A rezadeira Alda Silva, de 72 nos, da Reserva Indígena de Dourados, compartilha a maternidade de uma única filha, que tem com o cacique e também rezador Getúlio de Oliveira, com a missão de ser também a ‘mãe da Aldeia Jaguapiru”. O título vem do ofício de nhandesy, herdado de suas ancestrais e que na língua guarani, em sua tradução mais simples, quer dizer, ‘nossa mãe’.

Desde cedo ela ouvia os cânticos entoados nos rituais religiosos professados pela e que atravessaram décadas. Embalada pela voz da mãe, ela cultivou o desejo da vocação feminina, que foi realizado com o nascimento de Aldineia e estendeu seu olhar para além da sua própria ao se dedicar cada vez mais no cuidado coletivo dos moradores da aldeia.

 “Aprendi a escutar a voz dos nossos ancestrais pelo vento, pela força da natureza, que é a nossa mãe maior e tem muito para nos ensinar. Com o tempo aprendi que todos somos filhos e que a terra em que vivemos, apesar de doente, tem muitos remédios para a nossa cura”, conta a rezadeira à reportagem do Midiamax.

Dona Alda relata que nos dois últimos anos, período em que ‘os espíritos do mal´ assombraram a aldeia, foi preciso muita fé e força de vontade para não deixar que os parentes fossem dominados pelo medo e pelos efeitos da doença que atingiu muita gente. “Essa doença pegou muitos dos nossos parentes e levou embora. Ajudei o que eu podia com as ervas medicinais e também com as medidas de biossegurança”, explica a rezadeira.

Dona Alda 3.

Para a anciã da Jaguapiru, as responsabilidades de nhandesy faz com que ela esteja bem próxima das outras mulheres da aldeia, com tem um relacionamento praticamente de mãe para filha. “Trato todas elas com o mesmo carinho. São pessoas sofridas que muitas trabalham na cidade para garantir o sustento da família”, conta Dona Alda.

“Tem gente que não entende muito bem como são os afazeres de uma nhandesy e acha que a gente é uma pessoa que pratica bruxaria e faz coisas do mal.  Não é nada disso. O que nós fazemos é trabalhar pelo bem das pessoas que já levam uma vida bem difícil e muitas vezes são esquecidas pelas autoridades e até pela própria família”, diz Dona Alda.