Postagens de Sérgio Camargo nas redes sociais ironizando o racismo e a situação do negro no Brasil causaram forte reação do movimento
São Paulo – O governo federal publicou, em edição extra do Diário Oficial da União, a suspensão da nomeação do jornalista Sérgio Nascimento de Camargo para o cargo de presidente da Fundação Cultural Palmares. Criada em 1988, a fundação integra a Secretaria, antigo Ministério da Cultura. Segundo a Secretaria Especial de Cultura, a medida é apenas para atender a uma decisão da Justiça, sob pena de incorrer em descumprimento de ordem judicial.
No dia 4, o juiz da 18ª Vara Federal de Sobral (CE), Emanuel José Matias Guerra, já havia suspendido a nomeação para o órgão de promoção da cultura afro-brasileira. O magistrado acolheu ação popular de autoria do advogado Hélio de Sousa Costa, que apontou incompatibilidade entre declarações feitas pelo nomeado em suas redes sociais e os propósitos da Fundação Palmares. Cabe recurso da decisão – se acatado, Camargo volta a assumir a pasta.
A escolha foi feita pelo secretário especial da Cultura, Roberto Alvim. Segundo o órgão, Camargo “defende que o negro não precisa ser vítima, nem precisa ser de esquerda, e trabalha pela libertação da mentalidade que escraviza ideologicamente os negros, gerando dependência de cotas e do assistencialismo estatal”.
Excessos
Em sua decisão, Matias Guerra apontou a “existência de excessos” por parte de Camargo. Apesar de indicado para dirigiru uma fundação voltada a promover e preservar valores culturais, históricos, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira, o jornalista tripudiava do racismo e da condição do negro no Brasil.
Camargo já sugeriu, por exemplo, uma medalha a “branco que meter um preto militante na cadeia por crime de racismo”. Disse ser “preciso que Marielle morra. Só assim ela deixará de encher o saco”. Também afirmou que “se você é africano e acha que o Brasil é racista, a porta da rua é serventia da casa”.
Para ele, racismo real existe nos Estados Unidos. “A negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda”, afirmou nas redes sociais. Camargo prega, ainda, a extinção do movimento negro. “Fortalecê-lo é fortalecer a esquerda.” E considera a escravidão terrível, mas “benéfica” para descendentes: “Negros do Brasil vivem melhor que os negros da África”.
Reação contrária
A nomeação de Camargo causou fortes reações entre os integrantes do movimento negro no Brasil. O irmão dele, Wadico Camargo, afirmou ter vergonha de ser irmão de um “capitão do mato”, que era o responsável por capturar e entregar escravos fugitivos.
Presidenta da Unegro, Claudia Vitalino lembrou que a Fundação Palmares deve agir pra defender a cultura afro-brasileira, para preservar e ampliar direitos. “E, infelizmente, esse senhor ele não veio pra gerir, ele veio pra função de desconstruir todo o legado que vários negros e negras construíram.”
A publicação do DOU anulou também a nomeação da arquiteta Luciana Rocha Feres para a presidência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Não há outro nome indicado.
Com informações da Folha de S.Paulo, do G1 e do Correio BrazilienseREGISTRADO EM: FUNDAÇÃO PALMARES, GOVERNO BOLSONARO, RACISMO, ROBERTO ALVIM, SÉRGIO CAMARGO
Fonte: RBA