Construção solidária – “A beleza do processo pelo qual o filme sobre Paul Singer se fez se tornou mais forte do que os ventos contrários à sua realização”, diz Amir Labaki

Por Paulo Donizetti de Souza | RBA

Paulo Singer, durante entrevista para a edição nº 1 da Revista do Brasil” coerência à flor da pele

O festival É Tudo Verdade exibe até a meia-noite deste domingo (18) o documentário Paul Singer – Uma Utopia Militante. Dirigido por Ugo Giorgetti, o filme retrata um dos economistas mais respeitados do Brasil. Da fuga da família de judeus da Áustria ocupada pelos nazistas em 1938 – quando Paul Israel Singer (1932-1918) tinha 6 anos – a sua condição de uma das principais referências da economia solidária no Brasil. Entre um momento histórico e outro, passa por sua experiência como operário da Elevadores Atlas e sua formação intelectual autodidata antecedendo ao ingresso na Faculdade de Economia da USP


Paul Singer construiu o socialismo com ideias, palavras e atitudes




Giorgetti lembra do testemunho da professora Lisete Arelaro, que foi candidata ao governo de São Paulo pelo Psol em 2018. “Ela diz que o Paul Singer era um professor que todo o saber dele era empregado para dar clareza ao que ele propunha. Nada era enigmático. Nós, mortais, entendíamos tudo. A beleza disso está no documentário. Tem um aspecto iluminista nele, na ambição de transformar o homem num ser que pensa sozinho”, observa o diretor. “Esse filme é isso: nada mais é do que uma notícia sobre uma pessoa singular e que precisa ser conhecida. E que podem ser feitos 10 filmes sobre ele. Um filme que diz o seguinte: ‘Senhores, existe Paul Singer na cultura brasileira’. Com muito orgulho para o Brasil, inclusive, onde existe uma necessidade desse tipo de gente. É um sujeito tão invulgar que preencher um vazio deixado pelo Paulo Singer não é fácil.”

A formação do grupo de estudos para a leitura de O Capital, por exemplo, já vale um documentário, sugere Ugo Giorgetti. “Outro documentário poderia ser a greve de 1953, a primeira greve que a Justiça do Trabalho disse ‘olha, vocês ganharam’. Uma greve enorme em São Paulo da qual ele foi um dos pilares. Tem outro documentário, que é a economia solidária, que está aí, seria falar do presente.”


Dilma: Paul Singer é inspiração a todos que lutamos por justiça social


Ugo Giorgetti vê no filme sobre Paul Singer outros 10 documentários (Divulgação)

A campanha de financiamento coletivo para a filmagem do projeto Paul Singer – uma história do Brasil –, começou no final de maio de 2017, por iniciativa dos economistas Fernando Kleiman e Marcos Barreto. A ideia era reunir R$ 130 em 40 dias e entregar a condução do projeto a Ugo Giorgetti, autor de, entre outros, Uma Noite em Sampa (2016), Cara ou Coroa (2012), O Príncipe (2002) e Boleiros – Era uma Vez o Futebol (1998).

Giorgetti conta que a ideia do documentário não foi sua, mas que foi seduzido por Paul Singer. “Essa maneira que eu acho necessária. Essa tolerância. Esse método de não impor a ninguém uma ideia. Ideias não se impõem. Você assimila, e se convence ou não. Ele leva isso à extrema consequência quando define o Estado. O Estado não pode impor um regime. O socialismo, por exemplo, é que tem de se impor como uma construção da população. Não pode ser decretado”, explica.

O jornalista e crítico de cinema Amir Labaki, organizador do É Tudo Verdade, vê o processo de construção do filme como um “protótipo cinematográfico” das ideias que o próprio filme propõe: a construção gestada e colhida de maneira solidária e compartilhada. “A produção do filme expressa a lógica do personagem Paul Singer. Não só a beleza do próprio filme, mas a beleza do processo pelo qual esse filme se fez se tornou mais forte do que os ventos contrários à sua realização”, define, na conversa com Ugo Giorgetti, que pode ser assistida na íntegra abaixo.