Foto: Governo do Estado de Pernambuco

Dados do Dieese revelam disparada de preços nos últimos 12 meses, enquanto o salário mínimo perde poder de compra e é 5,5 vezes menor do que deveria. Fome e miséria tornaram-se a grande marca da política econômica do governo Bolsonaro

Dados sobre o preço da cesta básica em várias capitais brasileiras, divulgados pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) esta semana, desnudaram a realidade catastrófica imposta ao país pelo governo extremista e ultraliberal de Jair Bolsonaro. Há locais, como em Brasília, em que os itens tiveram mais de 31% de aumento nos últimos 12 meses.

O órgão, que é referência na aferição de indicadores econômicos, pesquisou a inflação sobre a cesta básica em 17 capitais e em todas elas o valor subiu em índices sem precedentes.

Como mencionado anteriormente, a capital federal registrou aumento de 31,65% no acumulando dos últimos 12 meses, enquanto São Paulo, a maior cidade do país, apresentou 16,13% no mesmo período. Campo Grande (MS), Curitiba (PR) e Vitória (ES) foram outras cidades, de diferentes regiões, que anotaram elevadíssima inflação na cesta, com 25,62%, 22,79% e 21,37% respectivamente.

Em valores absolutos, a cesta básica mais cara do país é a de Florianópolis (SC), que sai por R$ 700,69. Exatamente um ano atrás, o preço era de R$ 530,42 na capital catarinense. Se tomado como ponto de partida o valor de lá, o salário mínimo brasileiro deveria ser de R$ 5.866,50, informa o Dieese.

Um levantamento divulgado há menos de uma mês pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN) revelou que, no período analisado pelos pesquisadores, entre os dias 5 e 24 de dezembro de 2020, apenas 44,8% dos lares brasileiros tinham moradores e moradoras em situação de segurança alimentar, ou seja, 55,2% das residências enfrentavam insegurança alimentar, que representa um assustador aumento de 54% desde 2018 (36,7%).

A situação retratada pela Rede PENSSAN era ainda mais grave na regiões Nordeste (70%) e Norte (60%), onde a maior parte da população não consegue garantir alimentação adequada diariamente. Como os dados são relativos a um período de 11 meses atrás, com os indicadores atuais de inflação e desemprego ainda mais gritantes, é de se supor que os números sobre insegurança alimentar tenham se agravado por todo o Brasil.

Ossos, restos, carcaças… Tudo vira “alimento”

Quem entrava em açougues ou supermercados, desde a década de 80, via um cartaz que dizia “temos osso e pelanca para cachorro”. Por mais que a venda desse tipo de “resíduo” de carne bovina sempre estivesse ali, para ser dado ou vendido a preços irrisórios, uma nova prática, bem atual, vem assustando os cidadãos nos últimos tempos: a venda de produtos que seriam praticamente destinados ao lixo, vistos como resto, para a alimentação humana.

O buraco econômico e social cavado por Jair Bolsonaro para enterrar o povo brasileiro fez proliferar por todo território nacional os anúncios que oferecem ossos, carcaças de frango, pés de galinha e pelanca para “reforçar” a dieta de seres humanos que viram seus empregos, renda e dignidade serem implodidos.

Até o macarrão instantâneo, popularmente chamado de “miojo”, teve um salto nas vendas, segundo a indústria que o produz. O que antes era visto como uma extravagância ou imprudência alimentar de adolescentes, hoje figura como gênero base para manter de pé famílias inteiras que driblam a fome para seguirem vivas.

Um supermercado de Belém, no Pará, está vendendo restos de peixe (vísceras, espinhas e cabeças) a R$ 3,90 o quilo. O “produto” é apenas mais um no rol de sobras e resíduos de baixíssima qualidade que vêm dominando as prateleiras do comércio de alimentos em todo país por conta do empobrecimento em marcha acelerada da população.

Até a mídia hegemônica, sócia na calamidade imposta por um destrambelhado sem escrúpulos que foi alçado à chefia do estado brasileiro para pôr fim aos “ladrões do PT”, veicula agora em seus programas diários as mais variadas receitas para preparar iguarias como ossos, carcaças, pés de galinha, pelanca e miojo. É a gourmetização do desespero e a glamourização da indigência, como pílula dourada para o horror daqueles que não têm mais ao que recorrer para dar de comer aos filhos e a si.

Numa rodovia que corta o estado do Mato Grosso, próximo ao município de Várzea Grande, o que chama a atenção é a placa ofertando pelanca a R$ 0,99. A imagem embrulha o estômago porque nos leva a pensar em como alguém consumiria tal coisa.

O Estadão, diário conservador paulista, trouxe numa de suas manchetes que o pé de galinha é a “carne possível”. Lembra na matéria que as partes nobres dessa ave sofreram aumento de 43% no último ano, mas não diz uma palavra sobre seu editorial de 8 de outubro de 2018, quando para esconder sua predileção por um sujeito de contornos psicopáticos resolveu se esconder atrás de “uma escolha muito difícil” para conduzir ao Planalto o tal desajustado.

Enquanto isso, na Folha, a explosão no faturamento das indústrias que produzem miojo foi destaque numa editoria voltada à economia. A linha fina justifica que o aumento nos negócios de R$ 2,6 bilhões para R$ 3,1 bilhões de um ano para outro “tem relação com o preço acessível do produto à população”.

Fonte: Revista Fórum