UFGD diz que estuda atendimento diferenciado para alunos das aldeias de Dourados
Programadas para a dia 3 de agosto, as aulas remotas da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) podem deixar de fora 428 alunos indígenas que não tem computadores e nem acesso à internet. A denuncia faz parte de um manifesto entregue à reitoria da instituição.
A possibilidade de exclusão, segundo a organização “Mulheres Guarani e Kaiowá Kuñangue Aty Guasu”, é real e pode trazer consequências irreparáveis para os alunos indígenas das aldeias Bororó, Jaguapirú e Panambizinho, que integram os mais de 18 mil habitantes da Reserva Federal.
Segundo a estudante de Antropologia da UFGD, Jaqueline Kuña Aranduhá, os apelos para que a universidade reconsidere a decisão, não estão sendo ouvidos pelos gestores. Conforme ela, a reitora parece não estar levando em consideração a pandemia e muito menos o momento de colapso na saúde pública que vive Dourados e o estado de Mato Grosso do Sul.
A estudante relata que as dificuldades enfrentadas pelos indígenas são muitas e que com a pandemia, a situação ficou ainda pior. “A UFGD está há alguns quilômetros da Reserva Indígena mais populosa do Estado com casos positivos de CoronaVírus mais alto do estado, e já com dois óbitos, é uma violência extrema a reitora não considerar o momento grave em que vive o nosso povo”, comenta a indígena.
No entendimento de Jaqueline, a falta de internet, em plena pandemia só deixa o nosso povo ainda mais exposto ao vírus, e as aulas remotas da UFGD, irão fazer com que acadêmicos saiam de suas casas em busca condições para cumprir as exigências, sob o risco ampliar a contaminação nas aldeias.
Na tentativa de pressionar a reitoria da UFGD e também com o objetivo de chamar a atenção das autoridades, as lideranças indígenas prepararam um manifesto à sociedade. “Somos um povo em território ameaçados e sofrendo uma extrema violência com negação de direitos do estado com a chegada da Pandemia, uma doença que não tem cura, que mata, quais as condições que a UFGD oferece aos acadêmicos indígenas para cumprir as aulas remotas?”, questiona a estudante.
Versão da UFGD
A reitoria da UFGD informou que o atendimento aos indígenas poderá ser feito de modo diferenciado. Mesmo com a possibilidade de abrir laboratório na Unidade I, o objetivo da instituição nesse momento é oferecer um cuidado maior com o indígenas que estão na aldeia e que deve se pronunciar oficialmente sobre o manifesto das lideranças.
Além disso, a UFGD ressaltou que a proposta de aulas remotas foi recebida pela comunidade acadêmica que tem aderido às matrículas e que o formato adotado segue as orientações das autoridades de saúde e órgão reguladores sobre manter o distanciamento social.
Manifesto
Nos, Conselhos Tradicionais Guarani e Kaiowá, Aty Guasu, Kuñangue Aty Guasu e Retomada Aty Jovem, viemos por meio desta nos manifestar contra à Portaria RTR n. 367 de 29 de junho de 2020 e Resolução CEPEC – Regulamento e calendário PG Emergencial.
O retorno das aulas remotas da Universidade Federal Da Grande Dourados/MS, não considera as condições dos acadêmicos (as) indígenas, há uma grande desigualdade de condições para o acesso e permanência.
A atual reitora da UFGD ameaça e viola o direito dos Povos Guarani e Kaiowá, pois os mesmos para ter acesso às aulas/atividades remotas da UFGD, terão que sair de suas casas em busca de conexão de internet expondo seus corpos à pandemia, terão que se deslocar para o espaço urbano ou local mais próximo que tenha wi-fi, correndo o risco de serem infectados por essa doença que ainda não tem cura. O Coronavírus já avança com força nas comunidades Guarani e Kaiowá da Reserva Indígena de Dourados chegando à quase 200 casos e dois óbitos, e já se espalhou por outras comunidades Guarani e Kaiowá.
Exigimos que a Universidade Federal Da Grande Dourados acate o nosso pedido, pois nem a mesma terá condições de arcar com as consequências se os acadêmicos Guarani e Kaiowá forem infectados com o COVID-19.
Nós estamos há quatro meses, construindo e reconstruindo caminhos para impedir a expansão do vírus em nossa comunidade, nossa equipe de Ações Emergenciais Guarani e Kaiowá vem construindo barreiras sanitárias para impedir a circulação de pessoas de outros locais em nossas comunidades, não temos apoio do estado, somos nós lutando por nós, pela vida da nossa comunidade, de nossos filhos, pela vida do Povo Guarani e Kaiowá. Portanto essa decisão de voltar as aulas da UFGD, ameaça a nossa vida, a vida de nossos filhos, a vida de nossa comunidade.
Considere reitora, diretores (as) e coordenadores (as) da UFGD, a nossa vivência Guarani e Kaiowá é diferente de vocês que vivem em espaço urbano, somos um povo que vive em territórios indígenas, onde para os acadêmicos indígenas cumprir as aulas remotas sem a garantia do padrão de qualidade do ensino, o martírio em busca de internet e colocar o corpo a vida em risco frente a pandemia Coronavírus é grande, tomem conhecimento disso.
Estamos disponíveis para dialogar, mas que sejam encaminhamentos que respeite a nossa organização, o nosso povo Guarani e Kaiowá. Mais uma vez afirmamos que somos contra o retorno das aulas da UFGD.
Não é uma gripezinha, é a vida do nosso povo
Fonte: Midiamax