É praticamente consenso entre autoridades de saúde pública que o fim da pandemia da Covid-19 está diretamente ligado a um cenário em que parte considerável da população mundial esteja vacinada. Porém, existem diversos entraves para isso, o que tem sido chamado de desigualdade vacinal.

Enquanto no Brasil já se estuda a aplicação de uma quarta dose, em países de baixa renda, apenas 10% das pessoas receberam uma dose de vacina. Mas uma saída para este cenário pode estar a caminho, e se chama Corbevax, uma vacina sem patente, que pode ser a chave para o fim da pandemia.

Desenvolvida por pesquisadores do Centro Infantil para Desenvolvimento de Vacinas do Texas e da Escola Baylor de Medicina, ambos nos Estados Unidos, a Corbevax é uma vacina de subunidade proteica. Isso significa que o imunizante usa um pedaço da proteína spike do vírus para induzir a resposta imune.

Tecnologia diferente

Com tecnologia barata, pouco complexa e escalável, a vacina pode ser a chave para o fim da pandemia. Crédito: Riccardo Mayer/Shutterstock

Assim como a maior parte das vacinas usadas contra a Covid-19, a Corbevax, inicialmente, é aplicada em duas doses. Porém, a diferença é que a nova vacina entrega a proteína spike pronta, enquanto outras, como as vacinas de mRNA, que dá ao corpo as instruções sobre como produzir a proteína spike.

Inicialmente, o projeto era de uma vacina contra a Sars, doença causada por um outro coronavírus, que assolou a China no início da década de 2000. Porém, como não foi uma epidemia tão duradoura quanto a da Covid-19, um imunizante contra aquele vírus não foi necessário.

Contudo, quase 20 anos depois, a pandemia da Covid-19 fez com que os pesquisadores Maria Elena Bottazzi e Peter Hotez voltassem a trabalhar em seu projeto. Eles fizeram as atualizações necessárias e criaram a Corbevax.

Alta efetividade

Em dois grandes testes clínicos, que envolveram cerca de 3 mil pessoas na Índia, a vacina foi classificada como segura e bastante eficaz. O imunizante foi 90% eficaz na prevenção de infecções sintomáticas contra a cepa original de Wuhan e efetividade superior a 80% contra a variante Delta, considerada a mais fatal.

A tecnologia usada na Corbevax, a subunidade proteica, é mais barata e escalável quando comparada a outras tecnologias, como o mRNA. Ela já é usada na vacina da Novavax, usada em 170 países, e na vacina contra a hepatite B.

Vacinas de subunidade proteica são mais escaláveis porque as fábricas com capacidade para produzi-las já estão prontas e só precisam de pequenas adaptações. Além disso, depois de prontas, as vacinas podem ser armazenadas em refrigeradores normais, o que facilita muito a distribuição para locais mais remotos.

Vacina de código aberto

A Corbevax também foi pensada desde o início para ser uma vacina de “código aberto”, e os pesquisadores envolvidos no desenvolvimento do imunizante não tiveram preocupação com propriedade intelectual. A vacina foi licenciada sem patente pela fabricante de vacinas indiana BioE.

Com o sistema de patente livre, a Corbevax poderá ser produzida e distribuída localmente em países de baixa e média renda, que hoje estão com índices de vacinação abaixo do aceitável. Com custo e complexidade de produção baixas, podem ser a chave para acabar com a desigualdade vacinal.

Fonte: Olhar Digital