Pedro Castillo também falou sobre o investimento na educação do país, plano que visa duplicar o orçamento do setor e “aumentar a participação” da área no PIB peruano. “A educação no meu governo será uma prioridade para recuperar as aprendizagens e evitar que a falta de igualdade cresça”, disse.

Ainda na área educacional, o atual mandatário afirmou que os planos do setor “serão promovidos pelos próprios professores e comunidade local”, com acesso à internet “sendo um direito e não serviço”.

Covid-19

Pedro Castillo fez uma homenagem aos peruanos que morreram em decorrência da covid-19. Em sua fala, disse que o país irá “honrar a memória” das vítimas e que a prioridade é continuar a luta contra a pandemia.

De acordo com o professor, o governo seguirá “escutando a ciência” e colocando o bem-estar da peruanos em primeiro lugar. “Devemos maximizar os esforços para alcançar a vacinação de toda a população no menos tempo possível. A saúde é um direito fundamental que o Estado deve garantir. A saúde física e mental serão prioridades no governo”, disse Castillo afirmando que será “fortalecida” a capacidade dos centros de saúde do país, com um sistema sanitário “universal, gratuito e participativo”.

Agora mandatário, Castillo afirmou que, ao final de seu governo, irá entregar hospitais especializados em diferentes regiões do Peru para garantir “prioridade a clínicas cirúrgicas e hospitais de saúde bucal”.

Fonte: RBA