Morreu Tuim, o velho nobre Kaiabi, Kawaiwete, artesão de cestos, remos e arcos, de fina pedagogia na condução de seu povo e contato com o mundo dos brancos.
Imagem da deslocação e permanência Kaiabi, persistência Kawaiwete.
Em certo momento de boa fome, cansado de rio, encontrei o sorriso largo de Tuim, em 2003, na aldeia Samaúma, à beira do baixo Xingu, acompanhando médico amigo em vigilância à saúde indígena da área. Tuim ofereceu uma perna tenra de porco assado em seu jiral, defumado na fumaça de pau caído na mata. Nunca esquecerei aquela carne de porco do mato, o apreço e seu sorriso largo.
Tuim, tão cortês conosco e com os seus, conduziu seu povo pelas terras do Xingu, no momento da diáspora Kaiabi, contava ele.
Do óbito sei que finda o convívio, partilhas, mas há algo que persiste na partida de pessoas assim, mesmo que triste, uma sabedoria que não cede à morte.
Onde cabe a poesia em hora assim?
Fico pensando no acerto de contas, como fez Thiago de Mello e Manoel de Barros, os guardadores de águas.
Quero escrever, não escrevo; recordo, abro antigos papéis.
recorte de o Guardador de Águas, de Manoel de Barros
Fonte: Jornalistas Livres