Investigação aberta pelo MPE-MS (Ministério Público Estadual) após o CRM-MS (Conselho Regional de Medicina) constatar a falta de materiais básicos para prevenção ao novo coronavírus (Covid-19) no Posto de Saúde da Seleta, em Dourados, descobriu que a situação ocorre também em outras unidades do município, uma delas sem papel toalha há mais de um ano.
Ainda em 13 de abril, o promotor Etéocles Brito Mendonça Dias Junior, da 10ª Promotoria de Justiça, determinou envio de ofício para que seis unidades de saúde escolhidas aleatoriamente informassem suas condições de trabalho. De três respostas anexadas ao Procedimento Preparatório nº 06.2020.00000515-8, somente uma indica condições adequadas de trabalho.
Em ofício assinado na quarta-feira (22), a coordenação da Unidade de Saúde Ouro Verde revela não haver equipamentos de proteção individual apropriados, como óculos de proteção, máscara cirúrgica, máscara N95 ou equivalente, protetor facial, capote. “Não temos álcool 70′ em gel vindo da Prefeitura, temos apenas o que compramos. O que temos de álcool 70′ líquido é em pequena quantidade, que nos foi doado. Estamos sem toalha de papel há mais de 1 ano. Não temos material educativo para a prevenção do COVID-19”, detalha.
Na mesma data, a coordenação do Posto de Saúde do Jardim Guaicurus informou condições semelhantes. “[…] temos o mínimo de material necessário, não possuímos estoques de máscaras, gorro, avental e óculos de proteção, visando que para ter o mínimo de material para atendimento buscamos sempre o almoxarifado da Secretaria Municipal de Saúde. O Almoxarifado da Secretaria Municipal de Saúde tem disponibilizado pequenas quantidades de materiais como máscaras cirúrgicas descartáveis, álcool em gel, papel toalha, gorro e avental descartável”, relatou.
O documento ressalta ainda que uma empresa local fez doação para a secretaria “onde cada equipe de saúde da família foi contemplada com 10 litros de álcool líquido 70 %”, esclareceu que não dispor dos kits de teste para o Covid-19 porque esse fluxo foi designado à UPA (Unidade de Pronto Atendimento), e acrescentou que “os atendimentos aos pacientes com quadro gripal, são realizados na parte externa do posto, em uma tenda auxiliar, seguindo ao máximo as preconizações do Ministério da Saúde”.
“A nebulização não está sendo realizada na unidade básica de saúde, devido ao local que estão instalados os fluxos de O2 e ar comprimido, pois o ambiente é pequeno e sem muita ventilação e também não há espaçadores ou sprays de salbutamol. Informo que não temos folders informativos para distribuição aos pacientes, somente os expostos com orientações no Mural da Unidade de Saúde Erisvaldo Mendonça dos Santos”, finaliza.
Situação oposta foi descrita pela coordenação da Unidade Básica de Saúde do Parque das Nações I, que relatou dispor de “EPIs (gorro, avental e mascaras cirúrgica) em quantidade suficiente para a demanda da UBS” e disse que “sempre que solicitamos a central de abastecimento (almoxarifado da SEMS) somos atendidos”.
“Temos óculos protetores facial para os profissionais médicos que atendem diretamente ao usuário de SR, álcool 70%, álcool em gel, papel toalha, hipoclorito, e em relação ao sabonete líquido só temos o que está sendo usado nos frascos das salas e consultórios e somos supridos sempre que solicitamos”, elencou.
Além disso, esclareceu que essa UBS funciona das 7h às 11h e das 13 às 17h, com demanda reduzida de usuários por seguir “as orientações do Comitê de gerenciamento da emergência de saúde pública COGE de atendimento somente de casos urgentes, SR, sintomáticos de Dengue, Pré Natal, consulta puerperal, vacinação”.
Quanto à nebulização, indicou ser contraindicada no protocolo de COVID-19, razão pela qual não tem sido realizada. “Na recepção quando o paciente relata SR já é entregue uma máscara cirúrgica e priorizamos o atendimento, aos usuários que necessitam aguardar solicitamos que aguardem do lado de fora da UBS na varanda demarcada com os espaços preconizados e elaboramos um folder para orientações básicas aos usuários”.
O Dourados News encaminhou e-mail à assessoria de comunicação da Prefeitura de Dourados com pedido de posicionamento sobre a situação relatada na investigação do MPE, mas não obteve resposta até a publicação dessa matéria.
Na semana passada, porém, quando foi revelada a falta de materiais no posto de saúde da Seleta, a administração municipal informou à reportagem que iria providenciar todos os materiais necessários dentro do prazo legal.
No dia 31 de março, homologou três dispensas de licitação que totalizam R$ 247.960,00 para aquisição de mil testes rápidos para diagnóstico da doença, 5 mil pacotes de avental descartável com manga longa, gramatura de 20 gramas, e 300 unidades de óculos de proteção em acrílico incolor. Somente a compra 2,4 mil unidades de álcool gel antisséptico 70% 500 ml por R$ 90.960,00 não deve ser concretizada porque há suspeita de sobrepreço. (saiba mais)
Fonte:Dourados News