Mudanças no mercado de trabalho, que incluíram a 'reforma' de 2017, diminuem as opções de emprego

Precarização pós-reforma: segundo o IBGE, total agora chega ao recorde de 3,6 milhões, incluindo motoristas de aplicativos e de ônibus, cobradores e taxistas. Nas ruas, são 2,3 milhões. Grupo dos entregadores supera 10 milhões

São Paulo – O número de pessoas que trabalha em veículos, que incluem motoristas de aplicativos, taxistas e motoristas e cobradores de ônibus, cresceu 29,2% de 2017 para 2018, aumentou em 810 mil e chegou a 3,6 milhões, segundo informou o IBGE nesta quarta-feira (18). É a maior alta da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, mostrando uma tendência de “uberização” do mercado de trabalho, com escassez crescente de vagas com carteira e dificuldade de conseguir uma ocupação formal, ainda mais depois da implementação da “reforma” trabalhista, dois anos atrás. O instituto detectou ainda aumento da quantidade de pessoas trabalhando por conta própria e na própria residência, além de entregadores.

“As recentes altas podem estar relacionadas ao crescimento dos serviços de transportes de passageiros e de entregas por aplicativos de celular, refletindo as mudanças na economia atual”, afirma a pesquisadora Adriana Beringuy. A pesquisa do IBGE apontou aumento de 12,1% na quantidade de pessoas que trabalham em vias públicas, como vendedores ambulantes. O total agora chega a 2,3 milhões.

De acordo com o instituto, de 2012 a 2014 o número de ocupados em veículos ou áreas públicas se manteve relativamente estável. Eram 2,6 milhões e 1,8 milhão, respectivamente. Houve pequenas altas no primeiro caso entre 2015 e 2017, com crescimento forte no ano passado.

Trabalho na rua

No caso de quem trabalha em vias públicas, o IBGE apurou dois picos de alta: de 2015 para 2016, quando o total subiu de 1,8 milhão para 2 milhões, e de 2017 para 2018, de 2,1 milhões para 2,3 milhões. Aumentos de 12,4% e de 12,1%, chegando a 23,9% na região Sudeste, onde há 686 mil pessoas nessa situação. Mas o maior número continua sendo do Nordeste, com 957 mil.

A pesquisa apura ainda outro grupo, daqueles que trabalham em local designado pelo empregador, patrão ou freguês, caso dos entregadores, que também teve a maior alta na série. O crescimento em 2018 foi de 9,9%, com mais 905 mil pessoas, somando agora 10,1 milhões. Um grupo com pouca oscilação até 2017, até chegar ao aumento de quase 10% no ano passado.

Em relação ao local de trabalho, a maior variação percentual foi de pessoas que trabalham em um estabelecimento de outro empreendimento, com alta de 38,3%. “Isso pode indicar um crescimento da terceirização nas empresas”, observa a pesquisadora.

Mais gente em casa

Além disso, vem crescendo o número de pessoas que trabalham em casa. A alta, que havia sido de 16,2% de 2016 para 2017, chegou a 21,1% no ano passado. Ao mesmo tempo, cai (4%) a quantidade de pessoas em estabelecimento próprio do empregador e também o trabalho em fazenda, sítio, grana ou chácara. “Há uma tendência de queda gradual observada desde o início da série, em 2012. Essa diminuição está ligada ao processo de êxodo rural e mecanização dos processos”, diz Adriana.

Como os levantamentos trimestrais já apontam, aumenta ainda o número de trabalhadores por conta própria. A participação dos que estavam em empreendimentos registrados no CNPJ corresponde a 29% dos ocupados, crescendo para 29,8% no caso das mulheres. O setor com mais pessoas nessa situação é o que inclui comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (42,7%), seguido de serviços (34,7%).REGISTRADO EM: DESEMPREGOIBGEMERCADO DE TRABALHOPNAD CONTÍNUAPRECARIZAÇÃOTRABALHO INFORMALTRABALHO POR CONTA PRÓPRIAUBERIZAÇÃOVENDEDORES AMBULANTES

Fonte: RBA