Os caminhos que nos levam ao TePI, Teatro e os Povos Indígenas, a arte indígena contemporânea, o lugar do movimento, o grande campo do mundo dos povos indígenas, cruzamentos que nos encontram, lugares do corpo, partem da arte em ascensão.
Não existe conhecimento que não atravesse os corpos, o corpo do mundo como os saberes da possibilidade de vida, os cruzamentos com o mundo indígena, marcado por violências, injustiças e supressões.
Grande debate se instaura em tempo de pandemia, um fio de seda se impõe na rede, do fim ao começo, a vanguarda de nossos gestos.
Aquece, em nova trama, a estética dos povos originários. Alento em tempo de negacionismo, a terra é pindorama, palmeira, sabiá. Não passará aquele que nega.
Repara o pensador Ailton Krenak : é claro que a história do teatro, a partir da intervenção do Zé Celso (ele contraria toda a rendição à essa linguagem da arte, à essa coisa do mercado) é o que mais se ressalta nessa obra, é de inspirar um tipo de narrativa, um tipo de expressão do corpo, de presença, onde o repúdio à todas essas formas de dominação, o colonialismo, toda essa coisa machista, o racismo. Todas essas marcas são repudiadas por aquilo que o teatro do Zé Celso promove, e a sua evocação de uma cultura milenar, de uma ancestralidade. Ele está mais na sua apropriação criativa de todo o discurso do teatro grego, da antiguidade.
É a maneira que ele se põe, quase que como um ritual a evocar aqueles corpos que não existem mais, que não estão mais aqui, presentes entre nós. Eles estão em outro mundo. Eu acho que Zé Celso Martinez Corrêa, têm a grande importância de desestabilizar o território para que novas artes possam se instalar.
Quer dizer, Zé Celso não tem vergonha.
A maneira de a gente superar a ignorância e o obscurantismo é com luz. Então vamos iluminar os ambientes com conversas sem preconceitos, as conversas engasgadas e que a gente possa cantar para suspender o céu.
por Ailton Krenak,
imagens por helio carlos mello©
Fonte: Jornalistas Livres