(Brasília - DF, 19/08/2020) Solenidade de Sanção de Medidas Provisórias de Facilitação de acesso ao Crédito. Foto: Alan Santos/PR
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São Paulo – O falso otimismo de Paulo Guedes apenas normaliza as baixas taxas de crescimento econômico e mantém a fuga de investidores do Brasil. A avaliação é da economista Juliane Furno, crítica das políticas econômicas do governo federal, classificadas como “anticientíficas” e que colocam o país numa “sinuca de bico”, segundo ela.

Juliane, que é doutora em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp, explica que o Brasil vive o caos econômico do coronavírus somado à crise ainda não recuperada de 2014. Desde então, vivendo sob a política de austeridade fiscal, o país vive abaixo da capacidade da geração de riqueza, no cenário que ela chama de “semi estagnação”.

“No ano de 2020, o primeiro trimestre já estava em retração econômica, ou seja, era uma mentira de Paulo Guedes que a economia estava decolando antes do coronavírus. No segundo trimestre, foi a grande queda do PIB, com 9,7%, e o terceiro trimestre, cresceu 7,7%. Houve crescimento, mas porque a base de comparação era muito baixa. Estamos abaixo da capacidade da geração de riqueza, com Paulo Guedes normalizando as baixas taxas de crescimento, por conta das políticas equivocadas atuais”, afirmou Juliane ao jornalista Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.

Não há país quebrado

A economista também discorda da fala do presidente Jair Bolsonaro de que o “Brasil está quebrado e não há nada que possa ser feito”. Juliane Furno diz que a dívida do país é em reais, ou seja, o Estado está endividado dentro de seu controle monetário. “Não é possível quebrar o governo com dívida em reais”, afirmou.

Na avaliação da especialista, como a economia é baseada em expectativa, o governo Bolsonaro faz os investidores alocarem o capital em outro lugar. “A contradição de Paulo Guedes e Bolsonaro é uma política demagógica e mentirosa”, acrescentou. Ela diz ainda que o ministro da Economia segue na contramão dos países europeus, que abandonaram a austeridade fiscal e adotaram um investimento público interno.

“Os teóricos mostram que o aumento do gasto público ajuda a diminuir a dívida pública, porque você aumenta o PIB da nação. Após 2008, os europeus adotaram o receituário da austeridade fiscal, que cortava gastos e, no futuro, poderia expandir a economia. A tese fracassou e, desde então, os cientistas econômicos apontam que, durante a crise, a política monetária tem participação reduzida para tirar o povo da crise. Os juros estão baixos, mas isso não gera investimento. Nesses períodos, o que reduz a crise é a política fiscal, com o aumento do gasto público para reaquecer as atividades econômicas”, explicou.

Um dos exemplos de investimento público é o auxílio emergencial, encerrado neste mês de janeiro pelo governo federal. A economista explica que o consumo das famílias tem impacto direto na economia. “A redução do auxílio, em setembro, já tem relação com os dados de semi estagnação. O comércio cresceu 4%, em julho, mas só 0,6% em outubro. Com o fim da renda emergencial, teremos taxas negativas de crescimento. O fim do auxílio que sustentou o comércio e indústria não só criará um problema social, mas também influenciará na economia brasileira”, finalizou.

Fonte: RBA