São Paulo – Para a cientista política, antropóloga e especialista em Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jacqueline Muniz, os diálogos telefônicos entre o grupo de milícia ligada ao ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, divulgados no último sábado pelo The Intercept Brasil, reafirmam a “proximidade” e a “familiaridade” entre o grupo criminoso e o presidente Jair Bolsonaro. Nas conversas grampeadas, os cúmplices de Adriano, após sua morte, fizeram contato com “Jair”, “HNI (PRESIDENTE)” e “cara da casa de vidro”.
“O que chama a atenção é a proximidade e a familiaridade. Daqui a pouco, o assaltante da esquina vai querer falar com o presidente”, ironizou Jaqueline em entrevista a Marilu Cabañas, para o Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (26). “É uma espécie de trama vagabunda que também expõe a presidência da República”, acrescentou.
Da mesma forma, Jaqueline lembrou que o próprio presidente revelou, em reunião ministerial divulgada no ano passado, que conta com um sistema particular de informações. Esse sistema seria composto por “amigos policiais”. Trata-se de mais um indício, de acordo com a especialista, da proximidade de Bolsonaro com a milícia.
Investigações
Para Jaqueline, o relatório da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Polícia Civil do Rio de Janeiro, onde constam os grampos, é “inconcluso”. O vazamento faz parte de uma disputa entre os policiais e o Ministério Público pelos rumos da investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco. Os investigadores suspeitam que o caso tem ligação com o Escritório do Crime.
Por outro lado, sem um trabalho de investigativo mais aprofundado, baseado apenas em grampos telefônicos, o relatório parece mais uma “central de fofoca”, segundo ela.
Além da morte de Marielle, as investigações do grupo de Adriano também poderiam contribuir para o esclarecimento do escândalo das rachadinhas. No esquema, familiares de Adriano foram contratados como funcionários-fantasma do então deputado estadual Flávio Bolsonaro.
Fonte: RBA