O dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 18, em alta no mercado doméstico de câmbio, em dia marcado por valorização da moeda americana no exterior e avanço firme das taxas dos Treasuries mais longos. Com mínima a R$ 5,0302 e máxima a R$ 5,0759, a divisa fechou cotada a R$ 5,0545, valorização de 0,38%. Na semana, a moeda ainda acumula baixa de 0,67%, graças ao tombo de 1,01% na segunda-feira, 16. O real, que costuma apanhar mais em períodos de aversão ao risco, nesta quarta apresentou o melhor desempenho entre pares latino-americanos. Pesos colombiano e mexicano amargaram perdas superiores a 1%.
Segundo operadores, mais uma vez a formação da taxa de câmbio foi ditada pelo quadro externo, com as questões fiscais domésticas sendo apenas monitoradas. Aos temores relacionados aos desdobramentos geopolítico da guerra entre Israel e o grupo palestino Hamas se somam preocupações com a situação fiscal dos EUA, em meio ao ressurgimento do fantasma de paralisação da máquina pública (shutdown). Há risco de aumento de gastos com ajuda militar americana a Israel e, em um pior cenário, envolvimento direto dos EUA no conflito. O governo do Irã pediu aos países muçulmanos que lancem um embargo petrolífero a Israel em retaliação à explosão de um hospital na Faixa de Gaza. As cotações do petróleo voltaram a subir, com o contrato do tipo Brent para dezembro acima de US$ 91 o barril.
A força do dólar no exterior também deriva da perspectiva de que, após uma esperada pausa no aperto monetário em novembro, o Federal Reserve possa promover uma alta adicional dos juros em dezembro. Mesmo com integrantes do BC americano argumentando que a alta das taxas dos Treasuries representa aperto das condições financeiras e pode fazer o “trabalho sujo da política monetária”, é mantido o discurso de juros elevados por período prolongado. Divulgado à tarde, o livro Bege – sumário das condições econômicas elaborado pelo Fed – mostrou pouca ou nenhuma mudança no quadro da atividade.
O economista chefe da Western Asset, Adauto Lima, observa que dados recentes mais fortes de atividade nos EUA, que enfrentam déficit fiscal crescente, e questões técnicas de oferta e demanda de títulos estão por trás do estresse das taxas dos Treasuries. E a alta dos juros longos dos EUA, por sua vez, é a principal responsável pela depreciação das divisas emergentes. “Isso tem dominado o cenário. Ao contrário do que se poderia imaginar em momentos de aversão ao risco, quando há alocação em Treasuries e as taxas caem, vemos um movimento contrário”, diz Lima, observado que o avanço dos yields dos títulos americanos, que começou entre meados de julho e início de agosto, se intensificou em outubro.
Segundo Lima, diferentemente do que se observou na primeira onda de alta dos juros longos nos EUA, desta vez as moedas emergentes não apresentam o mesmo grau de depreciação. “Não é um movimento tão coordenado como foi lá trás. O real tem tido um desempenho na margem melhor, ajudado pela alta do petróleo e de outras commodities”, diz Lima, que ainda vê riscos de piora do humor lá fora, dada a “inconsistência fiscal” nos EUA, que pode se acentuar com “esforços de guerra”, e as incertezas sobre onde as taxas americanas vão se acomodar.
O presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou nesta quarta, em discurso em Tel-Aviv, que vai pedir ao Congresso americano que aprove um “pacote de defesa sem precedentes a Israel”, e enfatizou que os EUA vão apoiar o país até o fim da guerra. Resolução sugerida pelo Brasil no Conselho de Segurança da ONU que propunha “pausa humanitária” em Gaza para socorrer civis foi vetada pelos EUA. Em meio a impasse em torno da eleição de um novo presidente para a Câmara dos Representantes, o Congresso americano tem de aprovar o Orçamento Federal dos EUA até novembro para evitar uma paralisação parcial da máquina pública.