São Paulo – Durante todo o ano de 2020, movimentos sociais e lideranças comunitárias coletaram e distribuíram alimentos, produtos de higiene pessoal, limpeza e proteção individual contra a covid-19 para as populações mais vulneráveis dos centros urbanos. A expectativa é de que o trabalho de solidariedade continue por este ano, mas o cenário de desemprego agravado pelo fim do auxílio emergencial, tem causado preocupação. De acordo com os responsáveis por esses projetos, há o risco de que as arrecadações sejam insuficientes para atender as necessidades.
A repórter da Rádio Brasil Atual, Larissa Bohrer, conversou, na manhã desta quarta-feira (13) com o coordenador nacional do Bloco G10 Favelas, Gilson Rodrigues. Líder comunitário de Paraisópolis, comunidade da zona sul de São Paulo, ele destacou que as ações solidárias na região não cessaram e nem irão cessar. No entanto, o ativista adverte que as doações para a população mais pobre da segunda maior favela paulistana são em números cada vez menores.
“A situação das favelas e de suas populações está cada vez mais vulnerável. A população já vinha sofrendo com o desemprego, a crise da covid-19, sem auxílio e apoio efetivo do governo para poder superá-la”, explicou Gilson. “A gente vê que a situação se agrava devido à fome e ao desemprego. Também pelo que a população está considerando como ‘novo normal’, de ter pessoas na fila de marmitas, pedindo cestas básicas e com maiores dificuldades. Infelizmente, com esse ‘novo normal’, quem ajudava diminuiu as doações. Mas temos mantido o trabalho e ajudado a população que mais precisa dentro das nossas possiblidades”, completou o líder comunitário.
Crise que segue sem freios
Na favela de Heliópolis, considerada a maior da capital paulista, a comunidade também enfrenta problemas com a redução das doações e o desemprego. A presidenta da Associação de Moradores de Nova Heliópolis, Maria de Fátima, conta que a população local está sem perspectivas de melhora e que muitos estão desempregados há mais de 10 meses e dependendo da solidariedade de terceiros. “Se já estava difícil, sem o auxílio emergencial como fica agora? É o que o pessoal aqui da comunidade me pergunta”, relatou Maria, também na edição de hoje do .
Além da retirada do auxílio emergencial, ações do poder público que estiveram presentes no ano passado ainda não foram confirmadas para este ano. Em São Paulo, por exemplo, o projeto Cidade Solidária, iniciativa da prefeitura para ajudar as pessoas mais pobres, ainda não foi renovado. Outro problema citado pelas lideranças e movimentos é o risco de aumento dos despejos e reintegrações de posse. Nacionalmente, o programa Casa Verde Amarela, sancionado nesta terça-feira (12) pelo presidente Jair Bolsonaro, é criticado por excluir os mais pobres, que não possuem acesso a linhas de crédito.
Fonte: RBA