A segunda noite de desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro vai concentrar homenagens às religiões africanas, à cultura e a uma personalidade negra, além de retratar uma lenda indígena. Os desfiles começam às 22h deste sábado, 23, e devem se estender até por volta das 5h do domingo, 24.
A Paraíso do Tuiuti, que em 2018 foi vice-campeã com um enredo sobre a escravidão, vai exaltar os negros. Falará de personalidades como o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, o ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela ( 1918-2013) e a cientista espacial norte-americana Katherine Johnson (1918-2020), uma das responsáveis pelo sucesso da corrida espacial dos Estados Unidos.
Cada personalidade será ligada a um orixá, segundo o carnavalesco Paulo Barros, que conquistou quatro títulos nos últimos 11 desfiles. O motorista Rinaldo Gaudêncio Américo, que faz sucesso como sósia de Obama há mais de dez anos, vai personificar o ex-presidente norte-americano na avenida.
A segunda escola a desfilar na noite de sábado será a Portela, com o enredo “Baobá”. Essa árvore típica da África (e existente também na Austrália) é considerada sagrada por religiões de matriz africana. É cultuada como símbolo de sobrevivência, sabedoria, ancestralidade e resistência. Trazida ao Brasil por africanos, foi usada por exemplo no paisagismo do Campo de Santana, no centro do Rio. Ali, alguns exemplares plantados em 1873 seguem firmes, prestes a completar 150 anos. No enredo, o casal de carnavalescos Renato e Márcia Lage associou a árvore à história da Portela, maior vencedora dos desfiles do carnaval do Rio, com 22 títulos.
A Mocidade Independente de Padre Miguel também vai apresentar um enredo religioso. “Batuque ao Caçador” discorre sobre Oxóssi, divindade das religiões afro-brasileiras que simboliza o caçador, a fartura e o sustento. Esse orixá também é padroeiro da escola (a primeira quadra da Mocidade foi construída no terreno em que funcionava o terreiro de Tia Chica, consagrado a Oxóssi). Também foi inspirador do toque da bateria da escola – por iniciativa do Mestre (de bateria) André, o toque de suas caixas é baseado no aguerê (toque consagrado ao orixá) de Oxóssi Por isso, o enredo é também uma homenagem a todos os ritmistas da escola. A rainha de bateria, Giovana Angélica, raspou o cabelo para o desfile, em homenagem ao enredo.
A Unidos da Tijuca vai discorrer sobre a lenda indígena do surgimento do guaraná. A história diz que um casal de índios sem filhos pediu ao deus Tupã que ele os tornasse pais. O pedido foi atendido e nasceu um bebê bonito e saudável. Invejoso de suas qualidades, Jurupari, o deus da escuridão, resolveu matar o pequeno índio. Um dia, enquanto o menino colhia frutos na floresta, Jurupari se transformou em serpente. Tupã mandou trovões alertando os pais sobre o perigo que o menino corria, mas não houve tempo de salvá-lo. Tupã então mandou plantar os olhos da criança para que deles nascesse uma planta. O fruto dessa planta deveria ser distribuído como fonte de energia. No local onde os olhos foram plantados nasceu o guaraná, fruta que tem o aspecto de olhos. A partir da lenda, a escola vai defender a cultura indígena.
A penúltima escola a desfilar no sábado será a Grande Rio, que vai falar de Exu, outra divindade de origem africana. A escola vai mostrar a ligação dessa divindade com o lixo, a partir da ideia de transformação, e abordar o aterro sanitário de Gramacho, em Duque de Caxias (cidade-sede da Grande Rio). Outro objetivo do enredo é desmistificar Exu, identificado pela cultura ocidental como representante do mal, e combater a intolerância religiosa.