Casa Branca promove pacote de estímulo de 850 bilhões de dólares e propõe envio em massa de cheques aos cidadãos nas próximas duas semanas
A Casa Branca, o Congresso, o Federal Reserve (Fed). Os Estados Unidos colocam toda a maquinaria do Estado para conter os efeitos destrutivos de uma crise que já ameaça setores inteiros da economia e vem atingindo fortemente os mercados há semanas. “Estamos indo muito bem”, resumiu o presidente Donald Trump nesta terça-feira ao meio-dia (13h em Brasília) em uma entrevista coletiva na Casa Branca. O Governo está enviando ao Congresso um enorme pacote de estímulo financeiro de cerca de 850 bilhões de dólares (cerca de 4,23 trilhões de reais) para conter o colapso econômico causado pela expansão do coronavírus, conforme confirmou o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, na mesma coletiva. De uma envergadura que não se via desde a Grande Recessão, é um conjunto de medidas de alívio às pequenas empresas e companhias aéreas, e inclui ajudas diretas aos cidadãos.
“Estamos estudando enviar cheques aos norte-americanos imediatamente”, disse Mnuchin. “E me refiro a agora, nas próximas duas semanas.” Após mais uma queda drástica na segundafeira, Wall Street reagiu bem aos anúncios do Governo e do Fed, e fechou o dia em forte alta (o índice Dow Jones encerrou o dia em 5,17%, e o Nasdaq em 6,23%). O pacote norte-americano é o mais expressivo entre os vários anunciados em todo o mundo nos últimos dias. O Governo espanhol apresentou o valor de 200 bilhões de euros, quase 20% de seu PIB. Já o governo francês prometeu 50 bilhões de dólares para ajudar as empresas do país. No Brasil, o pacote anunciado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, foi de 150 bilhões de reais.
No início se falava nos Estados Unidos de redução de impostos sobre a folha de pagamento dos trabalhadores, mas Mnuchin explicou que, a pedido do presidente, optou-se diretamente por “enviar cheques de maneira imediata” aos cidadãos para amortecer os efeitos da crise em sua economia e incentivar o consumo. Os cortes nos impostos sobre a folha de pagamento levariam meses para chegar ao bolso dos cidadãos, então a Administração preferiu, segundo Mnuchin, enviar pagamentos diretos aos norte-americanos “nas próximas duas semanas”. A escolha dessa modalidade de ajuda mais direta, que tem o apoio dos democratas, é uma demonstração do ritmo vertiginoso em que evolui a resposta dos Estados Unidos a essa crise incomum.
Durante a entrevista coletiva, Mnuchin não quis confirmar o valor dos cheques com os quais se está trabalhando. Mas alguns senadores, como o republicano Mitt Romney, com quem Mnuchin se reuniu na noite de segunda-feira, falaram em cheques de 1.000 dólares. “Essa é uma das ideias de que gostamos”, reconheceu o secretário do Tesouro na terça-feira na Casa Branca.
Mnuchin explicou que detalhará o plano nesta terça-feira aos senadores republicanos durante um almoço de trabalho. A ideia é que seja aprovado antes do final desta semana. O líder da maioria no Senado, o republicano Mitch McConnell, indicou que a Câmara Alta “permanecerá em sessão até aprovar medidas que vão além do projeto de lei de alívio econômico da Câmara dos Representantes”, referindo-se a outro conjunto de medidas, acordado entre a Casa Branca e os congressistas democratas e avaliado em 100 bilhões de dólares, que foi aprovado pela Câmara Baixa na sexta-feira e ainda deve ser votado no Senado.
O secretário do Tesouro também confirmou que autorizou o Fed a comprar papel comercial, um instrumento de financiamento de curto prazo emitido pelas empresas. Para levar a cabo o programa, que faz parte das competências de emergência do Fed, o Tesouro fornecerá um crédito de 10 bilhões de dólares à entidade emissora. Essa ferramenta do banco central permite que as empresas tenham acesso imediato ao financiamento para suas obrigações de curto prazo, como o pagamento de salários.
O pacote de medidas apresentado por Mnuchin injetará liquidez na economia. Além disso, inclui uma ajuda de 50 bilhões de dólares às companhias aéreas, particularmente atingidas pela diminuição de passageiros causada pela pandemia. A Casa Branca também quer incluir ajudas às pequenas empresas para que possam lidar com uma crise que causou perdas históricas nos mercados. O medo de uma cada vez mais provável recessão cerca de urgência as medidas de estímulo que estão sendo estudadas pelo Governo.
Comparado às novas medidas, o pacote de estímulo aprovado pela Câmara dos Representantes na sexta-feira empalidece. Aquele, cujos detalhes ainda estão sendo definidos, contempla medidas como a garantia de remuneração por motivo de licença médica. Discrepâncias entre republicanos e democratas sobre a maneira correta de agir emergem da tramitação parlamentar das ajudas. A prioridade dos primeiros são os cortes de impostos e as ajudas diretas à indústria, enquanto os segundos preferem as ajudas aos trabalhadores, aos setores mais vulneráveis da população, bem como aos serviços de saúde e às escolas.
Os senadores democratas também estão debatendo nesta terça-feira para delinear sua posição. Espera-se que o líder da minoria democrata, Chuck Schumer, esboce sua própria proposta, avaliada em 750 bilhões de dólares, para compará-la com a da Casa Branca. A proposta de Schumer, de acordo com o The Washington Post, inclui uma ampliação do seguro desemprego, da assistência com os créditos e a contenção dos despejos, assim como investimentos em saúde. Muitos democratas questionam a eficácia do corte de impostos sobre as folhas de pagamento propostas pelos republicanos porque não ajuda aqueles que perderem seus empregos devido à pandemia.
O coronavírus já afeta mais de 182.000 pessoas em todo o mundo, 4.661 delas nos Estados Unidos. As medidas tomadas pelo Governo federal e pelas autoridades estaduais para deter seu avanço já afetam várias esferas da vida dos norte-americanos.
Fonte: EL Pais Brasil