“Está sem dinheiro? Faz um empréstimo”. É assim que muitos sul-mato-grossenses encaram finanças pessoais, mesmo que empréstimos possam resultar, na maioria absoluta das vezes, em dívidas longas e “caras”. Isso indica várias coisas, dentre elas, que não sabemos cuidar do dinheiro suficientemente.

Não é à toa, portanto, que o interesse pelo assunto normalmente só surja quando há uma necessidade real, seja por uma emergência financeira ou desejo de realizar um sonho. Indiferente da motivação, a primeira lição é planejamento, consciência e paciência.

Afinal de contas: vale a pena fazer empréstimo? E financiamento? Quais são, afinal, as modalidades de crédito? E onde conseguir? O Jornal Midiamax separou explicações de vantagens das modalidades, valor do real e riscos nas taxações nos recursos.

 

Juros e o preço do dinheiro

Desde que o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central reduziu a taxa básica de juros Selic para 13,25% ao ano, o “preço do dinheiro” em operações de crédito como empréstimos, CDC, financiamentos e vários outros veio à tona.

Não foi por acaso. É que a Taxa Selic influencia todas essas operações. Como está alta, impacta diretamente no bolso de todos, principalmente pela inflação, que afeta até quem não quer dinheiro emprestado.

Nesse contexto, os juros básicos têm poder, inclusive, nas três operações de crédito mais utilizada no Brasil: o empréstimo, o financiamento e o arrendamento mercantil. Todos eles possuem taxação de juros, ou seja, o valor creditado terá cobrança porcentual no valor liberado. Conheça as principais modalidades.

 

O empréstimo consiste na liberação de recursos mais simples, juros mais altos em operações sem garantia. Os prazos, geralmente, são mais curtos e o consumidor usa o crédito como desejar.

  • Cheque especial – Linha de crédito oferecida pelos bancos, geralmente, em uma conta vinculada a conta-corrente. Precisa ser pré-aprovado, mas não necessário a garantia, pois tem limite. O maior problema dessa modalidade são os juros, que variam conforme o banco, podendo chegar a mais de 15,80% ao mês ou, 481% ao ano.
  • Empréstimo consignado – Tipo de empréstimo pago em parcelas, descontado na folha de pagamento ou de um benefício pago pela previdência social, como INSS. Entre os especialistas, é a modalidade que oferece menos riscos aos bancos e ao credor. As taxas de juros variam de 1,47% a 2,04% ao mês ou de 19,12% a 27,45% ao ano.
  • Empréstimo pessoal – Diferente do consignado, o pagamento das parcelas do empréstimo pessoal são de responsabilidade do consumidor, ou seja, não é descontado em folha e deve ser depositado até o vencimento da parcela – caso não, estará sujeito a juros e multas. A taxa média de juros chega a 9,69% ao mês. Por ser a mais comum entre os clientes, também é a “vilã” em maior número de inadimplentes.
  • CDC (Crédito Direto ao Consumidor) – É um tipo de financiamento oferecido pelo varejo, bancos ou instituições financeiras. Com essa modalidade é possível financiar produtos e pagar parcelado, por exemplo, uma compra em uma loja de roupa com o crediário da loja. Quando comparado a outras modalidades de crédito no mercado, o CDC não é burocrático e só analisa o CPF do interessado. As taxas variam de 4,6% a 5,7% ao mês.
  • Consórcio – Nesse caso é quando se quer adquirir um bem ou serviço de alto valor, por exemplo, um carro ou uma casa. Nessa modalidade, um grupo se une para comprar o item, gerido por uma empresa administradora de consórcios autorizados pelo Banco Central. Há um prazo de parcelas, valor, e possibilidade de sorteio e lances antecipando prestações.
  • Arrendamento mercantil/locação financeira – A modalidade é semelhante a um aluguel de um bem. A análise de crédito é mais detalhada que liberação do recurso. Os custos tendem a ser mais longos, pois o bem serve como uma garantia. Os prazos são mais curtos e, geralmente, ao fim da operação, é possível renovar o contrato, devolver o bem ou até comprá-lo.
Comparativo de empréstimo e financiamento ao consumidor (Madu Livramento, Midiamax)

Prós e contras

Todas as modalidades são sugeridas quando bate um aperto financeiro ou não tem dinheiro à vista para pagar algo. Mas, alguns deles são mais benéficos.

A economista e educadora financeira Andreia Cambiaghi explica que o empréstimo consignado é a melhor forma de adquirir verba quando se está “apertado financeiramente”. Isso porque a modalidade costuma ter as menores cobranças de juros, já que o salário, normalmente de servidores públicos, é a garantia do pagamento e descontado na folha de pagamento.

