Valdenir Machado (*)

Na sexta-feira passada (08) ao observar no horizonte a aproximação de imensa nuvem de terra tive duas reações. Primeiramente me remeteu ao passado, no início da década de 70, quando migrei do interior paulista para Dourados e era comum a presença da poeira vermelha para o desespero das donas de casa. Depois, confesso, fiquei temeroso ao lembrar-me de fenômenos recentes e idênticos verificados no sudeste brasileiro.
Trata-se, evidentemente, de analogia cognitiva de ações distintas. Até 30 anos atrás, o vento levantava poeira de ruas e avenidas desprovidas de pavimentação, mas a cidade ainda tinha densa mata e campos nativos ao seu redor que a protegia. Era um fenômeno comum, inofensivo. Naquela época a população douradense convivia, e bem, com barro ou poeira.
O que aconteceu na semana passada, sinceramente não me recordo de ter visto por aqui. A nuvem densa e alta transformou o dia em noite, ainda que por poucos minutos, e depois trouxe uma das mais devastadoras tempestades registradas em Dourados, causando transtorno aos mais de 230 mil habitantes da cidade. 
Naquele dia, o fenômeno foi registrado em Campo Grande e em outras dezenas de municípios sul-mato-grossenses. Milhares de pessoas ficaram dois, três dias sem energia elétrica, outras centenas desalojadas, enfim, foi uma tragédia ambiental. A causa: o desmatamento. 
O que vem ocorrendo em Dourados, Mato Grosso do Sul, no Brasil e no mundo não é, infelizmente, surpresa. São favas contadas por cientistas e ambientalistas. A natureza está reagindo às agressões que vem sofrendo ao longo do tempo que devastam seus biomas, transformando a ordem as coisas criadas por Deus há milhões de anos.
Claro, que é preciso produzir para alimentar cerca de 8 bilhões de seres humanos ao custo do uso da terra e da poluição com a industrialização. Porém, o aquecimento global e as mudanças climáticas, para pior, não são mais teses acadêmicas. É realidade, sentimos isso na pele e na razão. É imperativo conter essa destruição de nosso planeta.  
Creio que chegou a hora da questão ambiental ser levada a sério, mas de verdade, pelos líderes mundiais, antes que seja tarde e milhões de vidas sejam sacrificadas por tempestades, furacões, terremotos, maremotos, enfim por uma hecatombe ambiental que pode, creio, ainda ser evitado. 
Confesso que estou muito preocupado com a sobrevivência da minha e de futuras gerações. 
(*) É advogado, professor, cartorário e ex-deputado estadual.