A vida pode ter muitos palcos, entre eles o tatame. Foi nesse espaço que Enio Marcelo Buzaneli, 48 anos, servidor da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS), enfrentou dezenas de adversários, tornando-se multicampeão de jiu-jítsu. Em outros “tatames”, também enfrentou a si mesmo, finalizando hábitos sedentários e iniciando uma rotina com mais qualidade de vida.


Enio durante luta em que conquistou o tetracampeonato brasileiro

(Foto: Arquivo pessoal)

Na Casa de Leis, o lutador Enio é diretor de Tecnologia da Informação. No jiu-jítsu, o servidor da ALEMS é faixa-preta e tem, entre seus principais títulos, o de tetracampeão estadual, tricampeão brasileiro, bicampeão pela Federação Sul-mato-grossense de Jiu-Jitsu (FSMJJ), bicampeão pela Superliga de Jiu-Jitsu, além de um ouro no Sul-Americano e três bronzes em Mundial. As vitórias lhe renderam mais de uma centena de medalhas em 14 anos de prática do esporte.

Antes das conquistas no tatame, Enio estava perdendo valiosos pontos na luta contra um adversário comum na vida de diversas pessoas: o sedentarismo.  “Vivia cansado, estressado. Estava acima do peso, com 108 quilos. Fui fazer uma consulta médica. Aí deu colesterol, triglicerídeos, taxa de açúcar no sangue alta… Vida sedentária, né? O médico me deu o conselho de procurar um esporte”, contou.

Na época em que o médico indicou a iminência do sinal vermelho, Enio tinha 34 anos. “Estava muito ruim para a idade”, admite o lutador. Ele compreendeu a necessidade urgente de mudança de hábitos e procurou fazer o que o médico lhe orientara. “Como já gostava de esporte de combate, fui buscar algo assim e cheguei ao jiu-jítsu”, disse.

Vitórias no tatame


Enio também conquistou vitória na modalidade “sem pano” 

(Foto: Arquivo pessoal) 

A saúde começou a melhorar com a prática do esporte e alimentação balanceada. Objetivo inicial atingido. Mas o clima de academia de jiu-jítsu, cercado de competidores, terminou levando Enio a entrar no mundo dos campeonatos. “Estava na academia e a galera estava se movimentando para uma competição em Dourados, se não me engano. Aí o professor perguntou se eu não queria ir. Fiquei meio tímido, porque não pensava em competir. Achava que já estava velho pra isso. Mas, como a galera era uma turma muito boa, resolvi ir”, recorda-se.

De início, Enio teve de conviver com as derrotas. “Eu lembro que nas quatro primeiras competições, eu perdi na primeira luta”, contou. Depois, começaram as conquistas. Ele estima ter participado de mais de 80 campeonatos em níveis estadual, nacional, sul-americano e mundial. E subiu ao pódio em muitos deles.

A mais recente vitória foi a do tricampeonato brasileiro, em evento realizado em Campo Grande no último fim de semana. Além do terceiro título brasileiro de jiu-jítsu com kimono, também foi campeão na modalidade sem pano em duas categorias. “Cada gota de suor, cada treino árduo e cada batalha enfrentada no tatame me trouxeram até aqui”, postou Enio em uma de suas redes.

Para além do tatame


O servidor comemora a vitória, mas suas conquistas vão além do tatame

(Foto: Arquivo pessoal)

Além dos títulos nos campeonatos, o jiu-jítsu proporcionou a Enio outras vitórias relativas a novos modos de entender e viver a vida. “Eu aprendi que o jiu-jítsu é além dos tatames. Ele te traz autoconfiança muito grande, autonomia para tomar decisões rápidas, porque o esporte te cobra isso durante as lutas e os treinos. E te dá muita resiliência, porque te ensina que nem todo dia é dia de se ganhar. Tem o dia de se perder também. Costumo dizer que o jiu-jítsu imita a vida: às vezes, estamos por cima; outras vezes, estamos por baixo”, metaforiza.

E nessas transformações suscitadas pelo jiu-jítsu, estão as que, inicialmente, levaram Enio ao esporte: o cuidado com a saúde. “Antes, eu tomava remédio pra pressão alta, remédio pra dormir. Hoje eu não tomo mais nada. Não tenho mais dor de cabeça. Nunca mais tive estresse”, lista o lutador.

A partir de sua experiência, Enio deixa um recado para quem pensa na prática do jiu-jítsu, mas acha que está velho para isso: “No jiu-jítsu, não tem idade. Ele se adapta a qualquer idade. É um esporte totalmente adaptativo. Desde que a pessoa não tenha nada patológico que limite os movimentos ou que seja algo perigoso pra sua saúde, pode sim praticar o jiu-jítsu. Eu sugiro que comece. É excelente pra saúde”.