 

Entretanto, a economista faz ressalvas quanto ao planejamento antes de firmar um empréstimo ou financiamento.

“O empréstimo consignado oferta vantagens, geralmente, empresas financeiras ou bancos têm garantia de recebimento, com isso, conseguem diminuir os juros mensais. Eu sempre falo para meus clientes que para fazer é preciso uma análise, um orçamento, mesmo sendo pessoal ou consignado, avaliar os prazos [de pagamento], em torno de 60 meses ou mais. Precisa avaliar se compensa. Às vezes, se fazer um ajuste no próprio orçamento e não precisa pegar empréstimo”, sugere.

A especialista continua pontuando que, além das taxas de juros, os parcelamentos podem virar uma “bola de neve”, visto que há acúmulo de juros, outras dívidas que somam ao mês e extrapolam o ganho mensal.

“Sempre indico fazer uma boa análise no orçamento mensal. Ao longo prazo, um empréstimo vai impactar o salário mensal da pessoa. O empréstimo, por exemplo, se quer comprar algo, o ideal é se programar, avaliar se daqui a dois ou cinco meses poderia pagar [à vista], em vez de pegar emprestado. Sempre avaliar as questões dos juros e pensar: para que vai fazer esse empréstimo?”

Segundo a economista, consultora financeira e corretora de seguros, Aline Moreira, empréstimos sem garantia nenhuma à instituição, por exemplo, o cartão de crédito ou cheque especial que libera o valor de forma mais rápida e sem necessidade de “caução”, como há no financiamento, o consumidor tem mais risco de se endividar.

“A última reunião do Copom, em agosto, reduziu finalmente a taxa básica de juros, a taxa Selic, de 0,5%, de 13,75 para 13,25%, essa é nossa ‘taxa mãe’, [pois] ela influencia tanto no crédito, para pegar o dinheiro, os juros cobrados no dinheiro emprestado, quanto de ganhar com ele, na aplicação”.

“Realizei meu sonho, mas estou endividada”

O Fies (Financiamento Estudantil) surgiu como uma porta de entrada para acadêmicos que queriam ingressar na universidade privada. O financiamento bancário faz vínculo com a universidade prestadora do serviço. Durante os estudos, os estudantes pagam parcela trimestral, os juros do financiamento.

Para quem assinou o contrato até 2017, as parcelas mensais são pagas após dois anos de formado. Para quem firmou contrato a partir de 2018, o pagamento deve ser feito após a formatura.

Formada em letras, Tainá Albuquerque, de 26 anos, assinou o contrato em 2016 e pagava rigorosamente as parcelas trimestrais, que na época eram de R$ 50. Ela trabalhava fora da área de formação e conseguia arcar com o gasto. Entretanto, após a formação e mesmo estando na área, diz que o que ganha não é suficiente.

“Foi muito fácil, fui na Caixa Econômica Federal, minha mãe foi minha fiadora e saímos com o contrato. Pago as parcelas hoje em dia, mas algumas em atraso, por mês são quase R$ 500, o que equivale a 1/3 do meu salário. Realizei meu sonho de me formar, de ter meu diploma, mas estou endividada até a velhice. Hoje em dia, se pensasse bem, não fazia. Esperaria mais um pouco e estudaria mais para um concurso público”.

Liquidação antecipada

Segundo o Banco Central, empréstimos e financiamentos podem ser quitados, total ou parcialmente, antes do prazo originalmente contratado por meio da chamada “liquidação antecipada”, com redução proporcional dos juros e demais encargos. Esse direito é assegurado pelo Código de Defesa do Consumidor.

Uma dica é avaliar bem o contrato, que deve informar claramente as regras aplicáveis a antecipação. A liquidação antecipada pode ser feita com recursos próprios, bem como por meio da transferência de recursos a partir de outro banco, procedimento conhecido como portabilidade de crédito.

Já a modalidade de arrendamento mercantil, possui um prazo mínimo de duração, que varia conforme a vida útil do produto. “Assim, se a liquidação da operação ocorrer antes desse prazo mínimo, a operação de leasing será considerada como de compra e venda a prazo, o que pode acarretar custos adicionais para o cliente”, indica o BC.

Dicas para aumentar chances de empréstimos

O mercado econômico tem mudado o sistema burocrático de liberação de empréstimos ou financiamentos. Apesar disso, há critérios que impedem, como restrição no CPF ou CNPJ, baixa movimentação de crédito pessoal e já ter um empréstimo ativo.

Para ter uma boa avaliação de crédito, as instituições bancárias avaliam o perfil do consumidor. Para aumentar as possibilidades de ter uma carta de empréstimo, algumas dicas valem:

  • Manter as contas em dia;
  • Movimentar a conta-corrente;
  • Simular contratação de crédito com bancos ou instituições.