Dourados é uma das cidades mais arborizadas do Mato Grosso do Sul e do Brasil. Segundo o Pdau (Plano Diretor de Arborização Urbana) municipal, a cidade tem cerca de 55 árvores por quilômetro de passeio e um total de 94 mil árvores, com estimativa de cerca de 0,46 árvores por habitante nas vias da área urbana. A tempestade de areia que derrubou centenas de árvores e inúmeros galhos no último dia 15 de outubro trouxe à tona a questão da arborização urbana de Dourados. Foram cerca de 200 árvores caídas retiradas pela força tarefa criada pela prefeitura.
Para o geógrafo e consultor ambiental Ataulfo Alves Stein Neto, os estragos ocasionados pela queda das árvores em Dourados é um caso de omissão do poder público. “O poder público ainda não entendeu a gravidade disso, a urgência e a necessidade de se construir uma política pública na questão do meio ambiente e, dentro do meio ambiente, um capítulo sobre arborização”, afirmou em entrevista ao O PROGRESSO. “Com esse trabalho, nós não teríamos esses problemas ou teríamos minimizado. As árvores que estavam com problemas já teriam sido suprimidas ou tratadas. Então você estaria cuidando desse patrimônio. Eu espero, sinceramente, que agora com os R$ 31 milhões da taxa do lixo, o Alan inclua gastar com o meio ambiente”, avalia.
Geógrafo defende replantio obrigatório e ampliação da área verde no contexto urbano, também com jardins e gramados
Ataulfo Stein foi presidente do Condam (Conselho Municipal do Meio Ambiente de Dourados) por dois mandatos, entre 2011 e 2015. Ele diz que a área urbana possui mais árvores que a zona rural do município. “Nós fizemos, quando eu era presidente do Condam, um plano diretor com custo zero para o município e isso nunca foi implantado”, afirma. Segundo o geógrafo, na proposta do Condam ao poder público estaria a utilização de softwares, já em funcionamento em algumas cidades do país, para realizar a gestão do patrimônio arbóreo, com equipes compostas por profissionais ambientais para buscar informações sobre as árvores do município.
“Utilizar ferramentas para verificar a saúde, condição fitossanitária da árvore, georreferenciamento, idade, diâmetro do caule, altura. Árvore por árvore. É um trabalho árduo que tem que ser feito, com estagiários, parcerias com as universidades. O primeiro passo é ter a lei, o plano, seja esse ou outro”, explica. Segundo ele, “ao alcance de um clique, você sabe, a cada dia, quais árvores precisam ser suprimidas. Depois de todo esse levantamento e diagnósticos, você cria brigadas permanentes vinculadas ao Instituto Municipal do Meio Ambiente de Dourados, que vão a campo com profissionais técnicos, seja biólogo ou engenheiro florestal, agrônomo entre outros, avaliar se a árvore tem condições de ser só podada ou ser tratada. Mas quando o técnico constata que ela deve ser suprimida, ela precisa ser retirada, com replantio obrigatório. Dependendo do lugar em que ela estava, que fosse inconveniente, avalia-se o replantio em outro local”, complementa.
Stein diz que muitas árvores no município estão condenadas. “Por isso, elas caem com os temporais. “Depende da espécie, mas normalmente as que caíram tem algum problema, na raiz ou no caule ou outro. Às vezes você olha a árvore e ela parece saudável, mas ela pode dar alguns sinais, pelo caule, saúde das folhas etc. que tem um problema que está acontecendo na raiz ou pode ter sido plantada em local inadequado, com raiz superficial, fraca e facilita a queda. E, por isso que é importante a gestão desse patrimônio. É muito raro a árvore saudável, bem plantada, num local adequado sucumbir a um vento desse. Pode vergar, perder galho e tal, mas resiste”, observa.
Para ele, outro problema são as espécies de árvores plantadas na cidade, como a sibipiruna. “O importante é definir o perfil. Ela não pode crescer muito para atingir os fios, não pode ir em busca da água horizontalmente e não ser propensas às doenças”. O consultor ambiental cita as espécies conhecidas como escova de garrafa e ipê anão como árvores recomendadas para o plantio urbano. “O ambiente fica mais agradável com o verde e as pessoas não entendem o significado disso. Jardins verticais, hortas em terraços, isso é uma questão de economia. O verde é determinante para criar condições melhores de vida nas áreas urbanas”, defende.
O geógrafo é taxativo ao dizer que não se pode diminuir a arborização em Dourados. “Precisa gestar o que tem e até mesmo ampliar. Não somente árvores, mas investir em jardins nos canteiros. Você vai para a zona rural, às vezes, você não encontra espécies de pássaros que você vê na área urbana. Por que eles são atraídos? Por comida e por conta das árvores. Isso é um patrimônio e esse patrimônio tem que ser cuidado. Ficando com temperaturas mais agradáveis, escaparíamos de um fenômeno das grandes cidades chamado ‘ilhas de calor’. Se você muda o ambiente nesses espaços, no sol do meio dia do verão fica insalubre, com reflexos da luminosidade solar. Só é possível viver com ar-condicionado”, finaliza.
Plano Diretor de Arborização Urbana De acordo com o Pdau, publicado no dia 27 de setembro de 2021, o relatório identificou 50 espécies de árvores em Dourados, sendo 73 nativas e 75 exóticas. O oiti é a espécie mais encontrada na cidade, assim como a sibipiruna, manga, cacau-selvagem e ipê roxo, e também são das que mais intervém na rede elétrica. As que apresentaram maiores médias de altura foram a sibipiruna (8,59 m), palmeira-imperial (8,16 m), manga (7,04 m) e ipê-roxo (6,29 m).
Conforme o documento do Imam, 4% das árvores apresentaram problemas de necrose, 4% cupins, 1,03% fungos, 3,5% injúrias (danos físicos) e 35 espécies apresentaram algum tipo de parasita. 50,60% necessitam de poda de condução, 38,12% poda levantamento de copa, 9,78% poda de limpeza e 1,50% poda de equilíbrio. Dentre as árvores amostradas, a maioria (72,5%) não apresentara qualquer tipo de conflito com a infraestrutura. Mas os problemas mais citados são crescimento das raízes e consequente levantamento ou quebra de calçadas. O conflito mais observado foi com rede elétrica. Dentre as necessidades de manejo, as principais estão relacionadas aos tipos de podas (tendo em vista os conflitos com rede elétrica), seguidas de ampliação de área livre. A espécie sibipiruna apresenta o maior índice de necessidade de remoção (66%) devido aos problemas fitossanitários encontrados (cupins e necroses).
Fonte: Dourados Agora