Usuários bloqueados podem agora acessar conteúdos de perfis públicos; especialistas se preocupam com privacidade e segurança
O X (ex-Twitter) atualizou a política de bloqueio de usuários. A mudança ainda não foi anunciada oficialmente pela rede social ou pelo seu CEO, Elon Musk, mas já foi notada por usuários nesta 2ª feira (4.nov.2024). A atualização permite que um usuário bloqueado em uma conta no X siga vendo as postagens públicas da conta que o restringiu. Entretanto, as interações –como curtidas, comentários e conversa por chat– seguirão restritas.
Com a atualização, quando um usuário bloqueia o outro, aparece a seguinte mensagem: “Você pode ver as postagens públicas de @exemplo, mas está bloqueado de interagir com ela. Você também não pode seguir ou enviar mensagens para @exemplo”, diz o novo alerta de bloqueio.
Anteriormente, o usuário recebia a informação: “@exemplo bloqueou você. Você está impedido de seguir @exemplo e de ver os tuítes de @exemplo“.
PRIVACIDADE EM RISCO
A mudança na política de bloqueio no X preocupa especialistas consultados pelo Poder360, que concordam que a mudança traz preocupações sobre privacidade, segurança on-line e o uso inadequado dessas ferramentas contra indivíduos que são alvo de perseguição e assédio, mesmo sem interação.
A advogada especialista em direito digital Marina Lucena argumenta que, embora a transparência seja um objetivo, a medida desconsidera o direito do usuário de controlar quem visualiza seu conteúdo. A ausência de uma opção para restringir totalmente a visualização de conteúdo, para contas bloqueadas, representa um desequilíbrio potencial, criando uma maior vulnerabilidade. “A plataforma desconsidera a liberdade e o direito do consumidor de gerenciar quem visualiza suas publicações”, disse.
A advogada Luiza de Almeida Wanderley, também especialista em direito digital, complementa a crítica à falta de segurança do recurso de bloqueio. Ela afirma que o recurso agora não é eficaz contra assédio on-line e perseguições, o que desconsidera a necessidade de segurança para indivíduos e figuras públicas. “Fato é que, quem deseja perseguir alguém no ambiente virtual não é impedido por um simples bloqueio, dado que é possível apenas criar outra conta que ainda não foi bloqueada”.
Daniel Blanck, afirma que a decisão do X pode provocar potenciais violações à privacidade e à segurança digital. Ele afirma que a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) e o Marco Civil da Internet, que asseguram o controle e a privacidade dos dados e interações dos usuários na internet, podem ser afetados.
“A exposição forçada de postagens públicas para contas bloqueadas pode ser vista como uma violação desses princípios, especialmente se o usuário entender que esse conteúdo, ainda que público, deveria estar restrito conforme sua decisão de bloqueio”, disse o advogado.