Reflexo negativo deve começar a ser sentido - Foto: Valdenir Rezende / Correio do Estado

Levantamento é da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande

Reflexo negativo deve começar a ser sentido – Foto: Valdenir Rezende / Correio do Estado

No cenário mais otimista possível da crise econômica gerada pelo novo coronavírus, três em cada dez pessoas devem perder seus empregos somente no comércio de Campo Grande, sem contar os estabelecimentos que correm o risco de fechar as portas. Especialistas ouvidos pelo Correio do Estado afirmam que só é possível amenizar essa situação com esforço conjunto dos governos municipal, estadual e federal, para evitar quedas bruscas na confiança do empresariado.

Roberto Oshiro, primeiro-secretário da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG), afirma que 80% dos varejistas que entraram em contato com a instituição na última semana afirmam que o corte nas equipes é praticamente inevitável.

“Já tivemos reuniões com a prefeitura e estamos preparando uma série de sugestões para evitar ao máximo os prejuízos”, explica.  

A classe também aguarda retorno da União a respeito de subsídios para ajudar a bancar salários e pede esforço conjunto dos donos dos imóveis comerciais para renegociar aluguéis. “É preciso evitar a ‘convulsão social’”, diz Oshiro.

Segundo ele, a ACICG entende como necessárias as medidas sanitárias para restringir o fluxo de pessoas e evitar a transmissão do novo coronavírus, mas, infelizmente, a maioria esmagadora dos estabelecimentos não aguenta chegar até o fim dos 15 dias de fechamento compulsório do comércio  sem ajuda governamental. Ou seja, é preciso proteger a população e a economia ao mesmo tempo.

Mesmo entre os locais que estão abertos, a situação é preocupante.  

“Os supermercados, por exemplo, tiveram um bom faturamento na semana passada, mas agora as pessoas só vão sair de casa para comprar o que faltar na dispensa”, afirma. Com isso, já é notada queda na procura pelos produtos.

Isso acontece porque a população já prevê instabilidade financeira e só tem adquirido o que considera essencial para a sobrevivência.

MEDO CONTINUA

A economista Daniela Dias, da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Mato Grosso do Sul (Fecomercio), acredita que, mesmo com o fim da quarentena, haverá também muitas pessoas que ficarão com medo de sair de casa e pegar o vírus, ainda que as autoridades declarem a disseminação do agente patológico sob controle.

“Tem chegado o momento de pensarmos no momento de pós-quarentena: o que é preciso fazer com a economia, com os empresários e a população mais carente, que já estão sofrendo agora e ainda vão enfrentar uma crise econômico-financeira muito grande”, disse ao Correio do Estado.

Segundo ela, a intenção de consumo das famílias será menor. “Vamos precisar retomar a expectativa e a confiança dos próprios empresários e desses consumidores, porque vamos continuar tendo perdas, ainda que amenizadas, mesmo com o comércio aberto”, pontua.

A revisão tributária é fundamental para que o varejo sobreviva. “Já tem um decreto falando da prorrogação do prazo do imposto, mas vamos precisar de mais. O ideal seriam 120 dias para o pagamento. Além disso, a própria alíquota precisaria ser alterada, o que é fundamental para amenizar custos e até praticar preços melhores para atrair os consumidores”, opina Daniela.

Facilitar o crédito é outro passo importante nesse caminho de recuperação, pois muitos empresários terão que acessá-los para obter capital de giro ou até mesmo pagar funcionários. Nesse aspecto, o governo federal já liberou uma linha do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Estado disponibilizou o Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO).

“Vamos precisar de taxas pequenas. Todas essas medidas, o empresário precisa ser assistido por pelo menos 12 meses”, pontua.

Opinião semelhante tem o economista Sérgio Torres. Para ele, são fundamentais as medidas para conter o avanço do vírus, como o próprio isolamento, mas, sem subsídio governamental, o colapso será inevitável.

“No Brasil, temos certa dificuldade porque o País tem investido mal, de modo que não estavam surtindo efeitos na economia e a geração de empregos já estava baixa. Agora, será preciso subsidiar as famílias com rendas, para que possam diminuir a tensão e reduzir as consequências da crise”, afirma.

OLHO DO FURACÃO

A diarista Edith Andrade de Souza sente na pele as dificuldades econômicas causadas pelo novo coronavírus.

“Trabalhava como diarista na casa de pessoas e, com essa crise, como meus clientes eram da faixa de risco, estou parada há 15 dias, desde que começou a se falar na doença. Não consigo arrumar outro serviço em razão da quarentena”, disse.

Na casa dela, todos os boletos estão atrasados. “Estou sem pagar conta alguma. Quando a situação voltar ao normal, elas vão acumular ainda mais, gerando juros. Estamos vivendo hoje com o que as pessoas estão ajudando, um dá um pacote de arroz, outro dá feijão. Está difícil e estamos tentando nos virar”, desabafa.

Fonte: Correio Do Estado