Uma pesquisa feita pela CNC (Confederação Nacional do Comércio) em todas as capitais brasileiras aponta que, em Campo Grande, 61,9% das famílias estão endividadas. Este percentual é correspondente a janeiro deste ano e mostra que, na comparação com o mesmo período do ano passado, o número de famílias endividadas aumentou, principalmente porque, há 12 meses, o número se encontrava em 57,8%.

Já em números absolutos, o total de famílias endividadas saltou de 181.797, para 196.692 em um ano. No entanto, a pesquisa também deixa claro que esse número em Campo Grande vem caindo gradativamente mês a mês desde março do ano passado. Mesmo assim, o número de famílias endividadas do início deste ano é maior que o do ano passado. Os meses de abril, maio e junho são os mais críticos do ano quando o assunto é gente endividada, com índices chegando a 65,7%, 68,1% e 67,4%, respectivamente.

Para a economista Regiane Dedé de Oliveira, do IPF (Instituto de Pesquisa da Fecomércio), é importante ressaltar que esse estudo não envolve pessoas com o nome negativado, mas sinaliza o cenário de quem poderá entrar na lista do “nome sujo na praça”. Como os dois últimos anos podem ser considerados como atípicos, por conta da continuidade da pandemia da Covid-19, a razão de endividamento das pessoas foi modificada.

Em 2020, a pandemia só explodiu depois do carnaval. Então, de 2019 para 2020, as pessoas se endividaram no fim do ano, com esses números pipocando em abril. Outra parte estourou o orçamento no período carnavalesco e essas dívidas aparecem evidenciadas em maio e junho. Ano passado, entretanto, não houve carnaval e as pessoas ainda estavam em casa cumprindo quarentena obrigatória e trabalhando no ambiente doméstico — o popular home office. A vacinação ainda estava se iniciando e muita gente perdeu o emprego no primeiro trimestre de 2021, quando a taxa de desemprego chegou a 12,9%.

Outro dado que chama a atenção na pesquisa da CNC está ligado aos endividados com contas em atraso. O número não oscilou tanto, porém, ficou claro que em todo o ano de 2021 pelo menos um terço das pessoas estava nesta situação financeiramente desconfortável. O auge foi em março do ano passado com 34,5% da população e em janeiro deste ano foi registrado o menor índice, com 32,5%.  Em números absolutos e na hipótese mais otimista, pelo menos 102 mil famílias passaram o ano inteiro endividadas.

A parte desanimadora desta pesquisa da CNC está relacionada ao percentual de famílias que não vão sair da condição de endividadas: o índice saltou de 11,2%, em janeiro do ano passado, para 13,5%, em janeiro deste ano. Em julho do ano passado, o número de famílias de Campo Grande sem possibilidade de sair do endividamento chegou a 16,3%. Nos números absolutos, 35 mil famílias estavam nesta situação em janeiro de 2021 e agora este quantitativo atingiu mais de 42 mil famílias. Em julho do ano passado, no pior cenário, este número de famílias ultrapassou 51 mil.

Em Campo Grande, educação financeira se aprende na marra

A equipe de reportagem do Jornal Midiamax foi às ruas de Campo Grande e observou comportamentos diferentes na forma de assumir a dívida entre homens e mulheres e os motivos que levaram ao endividamento. Nas mulheres, por exemplo, nenhuma quis se identificar para a reportagem, embora todas elas tenham assumido que não resistem às ofertas relacionadas a roupas, sapatos e produtos de beleza em geral. Todas elas disseram que as promoções são tentadoras, enlouquecedoras, irresistíveis e, portanto, fica difícil de livrar-se delas. Já os homens até aceitaram conversar.

Para Alan Batista, que trabalha viajando muito, não sobra tempo de gastar e sim de juntar dinheiro. Ele destacou que sua ânsia de consumo está em baixa. “Muita gente ganha menos do que realmente necessita, mas há também aqueles que gastam sem necessidade e acabam se enrolando, principalmente após a perda de um emprego”, relatou. Já Nivaldo dos Santos se orgulha de não ter dívida, porém, deixa claro que todo mundo que conhece aprendeu a não dever na marra. “As pessoas precisam aprender a se organizar. Um exemplo disso é não aceitar um cartão de crédito cujo limite é maior que o salário”, comentou.

Na avaliação da economista Regiane Dedé de Oliveira, educação financeira é um tema que está cada vez mais evidente para toda a sociedade e é importante aprendê-la sem ter que passar por amarguras. Para ela, os primeiros passos com cartão de crédito não devem incluir compras de alimentos e nem remédios pelo fato de serem coisas que jamais deixarão de ser consumidas. “O cartão de crédito deve ser utilizado para compra de um bem que seja seguro parcelar, como uma geladeira, uma televisão”, disse a economista.

Fonte: midiamax