A escassez de chips semicondutores, que tem impactado a indústria global – e a automobilística em especial – pode se agravar graças à lentidão na vacinação contra a Covid-19. Se foi a própria pandemia que inicialmente afetou a produção dos componentes, o aumento de surtos em navios pode colocar em risco a logística de distribuição marítima e causar mais interrupções no comércio, avaliam especialistas ouvidos pela Bloomberg.
Como os trabalhadores do setor marítimo dependem das políticas de vacinação de seus países de origem para tomar os imunizantes, apenas 2,5% dessa força de trabalho foi vacinada, de acordo com a estimativa da International Chamber of Shipping (ICS). Por isso, em muitos casos, a tripulação inteira de vários navios acaba proibida de desembarcar em diversos portos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, mais de 80% do volume do comércio global é movimentado por transporte marítimo. São dois milhões de marítimos de trabalhadores que operam a frota global de navios mercantes – e mais da metade vêm de países em desenvolvimento como Índia, Filipinas ou Indonésia.
“As cadeias de abastecimento já estão no limite por causa da recuperação na demanda do consumidor, escassez de semicondutores e dificuldades de transporte causadas por eventos como o bloqueio do Canal de Suez e fechamentos de portos chineses”, explicou o especialista em transporte Tom Fairbairn, em entrevista à Insider.
Só nos Estados Unidos, a produção industrial caiu 0,1% em junho – a terceira queda em cinco meses, segundo o Federal Reserve. A escassez de chips semicondutores empurrou a produção de automóveis, caminhões e autopeças para baixo 6,6% no mesmo mês.
“A variante delta está nos atrasando e a situação está piorando. Demanda por produtos não está diminuindo, as mudanças de tripulação não estão acontecendo com rapidez suficiente e os governos continuam a fazer vista grossa”, alerta Esben Poulsson, presidente da ICS. “Aqueles que estão na cadeia de abastecimento devem estar preparados para novas interrupções na preparação crítica para o Natal”, completa.
A Gard P&I, maior seguradora marítima do mundo, registrou um aumento nos pedidos de indenização por infecções por Covid-19 entre abril e maio. Foram mais de 100 surtos mensais que atingiram navios e unidades móveis offshore, como plataformas de perfuração. Durante o pico global da pandemia, entre julho e agosto de 2020, a seguradora registrou 80 surtos em navios e unidades offshore.
A falta de coordenação internacional é o maior desafio. A Índia deu início a programas de vacinação para seus mais de 200 mil marinheiros, mas Poulsson diz que a iniciativa precisa de impulso. Em maio, cerca de 14% dos trabalhadores marítimos do país haviam recebido uma única dose da vacina e 1% havia recebido as duas doses.
“O governo colocou algo no papel para dizer que eles tornaram os marítimos trabalhadores essenciais, mas eles não estão sendo priorizados para a vacinação”, afirma Chirag Bahri, diretor da Rede Internacional de Assistência e Bem-Estar Marítimo na Índia. “Sem uma segunda dose, eles realmente não podem entrar em um navio”.
Fonte: Olhar Digital