Acima, o powerpoint do Gabinete do Ódio
Da Redação
O laboratório forense digital que fez a investigação que derrubou a rede de fake news bolsonarista no Facebook, DFRLab, define sua missão como
“identificar, expor e explicar a desinformação onde e quando ocorre usando a pesquisa de código aberto; promover a verdade objetiva como fundamento do governo para e pelas pessoas; proteger instituições e normas democráticas daqueles que procurariam miná-las no espaço de engajamento digital”.
O laboratório é financiado pelo Atlantic Council, um think tank fundado em 1961 em Washington, que hoje é dirigido por John F. W. Rogers, um executivo da poderosa Goldman Sachs.
É uma entidade fortemente engajada na defesa do establishment dos Estados Unidos, que define parcialmente sua missão como “através dos documentos que publica, das idéias que gera, dos futuros líderes que desenvolve e das comunidades que constrói — molda as escolhas e estratégias de políticas para criar um mundo mais livre, seguro e próspero”.
Em sua investigação, o laboratório detalhou metodicamente o funcionamento da máquina de fake news de Bolsonaro, inclusive com um gráfico interativo sobre quem é quem.
A acusação mais grave: funcionários de gabinetes parlamentares, pagos com dinheiro público, atuavam em horário de trabalho.
O de mais alto escalão: Tercio Arnaud Tomaz, que no Palácio do Planalto fica no entorno de Jair Bolsonaro, depois de ter servido ao vereador Carlos Bolsonaro no Rio de Janeiro.
Abaixo, a íntegra da investigação, traduzida do site do DFRLab:
Facebook remove rede não autêntica ligada a aliados de Bolsonaro
Operação de influência promoveu o presidente brasileiro Jair Bolsonaro e atacou seus rivais
O Facebook anunciou em 8 de julho de 2020 que removeu uma rede de contas, páginas e um grupo intimamente ligado ao presidente brasileiro Jair Bolsonaro e ao partido que o levou ao cargo, o Partido Social Liberal de direita (PSL).
A empresa afirmou que a rede está vinculada a funcionários dos gabinetes de Bolsonaro e seus filhos Eduardo e Flávio Bolsonaro — que servem na Câmara dos Deputados e no Senado, respectivamente –, além de dois parlamentares do PSL, Alana Passos e Anderson Moraes.
O DFRLab não pôde confirmar os links para Flávio Bolsonaro, mas descobriu que um membro da rede está conectado a um terceiro filho, Carlos Bolsonaro, e outro é empregado por Coronel Nishikawa, também legislador estadual do PSL.
Os ativos removidos tinham um público combinado de mais de 2 milhões de contas.
Ao longo de sua campanha eleitoral de 2018, os rivais políticos de Jair Bolsonaro — incluindo ex-aliados e membros de seu governo — enfrentaram ataques e assédio online direcionados.
Esses ataques não diminuíram quando Bolsonaro assumiu o cargo; se alguma coisa, eles receberam legitimidade institucional.
De acordo com ex-apoiadores de Bolsonaro, um grupo de aliados apelidado de “Gabinete do Ódio” está atualmente envolvido na coordenação de campanhas de assédio e desinformação dirigidas a políticos, funcionários públicos e jornalistas críticos de Bolsonaro, com rumores de apoio institucional.
A manipulação de informações, incluindo desinformação, é uma parte central dessa estratégia.
A Suprema Corte do Brasil investigou o financiamento de campanhas de desinformação e assédio contra a Corte e seus ministros.
Em 27 de maio de 2020, a Polícia Federal realizou buscas para executar 29 mandados contra empresários e influenciadores, como parte do inquérito da Suprema Corte.
A decisão da Suprema Corte mencionou uma conta no Twitter (@bolsoneas) que pertence a uma das pessoas responsáveis por páginas e contas removidas posteriormente pelo Facebook.
Enquanto membros de seu círculo interno enfrentam várias investigações abertas sobre suspeitas de irregularidades, Bolsonaro travou uma batalha política contra a Suprema Corte e o Congresso.
Ataques online contra essas instituições e seus membros foram traduzidos offline, com os apoiadores do presidente participando de protestos agressivos nas ruas, pedindo o fechamento do Congresso e do STF.
