Neste ano, a economia global deve ter um crescimento de 5,3%, o mais rápido em quase 50 anos, de acordo com o Relatório de Comércio e Desenvolvimento 2021 da UNCTAD.
O documento alerta, no entanto, que a recuperação deve ser altamente desigual ao longo das linhas regionais, setoriais e de renda.
Em 2022, a UNCTAD espera que o crescimento global desacelere para 3,6%, deixando os níveis de renda mundiais cerca de 3,7% abaixo da linha de tendência pré-pandemia.
A desaceleração pode ser mais acentuada caso os formuladores de políticas cedam aos apelos por desregulamentação e austeridade.
O relatório aponta o multilateralismo como a solução, embora os chefes de economias avançadas ainda não tenham se atentado para o tamanho e a persistência do choque nos países em desenvolvimento. Nestes países, o peso das dívidas reduz o espaço para a política fiscal.
A economia global deve se recuperar neste ano com um crescimento de 5,3%, o mais rápido em quase cinco décadas, de acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).
Em seu novo relatório divulgado nesta quarta-feira (15), a agência informou ainda que a recuperação será altamente desigual nos níveis regionais, setoriais e de renda.
Em 2022, a UNCTAD espera que o crescimento global desacelere para 3,6%, deixando os níveis de renda mundiais cerca de 3,7% abaixo da linha de tendência pré-pandemia.
O relatório também alerta que a desaceleração do crescimento pode ser maior do que o esperado, caso os formuladores de políticas percam a coragem ou respondam ao que os autores do documento consideram apelos equivocados por um retorno à desregulamentação e à austeridade.
Para o Brasil, a agência projeta um crescimento ligeiramente maior do que o PIB de 2019, graças aos efeitos positivos da alta nas exportações de commodities e de um estímulo fiscal maior do que o de países como México e da Argentina.
Diferenças no crescimento
O relatório afirma que, embora a resposta à pandemia tenha significado o fim das restrições de gastos públicos em muitos países desenvolvidos, as regras e práticas internacionais prenderam os países em desenvolvimento em respostas pré-pandêmicas e em um estado semi-permanente de estresse econômico.
Muitos países do sul global foram atingidos com muito mais força do que durante a crise financeira global. Com um pesado fardo de dívida, esses países também têm menos margem de manobra para saírem da crise usando gastos públicos.
A falta de autonomia monetária e de acesso a vacinas também está impedindo muitas economias em desenvolvimento, ampliando o abismo entre as economias avançadas e ameaçando inaugurar outra “década perdida”.
“Essas lacunas cada vez maiores, tanto domésticas quanto internacionais, são um lembrete de que as condições subjacentes, se mantidas em vigor, tornarão a resiliência e vantagens do crescimento privilégios desfrutados por cada vez menos pessoas”, afirmou a secretária-geral da UNCTAD, Rebeca Grynspan.
“Sem políticas mais ousadas que reflitam o multilateralismo revigorado, a recuperação pós-pandemia não atingirá a equidade e não atenderá aos desafios de nosso tempo”, acrescentou.
Lições da pandemia
O relatório da UNCTAD inclui várias propostas resultantes de lições da pandemia. Entre elas, o alívio da dívida combinada e até o cancelamento em alguns casos, uma reavaliação da política fiscal, maior coordenação de políticas e forte apoio aos países em desenvolvimento na implantação de vacinas.
Mesmo sem retrocessos significativos, a produção global só retomará sua tendência de crescimento de 2016-2019 até 2030.
Mas mesmo antes da COVID-19, a tendência de crescimento da renda era insatisfatória, de acordo com a UNCTAD.
O crescimento global anual médio na década após a crise financeira global foi o mais lento desde 1945.
Apesar de uma década de massivas injeções monetárias dos principais bancos centrais, desde o crash de 2008-2009, as metas de inflação não foram alcançadas. Mesmo com a forte recuperação atual das economias avançadas, não há sinais de alta sustentada dos preços.
Após décadas de declínio na participação dos salários, os salários reais nos países avançados precisam aumentar muito acima da produtividade por um longo tempo antes que um melhor equilíbrio entre salários e lucros seja alcançado novamente, revela o relatório.
Preços dos alimentos e comércio global – Apesar das tendências atuais de inflação, a UNCTAD acredita que o aumento dos preços dos alimentos pode representar uma séria ameaça às populações vulneráveis no sul global, que já sofrem financeiramente pela crise de saúde.
Globalmente, após uma queda de 5,6% em 2020, o comércio internacional de bens e serviços se recuperou. A desaceleração foi menos severa do que o previsto, pois os fluxos comerciais nos fins de 2020 se recuperaram quase tão fortemente quanto haviam caído antes.
As projeções do relatório também apontam para um crescimento real do comércio global de bens e serviços de 9,5% em 2021.
Ainda assim, as consequências da crise continuarão pesando sobre o desempenho do comércio nos próximos anos.
Para o diretor da divisão de estratégias de globalização e desenvolvimento da UNCTAD, Richard Kozul-Wright, a pandemia criou uma oportunidade de repensar os princípios fundamentais da governança econômica internacional, uma chance que foi perdida após a crise financeira global.
“Em menos de um ano, iniciativas políticas abrangentes dos EUA resultaram em mudanças concretas no caso de gastos com infraestrutura e proteção social ampliada, ambas financiadas por meio de tributação mais progressiva.
O próximo passo lógico é levar essa abordagem até o nível multilateral”, disse.
O relatório destaca uma “possibilidade de renovação do multilateralismo”, apontando para o apoio dos Estados Unidos a uma nova alocação de direitos de saque especiais (SDR), tributação corporativa mínima global e uma renúncia de direitos de propriedade intelectual relacionados a vacinas.
A UNCTAD adverte, no entanto, que essas propostas precisarão de um “apoio muito mais forte” de outras economias avançadas e da inclusão das vozes dos países em desenvolvimento, se o mundo quiser enfrentar os excessos da hiperglobalização e o aprofundamento da crise ambiental em tempo hábil.
Para a agência da ONU, o maior risco para a economia global é que “uma recuperação no norte desvie a atenção das reformas há muito tempo necessárias, sem as quais os países em desenvolvimento permanecerão em uma posição fraca e vulnerável”.Legenda: A falta de autonomia monetária e de acesso a vacinas também está atrapalhando muitas economias em desenvolvimento
Foto: © KB Mpofu/OIT
Fonte: Dourados Agora