A busca incessante por Lázaro Barbosa e a cobertura mídiatica sobre o caso, o tornou um dos personagens mais conhecidos no mês de Junho no Brasil. O homem, suspeito de matar família em Ceilândia, no DF, virou tema de diversos jornais nacionais. Nesta terça-feira (21), uma vítima de espancamento não foi socorrida na BR-262 em MS após ser confundida com o criminoso procurado em Cocalzinho, cidade a 971 km de Campo Grande.
Diversos criadores de conteúdo em plataformas digitais também amplificaram a popularidade do caso ao publicarem qualquer vídeo citando o nome do suspeito, ao ver que isso já levava a viralização instantânea, mesmo com informações falsas. Isso fez com que o Brasil ficasse em estado de alerta, e até a sua vizinha passasse a ter medo do tal Lázaro.
Ao digitar o nome ‘Lázaro’ no Google, são encontrados 44.300.000 resultados em 0,60 segundos. Mas porquê isso tudo? Quantos casos tão violentos quanto, ou ainda mais agressivos, não recebem o mesmo tratamento? Porque o medo de dar de cara com o tão temido assassino virou uma preocupação de muitos brasileiros?
Ansiedade e histeria coletiva
Devido aos problemas vivenciados socialmente, é nítido o porquê de um caso como o de Lázaro trazer um medo exacerbado. Consequentemente, a tendência comportamental é agir em defesa dessa vivência/violência e entrar em estado de alerta, como explica a psicóloga clínica Bruna Rangel da Silva Costa.
“Acredito ser uma reação do sujeito agir assim, pois não ter o controle da situação gera essa modificação psicológica e logo, a impulsividade do comportamento. Podemos caracterizar como histeria coletiva, pois pode ser desenvolvida através de um estresse vivenciado, nesse caso o medo de ser atacado, da violência e morte.
Segundo a psicóloga clínica, um indivíduo age com o comportamento violento em defesa e os demais identificam que esse comportamento como solução, desenvolvendo uma histeria em massa. As medidas possíveis para sanar esse problema, seria avaliar melhor o problema, localizar do sujeito, e filtrar o que tem sido trazido em mídia.
“A falta de informação e os estressores de cada indivíduo gera esse comportamento violento. Não existe uma regra, mas uma consciência vivida e segura com clareza para modificar esse comportamento”, frisa Bruna Costa.
Então a mídia é a culpada?
Sim e não. Ao mesmo tempo que você, leitor, tem a liberdade para escolher quais informações consome e como as consome, a Instituição Jornalismo tem o dever de intermediar a cobertura jornalística de assuntos factuais do interesse do público com responsabilidade.
Com o caso Lázaro, que chegou ao ponto de matérias sobre o estado de saúde de um cão que buscava do suspeito, a cobertura flerta com o sensacionalismo se tornando um Circo Midiático. Essa expressão, comum na década de 70, é uma metáfora coloquial que descreve um evento noticioso para o qual o nível de cobertura da mídia é tido ‘excessivo ou desproporcional ao evento’.
Segundo o professor e Doutor em Comunicação Social Marcos Paulo da Silva, o caso Lázaro é um exemplo típico da transposição de um caso inicialmente escrito na lógica do interesse público, já que se trata de um crime que ocorre no determinado recorte geográfico no espaço e consequentemente chama atenção da pauta jornalística, mas transposto para o universo do chamado ‘sensacionalismo’.
É importante frisar que o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros é explícito no Art 11 inciso II ao dizer que o jornalista “não deve divulgar informações de caráter mórbido sensacionalista ou contrário aos valores humanos, especialmente em cobertura de crimes e acidentes”.
Hiper emoção e Super mídialização
“Neste caso, a lógica do sensacionalismo está voltada ao menos duas dimensões: a da hiper emoção, ou seja, o caso é pautado menos pela racionalidade de uma discussão no espaço público e mais pela valorização das emoções que isso provoca nas pessoas; e, por outro lado, na lógica da Super mídialização, que é outra característica típica do jornalismo contemporâneo, em que a ideia de percepção de manutenção das pessoas informadas sobre determinado tema passa pela superexposição do caso”, explica o professor líder do Grupo de Pesquisa Cotidiano e Noticiabilidade (UFMS).
O jornalismo, pela sua lógica histórica, deve desempenhar papel de mediação vinculado a lógica de análise, racionalização e mediação do tema para os seus devidos públicos. Quando o tema se mostra demasiadamente super exposto, não há tempo para esse papel mediador histórico do Jornalismo. A cobertura exacerbada pode até atrapalhar a ação das autoridades.
“O resultado dessa cobertura é menos a compreensão racional do caso no espaço público, e que deve ser julgado nas instâncias da Justiça a partir do Estado Democrático de Direito em que vivemos, ele passa à lógica de um julgamento midiático que ocorre no espaço público midiatizado. Isso faz com que ocorra uma sobreposição do papel de análise da mídia, transformando-se no papel de julgamento, sobre o próprio papel da Justiça”, finaliza.
Fonte: midiamax