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São Paulo – A senadora Simone Tebet (MDB-MS) apontou erros “grosseiros” de português e inglês no contrato de compra da Covaxin, na sessão da CPI da Covid desta segunda-feira (6). A senadora disse que os documentos apresentados pelo governo federal são “fraudulentos”.

A senadora apresentou indícios de falsificação nos documentos apresentados pelo ex-diretor-executivo do Ministério da Saúde Élcio Franco e pelo ministro Onyx Lorenzoni, da Secretaria-Geral da Presidência, em coletiva de imprensa, na qual afirmavam ser os “documentos verdadeiros” da compra do imunizante indiano.

Ela aponta erros “grosseiros”, como tradução incorreta e valores modificados, com inserção e depois exclusão dos valores de seguro e frete ao montante de US$ 45 milhões. Além disso, os documentos mostrados pelo governo Bolsonaro especificariam 300 mil caixas com 16 ampolas cada, o que somaria um montante de 4,8 milhões de doses, e não 3 milhões, quantidade apresentada no documento.

“Tudo está errado no contrato de 300 milhões de dólares na contratação de vacinas que faltou no braço dos brasileiros. Claramente houve manipulação de contratos e a vacina jamais chegaria ao Brasil. O presidente da República precisa explicar esses fatos. Isso é falsidade de documento privado, falsidade ideológica e favorecimento de empresas para entregar recursos ao paraíso fiscal. Houve prevaricação e é preciso saber quem prevaricou“, afirmou Simone.

A CPI da Covid ouve hoje a servidora Regina Célia Silva Oliveira, fiscal de contratos no Ministério da Saúde que autorizou a compra da vacina indiana Covaxin.

Documentos ‘verdadeiros’

Durante a oitiva, a senadora exibiu vídeo da coletiva de imprensa feito pelos integrantes do governo Bolsonaro, na qual buscavam rebater as acusações do servidor Luis Ricardo Miranda, que apontou irregularidades no contrato da Covaxin na CPI da Covid.

A primeiranota fiscal era apontada como falsa por Élcio e Onyx. Entretanto, segundo Simone Tebet, a análise forense mostra que o documento teria todas as especificações de veracidade. Entretanto, os integrantes do governo Bolsonaro apresentaram outras duas notas, apontando como verdadeiras, mas com os “erros grotescos”, como classificou a senadora.

Simone apontou erros de grafia de inglês, como “príncipe” no lugar de “preço”. “São tantos erros apontados incomuns, Brasil com Z, aeroporto em português. O invoice diz que o produto virá por barco e também que viria aéreo. Esse documento não poderia ter passado pelo Ministério da Saúde”, questionou a senadora.

Além disso, Simone lembra que o primeiro contrato para aquisição da Covaxin foi firmado em 25 de fevereiro. As primeiras doses deveriam ter chegado ao Brasil no dia 17 de março, o que não ocorreu. Apenas no dia 22 de março, Regina Célia virou fiscal do contrato e permitiu o seguimento do processo com a Precisa Medicamentos, mesmo sem a entrega do primeiro lote. “Está muito claro que a Covaxin já nasceu morta, ela não existia”, concluiu.

Documento ‘Joel Santana’

Após as irregularidades apontadas pela senadora do MDB, diversas personalidades comentaram o assunto por meio das redes sociais. A deputada federal Talíria Petrone (Psol-RJ) chamou o caso de “escandaloso”.

“A senadora Simone Tebet apontou inúmeros erros no contrato da Covaxin, apresentado por Onyx Lorenzoni e o coronel Elcio Franco. Irregularidades que mostram a possibilidade concreta de corrupção na compra de vacinas!”, tuitou ela.

O deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ) acrescentou que a senadora mostrou que tem “uma quadrilha agindo dentro do Ministério da Saúde”. “É um desgoverno de ladrões de vacina”, afirmou o parlamentar. Já a jornalista Clara Jimenez ironizou os erros de inglês presentes do documento. “A senadora Simone Tebet desmontando a nota fiscal “Joel Santana” na negociação com a Covaxin”, disse em seu Twitter.

Já a cientista política Nailah Neves Veleci apontou para o nível de ignorância do governo Bolsonaro. “Depois dessa fala impecável da senadora Simone Tebet mostrando indícios de falsidade nos contratos da Covaxin, indícios gritantes como erros de inglês, estou me sentindo mal porque não acredito no nível desse governo, no nível de burrice até.”


Senadora sinalizou 23 erros em documentos apresentados pelo governo Bolsonaro (Foto: TV Senado/Reprodução)

Fonte: RBA