De acordo com o Facebook, o conjunto de 88 ativos — 14 páginas do Facebook, 35 contas pessoais, 38 páginas do Instagram e um grupo — estavam envolvidos em um comportamento não autêntico, coordenado, executando uma rede que trabalhava para enganar o público doméstico sistematicamente, ocultando a identidade dos operadores.
Em seu anúncio oficial, o Facebook declarou:
Essa rede consistia em vários clusters de atividades conectadas que contavam com uma combinação de contas duplicadas e falsas — algumas das quais foram detectadas e desativadas por nossos sistemas automatizados — para evitar a fiscalização, criar personas fictícias se passando por repórteres, publicar conteúdo e gerenciar páginas disfarçadas de veículos de notícias. Publicavam notícias sobre eventos locais, inclusive sobre política e eleições domésticas, memes políticos, críticas à oposição, a organizações de mídia e jornalistas e, mais recentemente, publicaram sobre a pandemia de coronavírus. Parte do conteúdo publicado por esta rede já havia sido retirado por violações dos Padrões da Comunidade, incluindo discurso de ódio.
Encontramos essa atividade como parte de nossa investigação sobre suspeita de comportamento inautêntico coordenado no Brasil, relatado pela imprensa e referenciado em recentes depoimentos no Congresso no Brasil.
Embora as pessoas por trás dessa atividade tentassem ocultar suas identidades e coordenação, nossa investigação encontrou links para indivíduos associados ao Partido Liberal Social e a alguns dos funcionários dos gabinetes de Anderson Moraes, Alana Passos, Eduardo Bolsonaro, Flávio Bolsonaro e Jair Bolsonaro.
O DFRLab teve acesso a um subconjunto de 80 ativos antes de serem removidos da plataforma, como resultado de sua parceria com o Facebook que monitora interferência eleitoral.
Entre os ativos estavam contas duplicadas e falsas que promoveram Bolsonaro e seus aliados em vários grupos do Facebook, além de páginas com centenas de milhares de seguidores que publicaram memes pró-Bolsonaro e outros conteúdos que depreciam seus críticos.
Embora as páginas não declarassem abertamente que estavam ligadas a Bolsonaro e seus aliados, várias estavam ligadas a políticos pró-Bolsonaro.
Notavelmente, o envolvimento dos funcionários na operação pode indicar um possível uso indevido de fundos públicos, pois muitas das postagens foram publicadas durante o horário de trabalho.
Parte da rede foi criada antes das eleições de 2018 e atuou para promover Bolsonaro e atacar seus oponentes durante a campanha, às vezes empregando meios de comunicação hiperpartidários.
Esse comportamento é consistente com os relatos de como o suposto Gabinete de Ódio opera.
Mais recentemente, algumas das contas atacaram o Congresso e o Supremo Tribunal Federal e foram, assim como Bolsonaro, pressionando a idéia de que a COVID-19 não era uma ameaça séria, sugerindo que o Brasil não deveria adotar medidas de distanciamento social.
Em 7 de julho de 2020, o Brasil registrou mais de 66.800 mortes e 1,67 milhão de casos de COVID-19, incluindo o próprio Jair Bolsonaro.
Os jogadores
O DFRLab conseguiu recriar a rede de ativos observando propriedade comum, seguidores e padrões semelhantes entre eles.
Os ativos da rede pertenciam a vários clusters, divididos pelo DFRLab pelas cidades em que os funcionários que os operavam estavam baseados: Brasília, Rio de Janeiro e São Bernardo do Campo.
O maior subconjunto da rede parecia estar conectado à operação do Rio de Janeiro, vinculada aos congressistas do Rio Alana Passos e Anderson Moraes.
O presidente Bolsonaro morava no Rio e foi um congressista representante do estado por quase 30 anos.
Esses subconjuntos empregavam estratégias únicas que os distinguiam.
Enquanto os conjuntos Rio e São Bernardo fizeram uso proeminente de contas duplicadas e falsas, o DFRLab identificou poucos perfis falsos no cluster de Brasília.
Além disso, os clusters Rio e São Bernardo operavam meios de comunicação externos, hiperpartidários, o que não era o caso de Brasília.
O gráfico mostra as conexões entre contas e páginas; os nós com imagens representam funcionários, funcionários e ex-funcionários identificados pelo DFRLab.
Contas da família Bolsonaro não foram removidas. Uma versão interativa do gráfico pode ser encontrada no topo.
