As restrições impostas pela pandemia de covid-19 estimularam atores, diretores e produtores de teatro a expandir sua visão sobre como encenar uma peça.
Em cartaz no Teatro FAAP, em São Paulo, a comédia musical ‘Seu Neyla’ é um exemplo de inventividade. O protagonista, Ney Latorraca, participa do espetáculo remotamente, da sala de sua casa, no Rio.
Por meio de um telão de 5 metros de altura por 2,5 metros de largura no palco, ele interage com o elenco e a plateia. A tecnologia é colocada a serviço da arte.
O texto escrito pela humorista Heloísa Périssé ganha agilidade na direção do premiado José Possi Neto. Marca a comemoração dos 60 anos de carreira de Latorraca.
De mocinho a vilão, de anarquista a vampiro, o artista fez de tudo na teledramaturgia. Na peça, um de seus personagens mais famosos ressurge em participação especial, o impagável Seu Barbosa do ‘TV Pirata’.
Comumente chamado de ‘seu Neyla’ nas ruas, Ney Latorraca conversou com o Terra.
Como vê essa inovação de fazer a peça diretamente de sua casa? Sente falta da proximidade física do público?
É uma nova proposta de teatro, um trabalho diferenciado, o público participa direto comigo. Sinto falta de vê-lo no final, mas estou mais presente do que nunca.
O senhor completa 60 anos de carreira em momento crítico para a classe artística e as artes. Como avalia o desafio de sobreviver profissionalmente neste período?
Sou um contratado da TV Globo, então consegui me segurar, mas nossa cultura foi deixada de lado nos últimos quatro anos. O retrato de um País é sua cultura.
O senhor se sente devidamente reconhecido como um dos maiores atores do Brasil?
Seria falso da minha parte dizer que não, mas minha geração tem grandes atores e atrizes. E os jovens que estão chegando são poderosos.
Muitos veteranos da TV reclamam da falta de bons papéis para atores mais velhos. Concorda com essa crítica?
Não. Somos nós, os atores, que precisamos buscar ótimos papéis. Realmente não sinto esse tipo de preconceito.
O senhor tem uma galeria de grandes personagens na teledramaturgia, como Quequé, Volpone e Vlad. É saudosista em relação a esses trabalhos sempre lembrados?
Sinto saudades como se fossem meus filhos. E realmente são.
É conhecido por sua vaidade. Em 2024 completará 80 anos. Lida bem com o envelhecimento nessa sociedade que supervaloriza a juventude?
Meu espaço ninguém tira (risos). Tenho 78 com corpinho de 18. Ando na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, três vezes por semana, eu me cuido. Minha vaidade é saudável, não magoa ninguém (risos).
Qual conselho o Ney Latorraca de hoje, consagrado, daria ao Ney Latorraca de seis décadas atrás, em início de carreira?
Mandaria o Latorraca jovem fazer tudo de novo, porque deu certo para o Latorraca mais velho.