Segundo a entidade, a alegação de que os altos juros do crédito rotativo se devem ao parcelamento sem juros carece de embasamento analítico
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) juntou-se nesta quarta-feira (16) a uma série de entidades do comércio e serviços contrárias à proposta de encerrar a modalidade de compras parceladas sem juros no Brasil.
O posicionamento vem após o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmar na semana passada que a autoridade monetária estuda criar uma “tarifa” para inibir a compra no crédito em uma quantidade elevada de parcelas. Ele também indicou que o BC estuda acabar com o crédito rotativo do cartão. Campos Neto defendeu a possibilidade de o crédito ir direto para o parcelamento, no qual a taxa é de cerca de 9%. Em junho, o patamar do rotativo atingiu 437,25%.
Conforme a FecomercioSP, restrições ou barreiras à utilização do parcelamento sem cobrança de juros podem acarretar consequências adversas na economia. O crédito, junto com o emprego e a renda, desempenha um papel crucial na definição dos padrões de consumo da população. A entidade também destaca que essa ferramenta desempenha um papel vital no desempenho econômico do comércio varejista do país, servindo como um impulsionador da inclusão financeira e social.
A instituição defende que a proposta pode ser meramente retórica, possivelmente apresentada como uma medida para acalmar as preocupações do mercado. E é exatamente nesse processo de busca por soluções alternativas que existe o perigo de enfraquecer a modalidade de parcelamento sem juros, embora esta modalidade não seja a principal responsável pela falta de pagamento.
A federação argumenta que a alegação de que os altos juros do crédito rotativo se devem ao parcelamento sem juros carece de embasamento analítico. Pelo contrário, o cerne do problema reside nas taxas excessivamente elevadas associadas a esse mecanismo. Essa análise se torna ainda mais evidente ao observar a grande influência financeira que o setor emissor de cartões de crédito exerce.
Uma análise conduzida pelo J.P. Morgan revela que a indústria de cartões de crédito é intrinsecamente rentável e que os juros cobrados no crédito rotativo não desempenham um papel essencial na compensação dos custos associados ao parcelamento. Na verdade, o parcelamento em si se configura como uma fonte significativa de lucro para as instituições bancárias. No ano de 2022, o setor emissivo de cartões de crédito movimentou uma impressionante quantia de R$ 85 bilhões. Dessa cifra, a Tarifa de Intercâmbio (TIC) correspondeu a R$ 23,7 bilhões (representando 28% do total), enquanto os juros do crédito rotativo somaram R$ 26,9 bilhões (equivalente a 32%) e o parcelamento com taxas de juros agregou R$ 22,3 bilhões (correspondendo a 26% do montante total).