Após decidirem formar uma federação partidária, a Rede Sustentabilidade e o PSOL chegaram a um acordo no qual os filiados dos dois partidos estarão liberados para apoiar candidatos diferentes na disputa pelo Palácio do Planalto. O acerto, porém, é informal: não vai constar no estatuto desse “casamento político”, que, pela legislação, tem de contemplar disputas regionais e durar no mínimo 4 anos.

Enquanto o PSOL de Guilherme Boulos pretende subir no palanque de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), algumas das principais lideranças da Rede estarão com Ciro Gomes (PDT).

“No Estatuto, pactuamos o direito à divergência pública, sem caracterizar infidelidade partidária. Temos nosso querido Randolfe (Rodrigues, senador pelo Amapá) e vários outros apoiando Lula, eu e outros apoiando Ciro. Outros ainda podem apoiar candidaturas distintas, desde que pautadas no conteúdo programático da Plataforma 18.”, disse ao Estadão a ex-senadora petista Heloísa Helena, porta-voz da Rede.

Além dela, a ex-ministra Marina Silva também já sinalizou apoio a Ciro. Embora cortejada como vice do pré-candidato do PDT, tal arranjo seria impossível sem que a federação da Rede e PSOL definisse o apoio formal a ele, o que já é descartado por dirigentes das duas siglas. Já Randolfe Rodrigues apoia Lula e passou a integrar a coordenação da campanha petista.

O presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, ponderou que a federação terá apenas uma posição na eleição. “O estatuto e o programa preveem entre autonomia política e uma identidade programática mínima. A federação terá uma posição na eleição. Os casos que contrariarem essa posição serão tratados por cada um dos partidos”, disse o dirigente.

A divergência entre as duas siglas expõe um dilema enfrentado por outros partidos menores que já decidiram compor uma federação com o PT e temem ser “engolidos” pela predominância petista: PCdoB e PV.

“Mesmo mantida a identidade partidária, a federação tem uma direção única e ela vai tomar as decisões importantes, como os palanques, cargos no parlamento e direções. Quem terá protagonismo na federação será o maior partido”, afirmou o cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do Grande ABC.

Foice, martelo e meio ambiente

Antes de bater o martelo com o PT, o PCdoB estava dividido internamente sobre com quem seria melhor formar uma federação. Uma ala do partido defendeu a tese que a união com o PSOL e Rede seria o melhor caminho, já que nenhuma das agremiações é muito maior que a outra.

Na prática, isso significaria uma divisão mais equilibrada de poder no consórcio partidário. Mas, como prevaleceu a proposta de uma construção com o PT e o PV, o desafio agora para os comunistas é manter a identidade e lutar por espaço na futura executiva unificada.

“Quando a assimetria entre os partidos é muito grande, a governança é mais complicada. A federação prevê autonomia plena para os partidos, mas no parlamento é uma bancada só, assim como nas eleições”, admitiu o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP).

Para administrar os interesses divergentes nas eleições, os três partidos vão criar uma “mesa permanente” de negociação. Segundo Silva, cada sigla terá o seu programa, mas vai haver uma base unificada de ação parlamentar. “O PCdoB tem vida além das eleições. É um partido que existe nos bairros e nos movimentos sociais”, disse o deputado.

No caso do PV, a demanda junto ao PT é para reforçar as bandeiras ambientais, além do apoio da federação para seus únicos pré-candidatos a governador: Leandro Grass, no Distrito Federal, e Rudson Leite, em Roraima.

“Vamos lutar para imprimir na federação um modelo de desenvolvimento sustentável. Estamos tentando ser o mais cordatos possível entre nós. Sobre os cargos no Congresso, isso vai depender do talento dos nossos deputados para negociar”, afirmou Penna.

Procurada, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, não se manifestou. Os partidos têm até o dia 31 de maio para formalizar a federação, prazo estabelecido pela Justiça Eleitoral.

Fonte: midiamax