O mercado de juros operou sem tendência definida, com oscilações comedidas, e alternando viés de alta e de queda. No fechamento, as taxas longas estavam de lado e as demais, em alta moderada. Embora o assunto que marcou a semana – a possível mudança nas metas de inflação -, hoje não tenha tido novidades, a possibilidade do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, ter acedido à pressão do governo para alterar o objetivo mantém o mercado desconfortável para assumir riscos. Num contexto de nova rodada de alta dos rendimentos dos Treasuries, Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) acima do esperado e decisão do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre a cobrança de nas tarifas de energia, a cautela foi a palavra de ordem.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,46%, de 13,42% ontem no ajuste, e a do DI Para janeiro de 2025 passou de 12,86% para 12,92%. O DI para janeiro de 2027 encerrou estável em 13,12%, e a do DI para janeiro de 2029 ficou em 13,40%, de 13,45%.

No balanço da semana, as taxas curtas caíram cerca de 30 pontos-base e as longas subiram pouco mais de 10 pontos ante os ajustes da última sexta-feira, numa configuração mais inclinada para a curva, refletindo justamente a piora da percepção de risco para o Brasil, de ingerência política sobre o trabalho do BC. Há consenso entre os economistas de que o debate sobre as metas se dá em timing ruim e que um eventual aumento vai desancorar ainda mais as expectativas ante metas já ajustadas para cima, exigindo retomada do aperto monetário.

 

Para Igor Seixas, sócio da Inove Investimentos, embora as taxas não tenham hoje necessariamente subido, o mercado continuou sob estresse envolvendo não só a questão das metas mas também outros fatores, como a decisão do STF sobre a quebra das decisões definitivas em temas tributários, e sem modulação. “Depois de um dia de alta como o de ontem, hoje seria normal vermos uma correção. Só de não termos tido hoje esse ajuste nas taxas já é muito ruim”, avalia. Sobre a decisão do STF, Seixas aponta que traz insegurança jurídica para empresas, elevando ainda mais o risco País.

O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, disse nesta tarde que a pasta não pautou o debate sobre a mudança da meta.

Nesse contexto, há grande expectativa pela participação de Campos Neto no programa Roda Viva, na segunda-feira à noite, em meio à pressão para que vá ao Congresso explicar por que os juros estão altos. O mercado quer saber se ele vai confirmar que teria concordado com um ajuste nas metas, lembrando que as informações que circularam ontem na imprensa não foram desautorizadas pelo Banco Central até o momento.

 

Um alívio maior nas taxas esbarrou ainda na decisão do ministro Luiz Fux de suspender mudanças na base de cálculo do ICMS, sobre energia elétrica, ontem à noite. A Warren Rena calcula impacto de até 15 pontos-base no IPCA de 2023, para o qual as expectativas futuras já estão bastante desancoradas. A decisão tem caráter liminar e ainda precisa ser confirmada pelo pleno da Corte.

No exterior, as taxas dos Treasuries subiram mais, com o retorno da T-Note chegando a 3,74% no fim da tarde. Mais um indicador de atividade superou o consenso das previsões, reforçando a ideia de que pode não haver espaço para queda de juros nos em 2023. O índice de sentimento do consumidor da Universidade de Michigan subiu de 64,9 em janeiro a 66,4 na leitura preliminar de fevereiro. Analistas esperavam 65,1.

Internamente, o volume de serviços prestados no País em dezembro subiu 3,1%, superando o teto das estimativas, de 2,2%, segundo o Projeções Broadcast. O setor renovou o recorde da série histórica no mês, indicando um quadro ainda mais desafiador para a política monetária via inflação de serviços.