O mercado de juros aguentou firme o tranco do cenário internacional e as taxas fecharam a sexta-feira perto dos ajustes da quinta-feira, com viés de alta, resilientes à influência negativa do avanço dos Treasuries, do petróleo e do tombo das bolsas americanas. O relatório de emprego nos EUA em setembro mostrou um mercado de trabalho relativamente forte, o que deve manter as pressões inflacionárias elevadas e risco de aperto monetário agressivo. No Brasil, além das taxas já terem subido nas últimas sessões, a relativa estabilidade do câmbio e a melhora na percepção do processo eleitoral ajudam a explicar o comportamento da curva, que no balanço da semana teve leve perda de inclinação.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,765%, de 12,737% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 passou de 11,55% para 11,56%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 11,36%, de 11,34%.
A curva manteve a tendência das últimas sessões, de uma dinâmica mais concentrada na ponta longa, onde estão os riscos externos e fiscais, mas nesta sexta até mesmo este trecho oscilou com moderação. Com o fim do ciclo de aperto da Selic, o movimento dos DIs curtos está atrelado à expectativa sobre o início dos cortes e, por ora, os indicadores de atividade nesta semana não alteram a concentração das estimativas entre o fim do primeiro e começo do segundo trimestre de 2023.
“O BC não deve começar a cortar juro enquanto o Fed não tiver encerrado do ciclo de aperto”, prevê o estrategista-chefe da CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi, para quem as condições locais mais positivas do que no exterior ajudam a blindar a curva doméstica. “A expectativa é de desaceleração da inflação mais rapidamente aqui do que em países avançados e estamos perto do fim do processo eleitoral. Os resultados (da eleição) que poderiam ser mais prejudiciais já estão sendo descartados. A composição do Congresso reduz a chance de medidas radicais”, avalia.
Enquanto isso, no exterior, a aversão ao risco pautou os negócios, penalizando as bolsas e puxando para cima as taxas dos Treasuries, a partir da avaliação do payroll de setembro, que surpreendeu principalmente pela queda da taxa de desemprego, de 3,7% para 3,5% ante expectativa de estabilidade.
“Para a política monetária, a implicação é clara. Não tem motivos para (o Fed) se preocupar com a meta referente ao emprego e mirar exclusivamente no combate inflacionário”, afirma o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.
Ante os níveis da sexta-feira passada, as taxas de curto e médio prazo ficaram praticamente estáveis enquanto a ponta longa fechou cerca de 20 pontos-base. “O DI janeiro de 2031 fechou um pouco mais do que 20 pontos, em reação principalmente à leitura majoritária entre os analistas de que a composição do Congresso limita o espaço para a adoção de medidas heterodoxas e para o retrocesso das reformas, além da perspectiva de que ambos os candidatos caminhem mais para o centro”, explicou o estrategista-chefe da Renascença DTVM, Sérgio Goldenstein.