São Paulo – A pandemia de covid-19 trouxe problemas para as redes de saúde de todo o país. O problema, apesar de ser mais visível nas grandes metrópoles, com grande concentração de pessoas, também atinge áreas mais afastadas do país. Nas cidades do Semiárido brasileiro, especialmente vulneráveis em meio à pandemia de covid-19, faltam hospitais, testes e até mesmo água para higiene e consumo humano. O alerta é da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). A entidade que atua nesta que é uma das regiões mais frágeis do país chama a atenção para dificuldades dos brasileiros que ali vivem.
A estimativa da ASA é de que 350 mil famílias não possuem acesso adequado à água, um problema especialmente preocupante em um cenário de propagação de um vírus. Outras 800 mil não possuem abastecimento adequado ao cultivo de alimentos e à criação de animais. Além disso, mudanças climáticas, grandes secas, avanço do agronegócio e desmonte de políticas públicas ameaçam a região. Para denunciar a conjuntura delicada no Semiárido frente ao surto da covid-19, a ASA iniciou hoje (10) uma campanha de pedido de apoio, que contou com a divulgação de um vídeo documental.
Descaso
“A crise sanitária agravou as crises ambientais e também sociais. Essa emergência é especialmente pior para nós, povos indígenas, quilombolas, povos tradicionais, mulheres, trabalhadores e trabalhadoras do campo. A pandemia não recuou e já toma conta do interior do país”, afirma a entidade.
O coordenador nacional da ASA pelo estado de Pernambuco, Alexandre Pires, critica a falta de políticas públicas para a região. Mesmo grandes avanços conquistados, especialmente na última década, estão em processo de desmonte pelo governo federal. “O que é algo incompreensível no contexto da pandemia que vivemos. Neste momento, é mais que necessário que toda sociedade contribua e fortaleça a luta dos povos do Semiárido em defesa do direito à água, para o consumo e produção de alimentos”, afirma.
Um dos exemplos do descaso do governo do presidente Jair Bolsonaro é o abandono do Programa de Cisternas. O projeto criado em 2003 promoveu a construção de 1,3 milhão de sistemas de armazenagem e tecnologias de abastecimento no Semiárido. Após o golpe de 2016, o orçamento foi drasticamente reduzido. Agora, o programa vive a maior seca de sua história. O Executivo sequer executou obras programadas pelo já escasso orçamento de 2020.
“O governo federal ignora as políticas públicas voltadas para a convivência com o Semiárido, como o Programa Cisternas que deve terminar 2020 sem nenhuma nova ação paga com recursos do orçamento público previsto para este ano. Além deste programa, várias outras políticas públicas de fortalecimento da agricultura familiar, do enfrentamento da insegurança alimentar e nutricional estão paradas”, argumenta a ASA.
Fonte: RBA