Ao todo, os atuais e ex-funcionários de cinco apoiadores do governo foram identificados pelo DFRLab como conectados à operação, incluindo funcionários do presidente Jair Bolsonaro; dois de seus filhos, Eduardo e Carlos Bolsonaro; Alana Passos e Anderson Moraes, membros da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro; e Coronel Nishikawa, um legislador do Estado de São Paulo.
O Facebook também mencionou funcionários de Flávio Bolsonaro, mas essa descoberta não pôde ser corroborada pelo DFRLab, pois os ativos conectados a ele não estavam mais na plataforma e, portanto, não faziam parte do conjunto analisado.
Enquanto isso, o Facebook não mencionou Carlos Bolsonaro em sua declaração oficial, mas o DFRLab descobriu que um dos funcionários envolvidos na operação trabalhava para ele.
Coronel Nishikawa também não foi mencionado pelo Facebook.
Nenhuma dessas autoridades teve suas contas pessoais removidas e o Facebook não encontrou evidências na plataforma que as conectassem diretamente às contas não autênticas.
Os operadores do esquema, no entanto, incluem membros de suas equipes atual e antiga, alguns dos quais tiveram suas contas removidas pelo Facebook.
O único operador diretamente empregado por Bolsonaro foi Tercio Arnaud Tomaz, consultor do gabinete do presidente.
Arnaud é mais conhecido como gerente da popular página do Facebook “Bolsonaro Oppressor 2.0”, uma página pró-Bolsonaro no Facebook que tinha cerca de 1 milhão de seguidores, mas atualmente está offline.
Em 2019, os meios de comunicação revelaram que, apesar de ser listado como funcionário de Carlos Bolsonaro na Câmara Municipal do Rio, Arnaud estava trabalhando com a equipe de comunicação digital da campanha presidencial de Bolsonaro.
Arnaud atualmente trabalha em um escritório a alguns metros do gabinete presidencial de Bolsonaro, de acordo com relatos da mídia, e tem um salário mensal de R$ 13.600,00.
Segundo ex-aliados de Bolsonaro, o chamado Gabinete do Ódio é supostamente dirigido por Arnaud, ao lado de outros dois funcionários: José Matheus Salles Gomes e Mateus Matos Diniz.
Um funcionário de Eduardo Bolsonaro, Paulo Eduardo Lopes, mais conhecido como Paulo Chuchu, aparece como um dos principais operadores de rede.
Paulo Chuchu é o líder da Aliança para o Brasil na cidade de São Bernardo do Campo, na região da grande São Paulo.
Chuchu é empregado de Eduardo Bolsonaro e recebe um salário de R$ 7.800 por mês.
Em sua página oficial do Facebook, que não foi removida, Chuchu afirma que trabalha para a família Bolsonaro há cinco anos.
Duas contas que levavam o nome de Eduardo Guimarães — outro funcionário de Eduardo Bolsonaro — também foram removidas.
Como nenhuma dessas contas incluía imagens de Guimarães ou outras informações de identificação, o DFRLab não pôde confirmar que as contas estavam conectadas a ele.
De acordo com um documento discutido durante a investigação do Congresso, Guimarães costumava dirigir uma conhecida e extinta página do Instagram chamada “Bolsofeios”, que publicava conteúdo semelhante ao das páginas desta rede.
Dois operadoras da rede estão conectadas a legisladores do Estado do Rio, Alana Passos e Anderson Moraes.
Enquanto isso, Leonardo Rodrigues de Barros Neto, também conhecido como Leonardo Bolsoneas, criou as páginas “Bolsoneas” no Facebook e Instagram.
Bolsoneas é uma junção entre o nome de Bolsonaro e o primeiro nome de Enéas Ferreira Carneiro, um ex-político conservador no Brasil já morto.
Até abril de 2020, Leonardo trabalhou para o congressista Passos, que pertence ao ex-partido de Bolsonaro, PSL.
Enquanto funcionário de Passos, recebia um salário de cerca de R$ 5.000 mês.
Enquanto isso, Vanessa Navarro, namorada de Leonardo, trabalha para Anderson Moraes na Assembléia Estadual do Rio. Ela recebe um salário mensal de cerca de R$ 2.000.
Bolsonaro parece ter conexões pessoais com o casal, pois enviou vídeos elogiando Leonardo pela página Bolsoneas e outro parabenizando Vanessa pelo aniversário dela, que a página postou mais tarde.
A página do Twitter de Bolsoneas aparece na investigação de “notícias falsas” da Suprema Corte.
