Da Agência de Notícias da Indústria

Sondagem realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) junto a 196 médias e grandes empresas industriais e de serviços selecionadas mostra que apenas 10% delas utilizaram linhas de financiamento público à pesquisa e desenvolvimento (P&D) ao longo do ano de 2020.

De acordo com os dados, 89% das empresas consultadas custearam a atividade inovação com recursos próprios. Os números serão divulgados no 9º Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria, promovido pela CNI e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) nos dias 9 e 10 de março.

Apesar da falta de apoio público, a sondagem empresarial revela que a maior parte das empresas consultadas enxerga a importância de investir em P&D e destina recursos para produtos e processos inovadores.

Em 2020, 65% das empresas ouvidas realizaram alguma atividade/investimento em inovação. Os dados apontam que 73% das empresas entrevistadas inovaram em 2020 – o que significa alta de cinco pontos percentuais em relação a 2019, quando 68% dessas empresas informaram ter desenvolvido algum produto ou processo novo. 

Na avaliação do presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, os resultados referentes às fontes de financiamento confirmam uma realidade que se arrasta há anos e governos no Brasil: o país não prioriza a área de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) e a inovação empresarial é feita com baixo apoio público.

O levantamento nacional mais atual mostra que o Brasil investiu 1,21% do PIB em P&D em 2019, incluindo recursos públicos e privados, contra 1,17% do ano anterior– conforme os dados mais recentes.

Ou seja, há duas décadas o Brasil se mantém distante do patamar de 2%, tendo em vista que em 2000 o investimento foi de 1,05%. A título de comparação, o investimento chinês em P&D em relação ao PIB, nesse mesmo período, saltou de 0,89% para 2,23%.

No Brasil, entre os programas e meios de apoio governamental usados pelas empresas destacam-se a Lei do Bem, financiamento a projetos de P&D/inserção de pesquisadores, bolsas de pesquisas, Lei de Informática e subvenção econômica à P&D e à inserção de pesquisadores.


“Estamos na contramão de países desenvolvidos, que reconhecem o papel do Estado no fomento à inovação, ciência e tecnologia. Os frutos de um ambiente nacional mais aberto para a inovação são colhidos pela própria sociedade, com aumento da qualidade de vida das pessoas, redução do custo da tecnologia, criação de empregos melhores. Por isso, o Brasil precisa, urgentemente, de uma estratégia de inovação de longo prazo”, avalia Andrade.


Despesas com pessoal respondem por 57% dos investimentos em inovação

O levantamento da CNI mostra ainda que a maior parte dos investimentos em inovação é destinada a pessoal – em média, 56,9% dos dispêndios entre as empresas ouvidas. Outros 20,6% vão para despesas de capital e 22,6% para outras despesas correntes.

Em média, 19% da receita líquida de vendas das empresas que responderam à consulta da CNI resultaram de lançamento de um produto inovador, um crescimento de dois pontos percentuais em relação ao ano anterior. Por outro lado, o percentual médio de investimento em P&D em relação à receita líquida de vendas das empresas caiu de 2,4%, em 2019, para 2%, em 2020, embora mais empresas tenham inovado de um ano para o outro. 

Segundo a diretora de Inovação da CNI, Gianna Sagazio, pode haver um descompasso entre a taxa de inovação e o investimento em P&D pois as inovações podem ser resultado de atividades de pesquisa e desenvolvimento realizadas em anos anteriores.

Além disso, nem toda inovação deriva exclusivamente do investimento em pesquisa e desenvolvimento. De todo modo, é razoável supor que o quadro econômico deva ter contribuído para a queda observada de 2019 para 2020, período que coincide com o início da pandemia e de fragilização financeira das empresas.  

Mais da metade das indústrias entrevistadas investe em inovação aberta

A sondagem da CNI traz um dado bastante relevante sobre inovação aberta, que significa a união de uma empresa com outra empresa, instituição, universidade ou startup. De acordo com o levantamento, 51,1% das empresas que responderam à consulta tiveram alguma cooperação com outra organização para realização de P&D.

As empresas listaram os clientes e consumidores como os mais importantes parceiros para cooperação. Na sequência, apareceram como os principais parceiros para a inovação os fornecedores de equipamentos e insumos; as universidades e institutos de pesquisa; outras empresas do grupo; e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).

Em relação à formação do pessoal que trabalha com inovação, as empresas consultadas apresentaram, em média, 117 pessoas empregadas em atividades de P&D em 2020. Desses, em média, 63 são pesquisadores graduados; 15 são técnicos graduados; 14 são profissionais pesquisadores com de nível médio ou fundamental; 9 são técnicos de nível médio ou fundamental; 8 são mestres; 5 são auxiliares (trabalhadores de suporte) e 3 são doutores.

Questionadas sobre as principais razões para não investir em P&D, as entrevistadas que não realizaram atividade de P&D apontaram custos de implementação muito elevados e a existência de outras estratégias relevantes para a competitividade, seguidos por falta de pessoal qualificado na empresa e falta de linhas de financiamento adequadas.Sondagem sobre P&D e inovação empresarial (1,5 MB)

Saiba mais sobre a consulta empresarial

A consulta empresarial foi realizada pela CNI entre outubro de 2021 e fevereiro de 2022, junto a executivos e CEOs de 196 empresas atuantes no setor de serviços, indústrias extrativas e de transformação com mais de 50 trabalhadores.

Entre as 196 empresas consultadas, 74 fazem parte da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), grupo que reúne mais de 400 das principais lideranças de empresas com atuação no país. A sondagem constata que as empresas que integram a MEI são mais inovadoras que a média das demais. Os dados apontam, por exemplo, que 92% dessas companhias inovaram em 2020 e que 79% realizaram inovação aberta.

A CNI considera fundamental o aumento dos investimentos em inovação pelo poder público e privado. A Confederação defende medidas como o aprimoramento da Lei do Bem e a aplicação integral dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), maior fonte de financiamento à CT&I do país. No começo de 2021, o Congresso Nacional aprovou uma lei que proíbe o bloqueio de valores do fundo. 

“É imprescindível que o governo aplique a quantia disponível no FNDCT integralmente na sua finalidade, que é o fomento à pesquisa, desenvolvimento tecnológico e à inovação”, pontua Gianna Sagazio.

Fonte: Dourados Agora