(Foto: dilson Rodrigues/Agência Senado)

“Com a delação, há muito fujão de pijama, abandonado em casa, que poderia converter seu rancor em serviço à Justiça, mas receia abrir o bico por temer a prisão”, diz o vice-presidente da CPI

 Após vários depoimentos em que integrantes ou ex-integrantes do governo Bolsonaro mentiram impunemente na CPI da Pandemia, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da comissão, propõe uma tese polêmica: o uso de delações premiadas pelos senadores. “Nos últimos anos, as delações premiadas ocuparam como um meteoro o noticiário brasileiro, com velocidade e resplandecência no início, mas também com a fugacidade de um melancólico final que não resistiu a equívocos na Operação Lava Jato”, escreve o senador, em artigo publicado nesta quinta-feira na Folha de S. Paulo. “Com o declínio das delações, pode haver a impressão enganosa de que a corrupção se arrefeceu em Brasília. Ledo engano: o que morreu foi o ímpeto de investigar. Este está morto e sepultado.”

“A nova criminalidade organizada, do ‘bolsolão’, das milícias digitais (e físicas!) e dos respiradores superfaturados que asfixiaram os brasileiros escalou patamares: agora está assentada sobre mais de 430 mil cadáveres. O Brasil, além de saqueado, se converteu num cemitério a céu aberto”, prossegue o senador. “Apesar das novas facetas, as dificuldades para o enfrentamento de organizações criminosas seguem essencialmente as mesmas: o pacto de silêncio de seus próceres, sua capacidade de reação articulada e, finalmente, de criar ‘variantes’ imunes aos órgãos de controle. Nesse contexto, o melhor remédio, apesar de seu amargor, segue sendo a delação premiada: perdem-se os anéis, mas se salvam os dedos.”

“Com a delação, há muito fujão de pijama, abandonado em casa, que poderia converter seu rancor em serviço à Justiça, mas receia abrir o bico por temer a prisão”, diz ainda Randolfe. “Negociar penas mais brandas para esses, apesar de seus crimes, pode ser o divisor de águas na nossa capacidade de punir quem está no topo e blindado pelo pacto de silêncio.” 

“Eu, como vice-presidente da CPI da Pandemia, não aceito servir pizza, mas estou disposto a ouvir aqueles que tenham a colaborar com provas e com a identificação dos demais componentes desta organização macabra que se apossou do país. Está lançada a discussão jurídica sobre o tema e, como dizem na internet, “fica a dica” para quem está vendo a água bater na cintura e não quer terminar num abraço de afogados”, finaliza Randolfe.

Fonte: Brasil 247