Leonardo não estava entre as pessoas alvo de buscas policiais em 27 de maio, mas o tribunal exigiu que o Twitter desse detalhes sobre o registro da página.
O Twitter suspendeu a conta Bolsoneas em 7 de julho.
Por fim, um operador do esquema estava conectado ao deputado estadual de São Paulo Coronel Nishikawa, também do partido PSL, que tem seu principal eleitorado na região de São Bernardo do Campo.
Um de seus funcionários, Jonathan William Benetti, usou contas falsas para impulsionar o conteúdo que apoia Bolsonaro e Nishikawa.
Duas das contas de Benetti incluem pôsteres de Bolsonaro, um dos quais é uma imagem que mostra o presidente com Nishikawa.
Imagens adicionais indicam que Benetti estava executando contas duplicadas no Facebook.
Em uma das contas, ele afirma trabalhar para o governo do Estado de São Paulo, mas ele realmente trabalha para a casa legislativa estadual. Muitas das contas duplicadas são amigas umas das outras.
Leonardo Bolsoneas e Vanessa Navarro usaram uma estratégia semelhante de contas falsas e parecem estar conectados a 13 contas que usam variações de seus nomes.
Essas contas foram usadas para postar conteúdo pró-Bolsonaro em diferentes grupos e páginas.
Algumas das contas falsas da rede foram usadas para postar mensagens positivas sobre Bolsonaro e seus aliados em vários grupos do Facebook, incluindo grupos não dedicados à política.
Além disso, uma conta não autêntica era administradora de um grupo e uma página que trabalhava para promover Bolsonaro; todos os três ativos foram removidos pelo Facebook.
Memes e ataques direcionados
Muitas páginas do conjunto foram dedicadas à publicação de memes e conteúdo pró-Bolsonaro enquanto atacavam rivais políticos.
Uma dessas páginas foi a página do Instagram @bolsonaronewsss. A página é anônima, mas as informações de registro encontradas no código-fonte da página confirmam que pertencem a Tercio Arnaud. O @bolsonaronewsss tinha 492.000 seguidores e mais de 11.000 posts.
O conteúdo era enganoso em muitos casos, empregando uma mistura de meias-verdades para chegar a conclusões falsas.
Um relato alegou que a reação à pandemia de COVID-19 foi exagerada e que a hidroxicloroquina, um medicamento fortemente promovido por Bolsonaro como uma cura para o coronavírus, poderia matar o vírus.
Para apoiar essas alegações, as contas citaram a declaração inicial da Organização Mundial da Saúde de que a disseminação assintomática do COVID-19 era “muito rara,” sem incluir o esclarecimento subsequente de que os cientistas ainda precisam determinar a frequência da transmissão assintomática.
A página também destacou a retração de um grande estudo da revista médica Lancet que levantou preocupações de segurança e eficácia sobre o uso da hidroxicloroquina no tratamento da COVID-19, mas não explicou que ainda não há evidências científicas conclusivas de que o medicamento seja um tratamento eficaz ou seguro para o vírus.
Uma página complementar do Facebook, também chamada “Bolsonaro News”, compartilhava o mesmo conteúdo que a página do Instagram.
As páginas do Bolsonaro News, principalmente no Instagram, também usavam memes para atacar ex-aliados de Bolsonaro, uma tática do suposto Gabinete do Ódio revelado no decorrer da investigação do Congresso.
Esse comportamento persistiu durante a campanha eleitoral de 2018 e continuou depois que Bolsonaro assumiu o cargo.
Muitas dessas postagens foram publicadas durante o horário de trabalho, o que pode ser uma indicação de que Tercio Arnaud estava postando neste site — que não está oficialmente conectado à Presidência — durante o horário oficial de seu escritório.
Algumas páginas removidas pelo Facebook também usaram memes e imagens para atacar a Suprema Corte.
A página do Facebook “Bolsoneas”, por exemplo, publicou um artigo citando a ex-secretária de Cultura Regina Duarte como dizendo que o Supremo Tribunal deveria ser fechado; a página sugeria que essa afirmação era uma das razões pelas quais apoiava Duarte.
