Nossos mortos

por Helio Carlos Mello

O antropólogo Adelino Mendez, em rede, diz que “nossos índios” é expressão vazia, pois nunca o foram. Com um pouco de veneno e açúcar, chamamos crianças e idosos para se deliciarem até a morte, diz, sobre os Timbiras. Milhões morreram na sevícia, então passamos a chamá-los de nossos índios.

As sociedades ameríndias vêm sendo devastadas desde 1492, quando, fala-se, Cristóvão Colombo aportou. Depois foi Pedro Álvares Cabral, aqui, em 1500, e seguiu-se a primeira missa. 

Curumim não seria mais rei, falta fumo aos pajés desde de então, e as cunhãs já formaram nossa nação, tão diversa, magnífica, espúria, perversa. Mas seguimos na linha histórica, na beira das águas, semeando a barbárie, orgulhosos de um futuro que não apruma.

Penso que só sabemos viver melhor assim, no esquecimento, íntimos falsos altares, nossas sombras mesmo. Nossos índios são nossos mortos, afirmava Edilson Martins, em 1978, a destruição sistemática, os últimos Passos da Cruz do aborígene brasileiro, como observara à época, Antônio Callado.

Lago de nossa dor? Não, não existe amor no que não se vê, palácios de fidúcias invadem, labirinto, nossos caldeirões. Morre cacique, morre pajé, morrem cunhãs. 

As águas são o manto, nossa prece, nosso luto.

imagens por helio carlos mello©

Fonte: Jornalistas Livres