O serviço mantido pela prefeitura é gratuito, sigiloso e aberto a toda população
O Caps AD (Centro de Atendimento Psicossocial Álcool e Drogas) é um órgão público de Dourados destinado ao tratamento de dependentes químicos do município e região. Por dia, uma média de 15 pessoas recebem atendimento do local. Para o tratamento, cada paciente possui um plano terapêutico elaborado por uma equipe multidisciplinar.
O centro funciona há mais de 10 anos, oferece alimentação gratuita (inclusos café da manhã, almoço e lanche da tarde) e atendimento com equipe multiprofissional composta por assistente social, enfermeiro, psicólogo, terapeuta ocupacional, médico clinico, médico psiquiatra e técnicos de enfermagem.
Em entrevista ao PROGRESSO, o coordenador Vagner da Silva Costa destacou que o trabalho tem ajudado a resgatar dezenas de pessoas do vício. Ele explicou que o serviço do Caps AD é o chamado “porta aberta”, ou seja, não há necessidade de encaminhamento médico para que o paciente inicie o tratamento, basta buscar a unidade.
“Não é um espaço de internação. Os casos que requerem essa necessidade são encaminhados a outras instituições via sistema de regulação médica”, afirmou Vagner. Porém, ele ressaltou que há um projeto para transformar o local em modalidade AD3 que funcionará 24h, permitindo que o paciente fique internado no local por até 15 dias.
Além dos atendimentos, os pacientes participam de terapias em grupos e realizam artesanato no Caps. “Eles descobrem novas habilidades, se sentem úteis e aprendem novas atividades que traz satisfação sem causar prejuízo à saúde”, enfatizou o coordenador.
Dinâmicas em grupo fazem parte do processo de recuperação
O psiquiatra Renato Stucki que atende no local destacou a importância de equipamentos de saúde como o Caps AD para a recuperação dos pacientes. “Atualmente se discute muito a questão da internação, porém é importante ressaltar que há um caminho que pode ser trilhado antes de chegar a essa última alternativa. Em grande parte dos casos é possível uma recuperação dentro do ambiente familiar. O CAPS vem para somar, aqui o paciente passa por diversos profissionais que juntos vão entender a demanda e traçar a melhor forma de tratamento”, afirmou o médico.
“Claro que existem casos que a alternativa é a internação, mas nem todos os casos são para internação, na verdade a maioria não é. Com os trabalhos que desenvolvemos aqui e a força de vontade do paciente, é possível vencer a dependência”, enfatizou Renato.
Pacientes aprendem artesanato no Caps AD
De acordo com a psicóloga Elenita, a família é fundamental no processo de recuperação e também está inserida no cronograma de atividades do Caps AD. “O centro promove encontros com rodas de conversa entre as famílias e os pacientes que frequentam a unidade”, explicou.
No local eles são incentivados e instruídos a inserção no mercado de trabalho. De acordo com a assistente social Gislaine, já houve casos de conseguirem emprego após entrega de currículo feito no Caps. “Grande parte de nossos pacientes são pessoas que estão sofrendo prejuízos financeiros por conta do vício e resolveram buscar ajuda. Aqui elaboramos currículo e damos diversas orientações a cerca de direitos”, explicou Gislaine.
Endereço
O Caps AD está localizado na Rua Gustavo Adolfo Pavel, 2655 – Jardim Vital e atende de segunda à sexta-feira, das 7h às 17h.MÉDICO PSIQUIATRA RENATO STUCKI ALERTA PARA O PERIGO DA MACONHA
Médico Psiquiatra Renato Stucki alerta para o perigo da maconha
De acordo com o médico psiquiatra Renato Stucki, que atende no CAPS AD é comum que os pacientes que fazem uso das substâncias (álcool e drogas) não apresentem somente sintomas comuns relacionados ao vício. “Junto vem a comorbidade psiquiátrica, como por exemplo as alterações de humor, ansiedade, depressão e as psicoses, popularmente conhecidos como os surtos”, destacou Stucki.
O médico afirmou que a maconha é uma das substâncias investigadas que mais causam psicoses. “Às vezes as pessoas não tem consciência do perigo dessa droga, acreditam que ela é inofensiva em relação as demais, mas parafraseando o psiquiatra Valentim Gentil Filho, professor titular da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), podemos afirmar que a maconha é uma fábrica de esquizofrenia, funciona como gatilho para a manifestação das psicoses”, alertou o especialista.
A dona de casa Rosa Helena Maranhão (nome fictício), de 50 anos, moradora em Dourados relata que o filho passou a desenvolver transtorno bipolar afetivo após o vício da maconha. “Quando ele tinha 17 anos, descobri que estava fumando maconha. Sem conhecimento na época, eu achei que seria melhor para segurança dele, que ele fumasse em casa, pois tinha medo do meu filho se envolver com traficante. Eu não sabia o perigo que a maconha representava para a mente em formação de um adolescente. Ele usava maconha em casa e perdeu o limite”, lamentou a mãe.
“Algum tempo depois percebi que meu filho estava com comportamentos bem estranhos, não parecia mais ele. Estava agressivo, não olhava nos olhos, estava muito diferente do que ele era. Comecei a entrar em contato com psiquiatras, pois ele se negava a ir. Foi então que os especialistas me explicaram que a maconha estava causando uma epidemia de psicoses e esquizofrenia nos jovens. Internei meu filho duas vezes, é sempre uma luta, um dia após o outro. Por isso quero fazer um alerta aos pais: não permitam que seus filhos fumem em casa, busquem ajuda e tratamento”, frisou Rosa Helena.
Um dos grandes problemas atuais está relacionado a Supermaconha, que possui alto teor de THC, que é a principal substância psicoactiva encontrada nas plantas do gênero Cannabis. Uma pesquisa publicada em abril de 2018 no Translational Psychiatry que indicou efeitos do THC em neurônios derivados de células-tronco, alterando funções relacionadas à biologia do RNA (ácido ribonucleico, na sigla em inglês) e à regulação da cromatina, semelhantes ao encontrado no autismo e na esquizofrenia.
Em relação ao intelecto, trabalho publicado em 2012 no Proceedings of the National Academy of Sciences mostrou que o uso de cannabis resulta em redução de 8 pontos no QI de usuários entre os 18 e os 38 anos. Diversas outras pesquisas mostraram alterações cognitivas, com prejuízos para a memória e as funções executivas.
Fonte: Dourados Agora