Além disso, uma página do Instagram chamada “Direita Zona Norte RJ”, conectada ao cluster do Rio de Janeiro, usou a hashtag #STFVergonhaNacional (“Supremo Tribunal Federal, vergonha nacional”), enquanto Vanessa Navarro usou a hashtag # STFEscritóriodoCrime (“STF Crime Office”)
As duas hashtags estavam entre os termos de pesquisa que o Supremo Tribunal Federal incluiu em sua investigação e no mapeamento de ataques coordenados online contra a instituição.
Ampliando sites hiperpartidários
Dois dos maiores ativos da rede, como as páginas “Bolsoneas” no Instagram e no Facebook criadas por Leonardo Rodrigues de Barros Neto, também publicavam ataques contra os rivais políticos de Bolsonaro.
Mas, diferentemente dos ativos do Bolsonaro News, as contas usavam manchetes e sites hiperpartidários, caracterizados como meios de comunicação, além de postar memes.
A contagem combinada de seguidores de ambas as páginas foi superior a 1 milhão de pessoas.
Enquanto isso, no Twitter, uma conta com o mesmo nome que postou o mesmo conteúdo tem mais de 200.000 seguidores.
Em 27 de maio de 2020, a Suprema Corte exigiu que o Twitter divulgasse informações sobre o proprietário da conta.
A maior parte dos sites pertencia a pessoas familiares ao ecossistema hiperpartidário de mídia do Brasil, com exceção de um: Jogo Político.
Jogo Político se descreve como uma “página digital independente formada por autores que têm acesso às notícias nos bastidores”.
Os dados do WHOIS, no entanto, listam Leonardo Rodrigues como seu proprietário, indicando que, além das páginas “Bolsonéas”, Leonardo também está por trás das páginas do Instagram e do Facebook Jogo Político, que o Facebook removeu agora.
A página de Bolsonéas amplificava as histórias de Jogo Político.
O site Jogo Político começou a ser publicado em 23 de abril de 2020, mas a página do Facebook relacionada a ele foi criada vários dias antes, em 17 de abril.
Por serem relativamente novos, esses ativos não foram capazes de reunir um número significativo de seguidores antes de serem retirados do ar, mas as evidências demonstram que essa rede se expandiu além do Facebook.
Ativos fora da plataforma também apareceram no cluster da rede conectada a Eduardo Bolsonaro.
Paulo Chuchu é dono de um site chamado The Brazilian Post, que também teve suas páginas do Facebook e Instagram removidas.
As páginas, assim como o site, promoveram a Aliança para o Brasil na cidade de São Bernardo do Campo, bem como atacaram os rivais do partido e a imprensa local.
No Facebook, The Brazilian Post também foi responsável por criar um grupo público chamado “Notícias de São Bernardo do Campo”.
O grupo, no entanto, não declarou publicamente que estava conectado à família Bolsonaro.
Jair Bolsonaro invocou muitas vezes o espectro das “notícias falsas” como um golpe político, acusando seus oponentes de realizar campanhas de desinformação em um esforço para minar seu governo.
Esse dispositivo retórico é o favorito dos autoritários modernos porque serve a um objetivo duplo, agrupando ao mesmo tempo a base política e silenciando oponentes e os cães de guarda que trabalham para expor a corrupção do governo.
Vários membros do círculo interno de Bolsonaro estão atualmente sob investigação pelo Supremo Tribunal por supostas irregularidades, incluindo a orquestração de campanhas de assédio político contra os juízes do tribunal.
Essas investigações apenas levaram Bolsonaro a intensificar seus ataques políticos à Corte, uma medida que muitos brasileiros consideram uma afronta à independência judicial.
Os aliados de Bolsonaro já foram acusados de executar operações de informação, mas é a primeira vez que seus funcionários são conectados a contas não autênticas.
Essa rede conduziu uma operação significativa e duradoura, que remonta a pelo menos a campanha presidencial de 2018 e acumulou uma audiência de milhões de pessoas, que fundiu spin político e desinformação com assédio online direcionado — uma receita aparentemente aperfeiçoada pelo suposto Gabinete do Ódio e detalhada no inquérito parlamentar em andamento.
Luiza Bandeira é pesquisadora associada, América Latina, do Digital Forensic Research Lab.
Esteban Ponce de León é assistente de pesquisa da América Latina no Laboratório de Pesquisa Digital Forense.
Zarine Kharazian é editora assistente do @DFRLab e está sediada em Washington, DC.
Jean le Roux é pesquisador associado, na África Subsaariana, do Digital Forensic Research Lab.
Fonte: Viomundo