Os juros futuros terminaram a segunda-feira perto dos ajustes anteriores, com viés de alta na maioria dos contratos, na ausência de um condutor firme para os negócios. Após a devolução de prêmios no acumulado da semana passada, ensaiaram uma realização de lucros nesta segunda-feira a partir do aumento das apostas em alta de juro nos Estados Unidos, que pressionou para cima os rendimentos dos Treasuries, e do ajuste do câmbio, mas a expectativa pela entrega do arcabouço fiscal no Congresso limitou a correção.
Nos vencimentos mais curtos, houve certo desconforto com os resultados da pesquisa Focus indicando que o IPCA de março perto do piso das estimativas não evitou oscilação para cima nas medianas de inflação, mas pode ter influenciado a redução da estimativa para a Selic.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,22%, de 13,19% na sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 passou de 11,88% para 11,90%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 11,72%, de 11,74%, e a do DI para janeiro de 2029 ficou em 12,03% (de 12,09%). Com média diária de 816 mil contratos nos últimos 30 dias, o DI para janeiro de 2025, que tem sido o mais negociado, hoje girou apenas 387.233.
Nos Treasuries, no fim da tarde, a taxa da T-note de dez anos projetava 3,59% e a de dois anos subia aos 4,20%. Mesmo com o exterior dando a senha para que a curva voltasse a incorporar prêmios, o mercado evitou se posicionar aguardando o encaminhamento do texto fiscal ao Congresso, esperado para hoje, depois do fechamento, mas que foi adiado, em função da agenda do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que está em São Paulo Após um vaivém de informações de ministros e lideranças no Congresso sobre se a peça seria entregue amanhã ou na quarta-feira, ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou que será entregue amanhã e que o texto é o mesmo que já foi apresentado, “com uns detalhezinhos legais”.
O gerente de renda fixa da Nova Futura Investimentos, André Alirio, afirma que a expectativa pelo andamento da proposta hoje de certa forma travou o mercado, que tem estado atento à questão das receitas que, pela regra, precisam crescer mais do que as despesas. Ele lembra ainda que a agenda da semana pode ter inibido o apetite pelos negócios – hoje à noite, por exemplo, sai o PIB da China.
“Ainda tem a questão externa, sobre se o que vai prevalecer para a política monetária no mundo é o comportamento da inflação ou são os riscos de recessão”, acrescentou. Como exemplo, ele destaca que, na reunião de primavera, o saldo das mensagens do Fundo Monetário Internacional (FMI) foi de que, se de um lado os bancos centrais parecem estar finalizando os ciclos de aperto, de outro, a desinflação lenta e a questão fiscal ainda não dão previsibilidade para o início dos ciclos de cortes de juros.
No Brasil, essa projeção sobre o timing para queda da Selic segue nublada pela desancoragem das expectativas de inflação futuras em relação às metas, evidenciadas mais uma vez pelo Boletim Focus. Mesmo com o IPCA de março (0,71%) bem abaixo da mediana das estimativas (0,77%), as medianas subiram, ainda que marginalmente. A do IPCA deste ano passou de 5,98% para 6,01% e a de 2024, de 4,14% para 4,18%. Por outro lado, a mediana de Selic para o fim de 2023, caiu 12,75% para 12,50%, “em linha com os recentes ajustes para baixo na curva de juros de mercado, que consolidaram a expectativa de corte da taxa básica nos próximos meses após a divulgação do novo arcabouço fiscal”, avalia a analista da Tendências Luiza Benamor. “Apesar disso, a pesquisa apresentou pequenos aumentos nas projeções de inflação para 2023 e 2024, sugerindo que o quadro inflacionário permanece como fonte de preocupação”, disse.